Saborear

Eataly em São Paulo e alfabeto sucinto da gastronomia italiana

Sexta-feira passada, um assunto frequente entre as mães da escola que minha filha frequenta era o mais novo objeto do desejo das cozinheiras 2.0. Sem citar marcas, trata-se de uma espécie de robô multifuncional que promete preparar todas as refeições, substituindo dezenas de outros pequenos eletrodomésticos e facilitando a vida de muita gente na cozinha.

Depois de ler essa introdução, provavelmente estará perguntando-se o que essa parafernália digital tem a ver com o título desse post: a tão esperada inauguração da Eataly em São Paulo. Na minha modesta opinião, muito.

Me lembro de uma entrevista recente do escritor e alpinista italiano Mauro Corona, na qual ele comentava o quanto a sociedade de hoje é incapaz de exercer atividades manuais como escrever, espremer um limão, sovar massa de mão, lavar um prato.

Para cada uma dessas e de outras atividades dotamos as nossas casas de eletrodomésticos.

Muitos de nós perderam o prazer tátil de apreciar a consistência de uma farinha, a delícia olfativa de sentir o aroma de um bom vinho, azeite ou de uma folha de manjericão, de presentear o próprio olhar com a visão de um prato composto por verduras frescas e coloridas, de saborear uma receita depois de ter escolhido pessoalmente os seus ingredientes.

Além do fascínio de tudo aquilo que é made in Italy exerce nos estrangeiros, acredito que o que mais surpreenderá o público brasileiro que frequentará a Eataly será essa manualidade, a preservação de atividades artesanais e a defesa de produtos Slow Food, um mix que o marketing da Eataly sabe utilizar como ninguém.

Como não admirar quem transforma, diante dos olhos dos clientes, ovos, sal e farinha em fetttuccine ou, como em uma mágica, do leite consegue materializar uma autêntica mozzarella di bufala?

Aqui na Itália um dos lemas da Eataly é La vita è troppo breve per mangiare e bere male (A vida é muito curta para comer e beber mal), mas é claro que declinada à realidade brasileira, essa máxima terá um preço.

O que realmente espero é que a inauguração desse espaço não represente, simplesmente, mais um templo do consumo elitário, mas que consiga divulgar para o público brasileiro os conceitos fundamentais da dieta mediterrânea, patrimônio imaterial da humanidade.

Para quem visitará a loja ou simplesmente, para aqueles que desejam saber um pouco mais sobre alimentação italiana, elaborei um pequeno glossário com alguns dos principais produtos ou características da gastronomia desse país:

Glossário sintético da gastronomia italiana

A: alici, acciughe: anchovas. As mais famosas são aquelas de Cetara, na Costa Amalfitana.

B: balsâmico, como aceto balsamico, o vinagre originário da cidade de Modena, no norte da Itália. B de basilico (manjericão), um dos símbolos da gastronomia italiana, b de birra (cerveja) artesanal, de bottarga, ingrediente realizado a partir da prensa das ovas de atum ou tainha, curadas e secas ao sol.

C: caffè, rigorosamente espresso, ou como base para outras bebidas como o cappuccino, C de carciofini, alcachofrinhas usadas como antipasto (entrada), C de caramelle (balas), de carasau, como o páo típico da Sardenha, c de capperi (alcaparras)

D: de al dente, a modalidade de cozimento do macarrão

E: erbe (temperos) como tomilho, louro, sálvia, manjericão.

F: farine (farinhas) de todos os tipos, F de formaggio (queijo) como o Parmigiano Reggiano

G: de gamberi (camarões), Grana Padano (o famoso queijo), de gorgonzola, guanciale (a bochecha do porco), o principal ingrediente do molho all´amatriciana, G de gelato (sorvete)

M: de mortadella, de mozzarella di bufala

O: de olive (azeitonas) que dão origem ao azeite, uma das bases da cozinha italiana, de orecchiette (macarrão típico da Puglia)

P: de prosciutto (presunto), de piadina (comida de estrada típica da região da Emilia Romagna), de pecorino (queijo a base de leite de ovelhas), de pancetta, de pistacchio (pistache), de porcini (cogumelos), de pesto, de pizza…

R: de risotto, de radicchio (repolho roxo), de ragù

S: de spaghetti, claro!

T: de tonno (atum), de tagliolini, de tiramisù

V: de vongole (amêijoas) , de vino (vinho)

Z: de zafferano (açafrão)

Nota

Esse blog não possui qualquer tipo de vínculo comercial com a empresa citada no texto e não recebeu nenhum tipo de remuneração ou patrocínio pela escrita e publicação deste post.

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