Roma com lentidão, emoldurada pela janela de um trem, por apenas 1,50 €

Para quem não tem pressa, conhecer Roma a bordo do “tram 19”, o trem elétrico número 19, é uma boa pedida. Porque? Antes de mais nada, comprando o B.I.T, a passagem válida para os meios de transporte públicos da capital, por 1,50 euros você atravessa diversos pontos interessantes da cidade eterna.

Além disso, evita a aglomeração dos clássicos ônibus turísticos de dois andares (hop-on hop-off tours) e vivencia, pessoalmente, o cotidiano de muitos romanos. Provavelmente, cruzará com estudantes, senhoras que voltam para casa depois das compras, imigrantes e profissionais que vão ou retornam do trabalho.

O trem 19 percorre Roma desde a periferia, no bairro de Centocelle, até Piazza Risorgimento, nos arredores do Vaticano.  O seu percurso completo dura cerca de uma hora e meia porque o trem para, obrigatoriamente, em todas os pontos previstos durante o trajeto.

A minha sugestão é que você pegue o trem elétrico na Piazza di Porta Maggiore, nos arredores da estação Termini, assegurando-que a sua direção seja “Piazza Risorgimento”, como evidenciado nos letreiros digitais do trem. Porta Maggiore era uma das portas das “muralhas aurelianas” e encontra-se no local onde convergiam oito dos onze antigos aquedutos que transportavam água até à cidade eterna. Observe com atenção, ao lado da porta, os vestígios de um momumento formado por colunas e uma parede repleta de grandes orifícios.

No final do I século a.C, quando o essa parte de Roma era periférica e ainda existia uma lei que proibia a existência de túmulos dentro da área delimitada pelas “muralhas aurelianas”, um homem chamado Eurisace, um rico padeiro, decidiu contruir ali o próprio túmulo de família.

Reparem que a estrutura relembra as “bocas” de um forno e os recipentes usados para conter a farinha. As figuras em alto relevo fazem alusão a costumes como a pesagem do trigo, ao ato de peneirar a farinha e sovar o pão. Da Porta Maggiore, o trem segue o seu percurso por San Lorenzo, um dos bairros romanos que mais sofreram com os bombardamentos da Segunda Guerra Mundial, hoje ocupado, principalmente, por estudantes.

Em seguida, passa pelo Piazzale del Verano, no qual encontra-se o homônimo cemitério monumental, e diante do campus da famosa universidade La Sapienza. Continuando o seu percurso, passará no Viale Regina Elena, sede de um dos maiores hospitais da capital, e chegará ao cruzamento entre Viale Regina Margherita e Via Nomentana.

Ali encontra-se uma das últimas obras de Michelangelo: Porta Pia, encomendada ao artista por Papa Pio IV e construída entre 1561 e 1565. Porta Pia entrou para a história porque foi cenário de uma batalha conhecida como “Presa di Roma” quando, em 1870, trupas italianas lutaram contra aquelas pontifícias, anexando Roma ao Regno d’Italia e determinando o fim do Estado Pontifício e do poder temporal do Papa sobre a cidade.

As próximas paradas serão Piazza Buenos Aires e Viale Liegi, em Parioli, um dos bairros mais elegantes da capital, sede do Bioparco, o jardim zoológico de Roma, a Galleria Nazionale d’Arte Moderna e o Museo Nazionale Etrusco di Villa Giulia (na foto acima) e o seu rico acervo de antiguidades pré-romanas. 

Algumas de suas atrações mais preciosas são um cofre de bronze do século 4° que conservava um enxoval de casamento, um sarcófago do século 6° a.C que retrata um casal em um banquete na vida após a morte e um vaso faliscano pintado pela tribo italica sob influência etrusca. O trem passará diante do Ministério da Marinha e continuará o seu percurso até Viale delle Milizie até chegar ao seu ponto final, a Piazza Risorgimento, a poucos metros da Basílica de São Pedro e da Via Cola di Rienzo, uma dos lugares preferidos pelos romanos para compras.

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