Viagem na história romana: o Altar da Paz com a realidade aumentada
Um de meus escritores italianos preferidos é Erri de Luca. Em seu último livro, – intitulado La natura esposta – li essa frase e pensei no imperador Augusto. Fu attesa l’ora del tramonto, per l’effetto di luce arrossata sopra il marmo. Prese aspetto di carne, le ombre mossero le forme. (Aguardava a ora do pôr do sol, pelo efeito da luz avermelhada sobre o mármore. Assumiu o aspecto de carne, as ombras moveram as formas).
Quando imagino a personificação do mármore o que me vem em mente é o Ara Pacis ou Altar da Paz, um dos monumentos mais importantes da antiga Roma.
Construído a partir de 13 a.C por ordem do Senado, o altar celebrava um período de paz e prosperidade no Mediterrâneo. O imperador Augusto havia acabado de voltar de uma expedição pacificadora na Gália e na Espanha.
Inicialmente, o monumento foi posicionado em área do Campo Marzio (Campo de Marte) na extremidade de uma grande meridiana. Essa posição estratégica foi estudada atentamente pois permitia que a sombra do obelisco alcançasse o altar no dia do aniversário do imperador.
Ara Pacis é considerada uma obra-prima da arquitetura romana. Se trata de um recinto quadrado de mármore de Carrara finamente decorado com cenas de devoção. O altar fica no interior desse recinto e era utilizado para sacrifícios quando era celebrado o aniversário de inauguração do monumento. Cada figura foi esculpida com maestria. Nas paredes do monumento encontramos, por exemplo, cenas como aquela de uma procissão na qual os membros da família imperial desfilam respeitam uma herarquia. Ou a figura de Lúcio, neto do imperador, agarrado à saia de sua mãe, Antonia.
Com um pouco de imaginação, observando os relevos é possível reviver mentalente momentos da Roma imperial e conhecer seus protagonistas: cidadãos que oferecem animais em sacifício, sacerdotes, homens com coroas de louro, mulheres que honram deuses. Ao longo dos séculos, essa maravilha de mármore acabou enterrada sob sedimentos, mas para a nossa sorte foi reconstruída durante anos e um trabalho de precisão para unir seus inúmeros fragmentos.
Agora, a partir do dia 14 de outubro, o museu que abriga o Altar da Paz deverá inaugurar a iniciativa L´Ara com´era. Os visitantes terão a chance de unir o passado e o futuro, contemplando o Ara Pacis com a tecnologia da realidade aumentada (Augmented Reality). Essa tecnologia permite que o mundo virtual seja misturado aquele real. Com o auxílio de um visor de realidade aumentada Samsung GearVR e a sua câmera, uma aplicação reconhecerá a tridimensionalidade dos relevos e das esculturas do Altar da Paz de Augusto.
Nessa experiência multisensorial, cada visitante sera convidado a realizar uma série de gestos e ações que o envolverão em uma atmosfera mágica. Sua visão sera invadida por personagens como cidadãos da antiga Roma prontos a celebrarem sacrifícios. Seus ouvidos poderão escutar sons similares aqueles do período imperial. Cada personagem da família de Augusto terá vida própria e conterá sua própria história com as vozes de famosos dubladores italianos. O mármore branco do monumento poderá ser visualizado em cores. Apesar de ser difícil de imaginar alguns dos principais monumentos da antiguidade sem a tonalidade branca, muitas delas foram originalmente pintadas em cores vivas e pigmentos orgânicos.