Aprendendo com o ritmo de um novo outono na Itália

Chega mais um outono na Itália. Um outono insólito, não só do ponto de vista climático, já que em Roma o termômetro insiste em marcar mais de 25 graus.

Um outono precedido por férias de verão organizadas de última hora, sem muitas expectativas, a não ser aquela de rever pessoas queridas e de reconquistar um mínimo de normalidade.

Um outono projetado há meses, com o recomeço do ano letivo, mas que ainda caminha com passos lentos e cautelosos. Nesse outono pela metade, é quase como se o ritmo da natureza e aquele humano estivessem dessincronizados. Eles opõem resistência a uma nova rotina que cada um de nós ainda está metabolizando.

Cenas que se repetiam no final de setembro foram adiadas. Por enquanto, na capital vi poucas calçadas cobertas por folhas alaranjadas. Nem adolescentes que se abraçam afetuosamente ao se reencontrar na porta da escola, depois de meses de distância.

Nesse outono, a Itália não é a mesma. Os italianos não são os mesmos de sempre e engana-se quem continua associando esse povo a uma classe de indisciplinados.

Continuamos a nos cumprimentar a distância. A respeitar sinais adesivos colados no chão. A trabalhar em casa, quando possível, a entrar um por vez na farmácia. Tudo mudou. A nossa maneira de falar. De usar os espaços em comum. De nos relacionar. E mudanças, mesmo aquelas mínimas, como passar de um dia de verão a outro de outono, podem desorientar.

Sempre gostei de planejar o futuro, mas os últimos meses me ensinaram que a tendência de ter controle de tudo e de me auto impor regras e prazos é cáustico. É muito mais difícil reprimir a nossa presunção de infalibilidade do que ceder à transgressão de não agradar a qualquer custo.

E, pensando bem, encontrei um ponto de convergência entre o que percebi durante o período de confinamento e o outono italiano que está batendo em nossas portas.

Preciso respeitar um ritmo que é só meu, assim como a natureza só obedece ao seu.

Devo observar a natureza e aprender com ela, com as uvas protagonistas da vindima desse período do ano amadureceram gradualmente. Com os cogumelos que nascem em um terreno aparentemente infértil. Com as árvores, que nos parques, mostram toda a sua fragilidade, despindo-se das folhas supérfluas. Com o cálice de vinho que só libera os seus aromas para paladares que saibam apreciá-lo lentamente.

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