Roma Città Aperta
Diário

25 de abril: Roma ainda é uma “cidade aberta”

Explicar a importância do feriado de 25 de abril para os italianos é como justificar a relevância do dia 7 de setembro para os brasileiros.

Fiquei pensando em como abordar esse tema sem recorrer a um longo excursus histórico e achei que poderia começar com um clássico da literatura italiana que li recentemente: o livro de memórias “Se questo è un uomo” (Se isto é um homem), de Primo Levi.

Judeu italiano e recém formado em Química, Levi foi deportado para Auschwitz no início de 1944 e, assim como milhares de cidadãos, viu sua própria identidade negada.

Sua obra representa a tentativa de narrar o inenarrável; a atrocidade do lager, a violência gratuita dos nazistas, de homens anulados que o autor define como “fantoches rígidos feitos somente de ossos”.

No dia 25 de abril a Itália comemora a libertação do país que, até 1945, foi ocupado por tropas nazistas. Hoje a nação faz parte do G8 e é considerada um país de primeiro mundo, mas em passado recente viveu algumas das maiores tragédias de sua história.

Em plena Segunda Guerra Mundial, durante o auge das conquistas militares alemãs, Mussolini decidiu aliar-se com Hitler.

Para quem estiver de passagem por Roma e for até a Piazza Venezia, vale a pena lembrar que ali fica a famosa sacada de Palazzo Venezia, da qual Benito Mussolini declarou Guerra à França e ao Reino Unido em 1940.

O seu apogeu, no entanto, foi contestado. Devido aos seus contínuos fracassos militares, teve sua liderança repudiada. Foi destituído do poder e preso. Hitler, no entanto, ajudou o líder italiano a fugir e, em seguida, a criar a República Social Italiana no norte do país.

Em 1944, o rei Vittorio Emanuele III arrende-se aos Aliados e declara guerra à Alemanha, que apoiara anteriormente.

Iniciou-se, assim, um período dramático para o país, caracterizado por um movimento de resistência contra os alemães e a uma verdadeira guerra civil entre os gerrilheiros “partigiani” e os combatentes da República Social de Mussolini.

Para saber mais sobre os “partigiani” e a chamada “Resistenza”, não deixem de ler esse post sobre o Museo della Liberazione, em Roma, que conta sobre o movimento armado de oposição ao fascismo e à ocupação da Italia pelos nazistas.

Os italianos estavam desorientados. A partir de 1943 as tropas aliadas desembarcaram na Sicília, mas ninguém sabia com certeza quando e se os americanos conseguiriam liberar o país da ocupação nazista. Muitos ouviam, escondidos, as notícias transmitidas pela Radio Londra para tentar entender o que estava acontecendo.

O dramaturgo Ascanio Celestini escreveu um livro incrível sobre esse assunto no qual ele diz algo como: “meu pai tinha oito anos quando, no dia 4 de junho de 1944, viu alguns soldados parados no Arco de Travertino. Ninguém sabia ao cerrto de qual exército se tratava. Alguns pensavam que, finalmente, os americanos tivessem chegado. Outros achavam que ainda se tratasse de alemães, enquanto outros temiam que fossem alemães vestidos de americanos”.

Com a escassez de comida e os bombardamentos, muitas pessoas transferiram-se para a província de Roma, onde era possível encontrar com mais facilidade quem sobrevivesse graças a um horto próprio e protegendo-se em zonas montuosas.

Para liberar cidades como Roma com os bombardamentos, muitos civis perderam a própria vida.

Foram anos doloridos para a Itália e quem assistiu ao filme “Duas Mulheres” (La Ciocciara), com Sophia Loren, sabe disso. Esse filme conta a história de uma mãe uma filha que aguardam a chegada das tropas aliadas, mas no percurso de volta para Roma, ambas são estupradas por soldados.

Outro filme italiano que retrata essa página da história é “Roma cidade aberta”, de Roberto Rossellini. O filme acabou de ser restaurado e  70 salas de cinema do país (três da capital) estarão exibindo-o novamente, até o dia 25 de abril, às segundas e terças-feiras. Algum de vocês lembra da famosa cena na qual a atriz Anna Magnani é metralhada pelas ruas da capital?

O dia 25 de abril é uma data repleta de significados para os italianos. Além do fim da ocupação nazista, marca principalmente a vitória do movimento de Resistenza, de centenas de jovens, de pessoas comuns que lutaram para construir uma pátria livre. Um espírito em falta hoje em dia.

Para saber mais sobre essa data, não deixe de ouvir o nosso podcast:

Ascolta “25 de abril na Itália” su Spreaker.

This article has 2 comments

  1. Mariana G.

    Gostei mto do post, acho bacana quando se pode misturar turismo e história, ainda mais uma tão recente qto essa… fiquei bem interessada em conhecer o Museo della Liberazione, é fácil chegar lá?

  2. Anelise Sanchez

    Ficamos felizes! E bem fácil chegar la. A parada mais próxima do metro é aquela da linha A, chamada Manzoni
    Via Tasso é uma rua muito importante e todo mundo conhece.
    Abs

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