Corniglia. Cinque Terre de cartão postal
Vamos fazer de conta que você planejou detalhadamente a sua viagem até Cinque Terre. Estudou um itinerário e torceu desde o início para que o tempo fosse clemente.
Chegando na Ligúria, por onde começaria a sua aventura? Aposto que muitos leitores responderiam Vernazza ou Manarola e que Corniglia seria a “terra” no final da lista de prioridades. O último dia, aquele no qual já estamos com a cabeça projetada na volta para casa, reservamos para Corn…como era mesmo o nome? Corniglia! (A pronúncia em português é Cornilha)
Se você observar atenciosamente a linha ferroviária percorrida pela Trenitalia na região notará imediatamente que, entre as cinco, Corniglia é a terra do meio. De um lado ficam Vernazza e Monterosso al Mare. Do outro, Manarola e Riomaggiore.
Corniglia não possui um porto. É a única das Cinque Terre inacessível para os passeios turísticos de barco e por isso um pouco menos frequentada que as suas rivais mais badaladas. Eu não considero essa característica uma desvantagem. Muito pelo contrário.
Enquanto multidões tentam conquistar um lugar ao sol aproveite para curtir o terraço panorâmico de Santa Maria com a vista incrível de Manarola. De longe tudo é indistinto e, ao mesmo tempo, espetacular. Não é possível identificar ruas ou distinguir as casas centrais daquelas periféricas. Não conseguimos separar turistas de locais, os rostos sorridentes daqueles melancólicos.
O vilarejo fica no alto de um promontório e para chegar lá você tem duas escolhas. A primeira, para os mais audazes, é subir a Lardarina, uma escadaria com 33 rampas e 377 degraus. Pode não parecer muito, mas mesmo economizando fôlego, se a sua viagem coincidir com o ápice do verão italiano essa pode ser uma caminhada e tanto.
A segunda opção é para os mais preguiçosos. Depois de descer da estação de trem em Corniglia é possível utilizar a linha de ônibus que, entre uma curva e outra, leva os turistas até o centro do vilarejo. O trajeto é gratuito para quem possui o Cinque Terre Card, mas na alta estação confesso que não é fácil resistir ao ônibus lotado.
O burgo, de origem romana e mencionado no Decamerão, de Boccaccio, é muito gracioso. Sua rua principal é a Via Fieschi, sobrenome de uma família de origem genovesa. Ela é repleta de locais como cafeterias, sorveterias e lojas.
Uma das minhas butiques preferidas é a MG Cinque Terre (Via Fieschi, 45).
Passamos um bom tempo conversando com a Letizia e admirando o artesanato muito original e feito à mão por uma família de artistas. Uma das minhas peças preferidas é a anchova de cerâmica, um dos peixes símbolos do mar mediterrâneo.
Caminhando por suas ruas a sensação é que em Corniglia o turista tem mais espaço para circular e admirar as suas belezas. Quando o cansaço bater, você pode sentar-se na histórica Piazza del Largo Taragio e procurar frescor na Parrochia di San Pietro, decorada com a sua característica rosácea em mármore de Carrara, e visitar o oratório de Santa Catarina.
Quem se acontenta fica por ali. Os mais ousados enfrentam um percurso íngreme para chegar até Gùvano, famosa meta de naturalistas que no passado era atravessada pela linha ferroviária Gênova – La Spezia.
Antigamente a praia era acessível a pé através da galeria ferroviária desativada. Seja qual for a sua escolha, em qualquer lugar Corniglia você se sentirá o protagonista de um cartão postal.