Itália adota novas medidas para conter avanço do coronavírus
Domingo, 18 de outubro. Pouco mais de 60 milhões de italianos aguardam ansiosamente o pronunciamento do premiê Giuseppe Conte, previsto para às 21h30.
Nos principais veículos de imprensa do país, as indiscrições sobre prováveis medidas mais rigorosas para conter o novo avanço da pandemia são contínuas. Hipóteses de restrições são declaradas e desmentidas. Criadas e reduzidas a pó com a mesma velocidade da lâmina de um liquidificador. O que é mais eficaz na contenção do vírus?
Potencialização do smart working + fechamento antecipado de bares e restaurantes + ingresso em horários diferenciados nas escolas? Ou proibição de atividades esportivas, didática à distância + instituição de zonas vermelhas localizadas? Não há quem não titubeie antes de assumir uma posição ou de arriscar uma resposta definitiva.
O mesmo vale para a probabilidade de um novo lockdown, uma palavra que por ser tão temida está sendo gradualmente substituída por expressões como “medida de contenção”.
A sensação é que, na busca por em equilíbrio entre as exigências do comitê técnico científico a e a compreensível preocupação, falte uma bússola. Um instrumento para orientar médicos, professores, cidadãos comuns.
Entre as principais medidas anunciadas pelo premiê estão o número máximo de seis pessoas em cada mesa nos restaurantes, a proibição de consumir bebidas fora de bares e cafeterias depois das 18h, a possibilidade que prefeitos decidam autonomamente o eventual fechamento de ruas e praças para evitar aglomerações e um incentivo ao aumento do smart working. Além disso, escolas de segundo grau poderão adotar aulas presenciais na parte da tarde e academias terão uma semana de tempo para adequar-se definitivamente à novas regras de segurança. Também foram interrompidos os esportes de contato.
Depois de uma trégua só aparente, durante o verão, a Europa está enfrentando a chamada “segunda onda” de Covid-19. O novo ataque era esperado e previsível, mas provavelmente subestimamos o potencial do inimigo. E talvez tenhamos arquivado rapidamente imagens como aquela dos caminhões militares de Bergamo.
No dia 20 de outubro foram registrados no país 16.079 novos casos de coronavírus e 136 óbitos. Até agora, cerca de 8% das pessoas que realizam o teste são positivas.
Iniciamos o ano letivo com a intenção de garantir aulas presenciais, mas dia sim, dia não, pais e alunos recebem o aviso de uma nova classe em quarentena, por precaução. Ou uma contraordem. Alarme falso. Voltem a ocupar as carteiras.
Na região da Campânia as escolas foram fechadas até 30 de outubro. E em metrópoles como Roma o sistema de transporte público e não as escolas, onde os índices de contágio permanecem baixos, é o grande vilão. Impossível manter o distanciamento quando a regularidade e pontualidade do serviço são discutíveis.
Com os números que crescem diariamente, a ideia de privilegiar a didática presencial – grande bandeira do governo – está constantemente ameaçada.
Vale lembrar que mesmo no “primeiro mundo” ainda existe o digital divide e que nem todos possuem condições financeiras para comprar um laptop e assistir aulas on-line. Muitas escolas estão emprestando tablets aos alunos, mas vale sublinhar que em diversos bairros periféricos a escola em presença é mais do que uma instituição educacional. É a única alternativa à máfia, à criminalidade.
Na capital, as cenas de longas filas diante dos pontos Drive-in Covid, onde são realizados testes para confirmar a positividade ao vírus, são cada vez mais frequentes. Horas de espera e lentidão nas respostas. E uma parte de população, aquela mais frágil, que não possui um veículo, com dificuldades para realizar um teste em ambiente domiciliar.
Enquanto isso, a possibilidade de recorrer ao MES (Mecanismo Europeu de Solidariedade), um financiamento europeu para novos investimentos no sistema de saúde público continua sendo um tema tabu. Uma batalha política entre quem defende o uso desse recurso e quem rechaça a proposta, temendo um endividamento e o risco de comprometer o futuro das próximas gerações.
Ainda é cedo para fazer um balanço, mas o que as estatísticas nos mostraram até agora é que a pandemia aumentou significativamente um abisso social e que muitas feridas permanecem abertas.
Aquelas de quem foi drasticamente excluído do mercado de trabalho. Aquelas de quem não foi totalmente curado. Ou aquelas de quem teve os próprios sonhos sufocados ou continua se sentindo isolado.
Por enquanto o governo descarta a possibilidade de um novo confinamento. Pede responsabilidade, contando com o bom senso de cada. Existe no ar a consciência que estamos cansados e de que o peso psicológico de um novo lockdown, mesmo chamado com outro nome, é insuportável. E acredito que o mesmo vale para o Brasil ou o resto do mundo.
Mais do que nunca, cada gesto, cada decisão nossa têm um impacto planetário. Estamos indissoluvelmente conectados por um fio invisível. E não é possível salvar a si mesmo sem pensar no coletivo.