maternidade na Itália
DiárioSexto Sentido

Crônicas de uma mãe ítalo-brasileira

Já me perguntei várias vezes se ser mãe de classe média na Itália é algo comparável a ser mãe de uma estratificação social similar no Brasil.

Minha filha nasceu em Roma e como sempre vivemos no exterior noto as diferenças através dos relatos de amigas.

Algo comum entre nós é o prazer/dever de acompanhar nossos próprios filhos em atividades esportivas.

A prática, segundo os psicólogos, reforça vínculos, auxilia no desenvolvimento motor e facilita a socialização. Só esqueceram de acrescentar à lista que também aguça o nosso instinto de sobrevivência.

Acreditem. Cinco anos de aulas de natação enriquecem qualquer curriculum e valem mais do que um curso intensivo de coaching para aprimorar relações interpessoais.

Até o dia da inscrição de minha filha em uma escola de natação não imaginava que esse habitat pudesse produzir tão fielmente um microcosmo da sociedade.

Vamos por partes. Ali a gente encontra vários tipos de mães, pais e avós. Uma espécie de rali de seres humanos ferozes. Eu, inclusive!

A escola possui vestiários reservados para crianças pequenas e outros para maiores de dez anos de idade.

Na porta de cada um deles existem cartazes com letras gigantes especificando as regras, mas é claro que há sempre mães que se auto isentam do regulamento.

Assim como estacionariam em fila dupla justificando que não encontraram outra alternativa, invadem o vestiário esbanjando a autoridade de quem detém aquele imóvel por usucapião.

O vestiário é sempre palco de espetáculos e a protagonista é sempre aquele tipo de mãe que com intimidações apocalípticas obriga o filho a aceitar a ideia de colocar, mais uma vez, a asfixiante touca de silicone.

As crianças fazem ginástica e aquecimento e finalmente chega o momento da aula.

Os pais podem acompanhar os filhos de longe, atrás de um grande painel de vidro que isola a piscina da sala de espera.

Durante os 45 minutos de aula é fácil identificar mães com diferentes tipos de temperamento. Existe aquela apreensiva que não desgruda a mão do vidro, quase como uma cena do filme Ghost. Aquela que convenceu os tios e avós a suportarem a temperatura amazônica da escola de natação para guardarem na memória a imagem do próprio neto que ensaia suas primeiras braçadas.

Aquela que tenta fotografar os progressos da própria cria para, em seguida, contar para os parentes que seu filho terá um futuro promissor na natação.

Aquela com a bolsa repleta de acessórios inúteis, que não serviriam nem mesmo em caso de guerra nuclear, mas esqueceu a carteira e as moedas necessárias para utilizar as duchas.

Aquela que passa o tempo emitindo opiniões semi sérias sobre a origem e gravidade do catarro do próprio filho, atribuindo a culpa à natação!

Naquele ambiente, os ponteiros do relógio parecem rodar em câmera lenta, mas finalmente a aula de natação termina.

Aí vem a parte mais difícil, o momento da ducha e dos secadores de cabelo.

Obviamente, o número de chuveiros disponíveis é inferior aquele do exército de crianças que pingam a espera do próprio turno.

É nesse momento que os pais demonstram com habilidades atléticas, correndo como em uma maratona para inserir, antes dos adversários, a própria moeda de 20 centavos de euros no painel que aciona os chuveiros.

Em um inferno dantesco, crianças pulam dentro de poças de água. Pais procuram desesperados os cobre sapatos plásticos que as esposas esqueceram de comprar. Mães com mais de um filho fazem malabarismos para segurar o bebê enquanto ensaboam o filho mais velho.

Na hora do secador a história se repete e quem ganha é sempre aquela mãe que, precavida, joga em time mandando a avó ocupar antecipadamente o seu lugar debaixo do secador de parede. Incrível como senhoras de idade podem permanecer ali imóveis e impassíveis como uma estátua do MoMA.

Depois dessa prova de resistência chega o momento das crianças vestirem-se e voltarem para casa, mas não antes de fazer um lanchinho, que pode ser meio metro de pizza no caso na mãe precavida, ou uma maça no caso da mãe vegana que usa o resto da fruta para preparar adubos para suas plantas.

Ninguém se mexe da cadeira antes de esperar pelo menos dez minutos para se aclimatar e ao fundo você ouve um grito de uma mãe envolvida por um ataque de pânico ao ver seu filho suar.

Escola de natação, em qualquer lugar do mundo, é o verdadeiro lugar onde os pais testam os próprios limites e ampliam a própria capacidade de aceitação. Meditação é para os fracos!

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