Sexto Sentido

Fuori posto. Ou, sentir-se inadequado ao narrar uma “outra Itália”

Fuori posto. Aposto que pelo menos uma vez na vida você já deve ter se sentido a pessoa certa no lugar errado ou a pessoa errada no lugar certo.

Principalmente durante a adolescência, é comum adotar inconscientemente estratégias que nos encaixem perfeitamente em determinado papel. Tudo para conquistar a aprovação alheia.

Há quem em público se mostre autoconfiante para esconder a própria insegurança, traindo a própria essência. Quem esboce um sorriso quando dentro chora. Quem grite aos quatro ventos que sabe bem qual é a sua missão no mundo, mesmo não se sentindo à altura de qualquer objetivo. Quem enjaule qualidades ou defeitos demasiados vistosos para não serem taxados de inadequados.

É muito mais simples tomar decisões que satisfaçam a sociedade, mesmo quando elas não coincidem com as nossas aspirações pessoais.

Quem assistiu o filme “Ecce Bombo”, de Nanni Moretti, e o dilema de ir ou não ir a uma festa deve se lembrar de uma frase que virou um meme: “Sou mais notado se for e ficar afastado ou se eu não for?”

A minha história com a Itália começou quando esse país ainda não era uma meta tão sonhada pelos brasileiros. Hoje, mais de 50 mil vivem no Belpaese, mas duas décadas atrás, quando estudava italiano, me perguntavam qual seria a utilidade de aprender uma língua falada em uma única nação.

Quando decidi expatriar e me inscrever em uma pós-graduação em Roma, me diziam que seria muito mais oportuno investir em alta formação em países com mais chances de carreira e crescimento profissional, como os Estados Unidos ou Canadá.

Realmente, se o critério para uma mudança de vida fosse unicamente aquele econômico, mais uma vez deveria me considerar no lugar errado.

Digamos que, de uma certa maneira, segui na contramão. Chegando na Itália criei um blog quando poucos, nesse país, conheciam o significado e a utilidade dessa ferramenta que anos depois teria se tornado o precursor de um grande partido político italiano.

Há anos escrevo sobre viagens e turismo na Itália, tentando compartilhar conteúdo que inspire, emocione, provoque, gere reflexões.

Gosto de narrar histórias não só de lugares, mas de pessoas, de iniciativas que gerem bem-estar social e que talvez possam ser replicadas em outras partes do mundo. Só que nem sempre é fácil alcançar esse objetivo quando é preciso obedecer as regras de número máximo de caracteres, segundos, uso de hashtags, formatos.

Não é todo pensamento que pode ser traduzido em fórmulas, em Reels que viralizam. Mais uma vez sigo na contramão e tenho refletido bastante sobre o significado de produzir conteúdo, sobre narrar.

Tem que fazer sentido para mim porque não vejo nenhuma graça em copiar ou propor conteúdos idênticos aos de outros creators. Acho que por um bom tempo ainda vou continuar e sentindo fuori posto. Como esse templo gótico que você não espera encontrar em um parque romano.   

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *