O preço da cultura: confronto entre Brasil e Itália

Antes que o aperto econômico afligisse o Brasil, o país registrou um período consistente de indicadores econômicos positivos. Progresso quase sempre é sinônimo de avanços sociais, mas será que isso comportou a democratização do acesso à cultura? O tema desse post é a acentuada diferença entre os hábitos de consumo cultural dos italianos e brasileiros.

Apesar de o IBGE ter divulgado, em 2015, dados entusiasmantes como o aumento de cidades brasileiras dotados de uma biblioteca pública e a duplicação do número de municípios com unidades de ensino superior, a minha percepção é que a cultura ainda continua sendo um item de luxo no Brasil.

Na Itália, em geral, a possibilidade de desfrutar de iniciativas culturais é maior. Desde a semana passada, um anúncio radiofônico sublinha que na segunda quarta-feira do mês, o ingresso em uma das 3 mil salas de cinema da Itália custará dois euros. Em São Paulo, não pagava menos que 25 reais para uma matinê. Pelos dados divulgados aqui pela Unesco, o número de brasileiros que frequenta museus, espetáculos de dança ou exposições de arte é modesto e grande parte dos municípios brasileiros não possui salas de cinema, teatro, museus ou espaços culturais. A mesma organização também sublinha que o preço médio de um livro é elevado se comparado a renda do brasileiro das classes C, D e E.

Pensando na diferença de preços entre bens e serviços culturais na Itália e no Brasil, vou citar alguns exemplos para que os leitores do Post-Italy.com possam entender melhor a profundidade dessa lacuna. Aqui em Roma pago 1,50 por uma revista feminina vendida nas bancas de jornais. Em São Paulo me lembro que uma publicação similar custava entre 15 e 20 reais. 

Na capital italiana, o ingresso em vários museus é gratuito e quem quiser conhecer aqueles mais concorridos sem gastar sequer um euro pode esperar o primeiro domingo de cada mês. Nesse dia, apesar das filas, é possível visitar monumentos como o Coliseu, o Castel Sant´Angelo ou outros museus gratuitamente. Para estimular ainda mais o acesso dos jovens à cultura, desde 15 de setembro italianos com 18 anos de idade terão direito ao chamado bônus cultura. Cada jovem receberá 500 euros que poderá ser gasto em teatros, cinemas, concertos, livros, e-books, ingressos em museus, galerias, áreas arqueológicas e parques.

No que refere-se à leitura a situação é similar. Muitas livrarias italianas oferecem várias promoções e comprar ótimos títulos – inclusive os clássicos infantis – a menos de 10 euros é possível. No caso dos teatros, muitos italianos acabam optando pela carteirinha anual que dá direito a assistir todos os espetáculos em cartaz, em determinados dias e horários. O custo médio dessa tipologia de serviço é de 150 euros por ano. Já os ingressos para shows é, em média, de 30 euros ou superior, dependendo da tipologia de assento escolhido.

O acesso à Internet também é um capítulo importante. Na Itália, a assinatura de um pacote que inclui conexão ilimitada, via fibra ótica, com velocidade de até 100 Mb/s e telefonemas ilimitados pagando cerca de 90 euros por bimestre. Claro que aqui também existe um gap entre o norte e o sul do país e que a crise econômica europeia atingiu profundamente o consumo cultural dos italianos. O dado positivo, segundo os números da associação Federcultura, é que em 2014, depois de 2 anos de redução drástica, os gastos (ou investimentos) culturais das famílias aumentaram cerca de 2%. Crescimento nem sempre caminha lado a lado com o progresso e a distribuição da riqueza.