Poesia de mármore: Moisés de Michelangelo em Roma
A famosa estátua do Moisés esculpida por Michelangelo para decorar o túmulo do Papa Júlio II (Giuliano della Rovere) é uma das obras mais intrigantes do artista.
Muitas personalidades dedicaram tempo e usaram o raciocínio ou a intuição para tentar decifrar os elementos iconográficos que identificam a escultura. Sigmund Freud foi um deles. Durante a sua permanência em Roma o psicanalista afirmou que nenhuma outra estátua foi capaz de impressioná-lo tanto. Durante vários dias estudou a sua postura e os seus “movimentos”, como aquele de quem toca com os dedos a própria barba.
O cineasta Michelangelo Antonioni também foi atormentado pela figura do Moisés. Mesmo com idade avançada, Antonioni produziu o curta-metragem “Lo sguardo di Michelangelo” (O olhar de Michelangelo).
Moisés é apenas uma das esculturas do monumento funerário de Júlio II (o projeto inicial previa 40 delas), mas sem dúvida a mais majestosa. Nada foi deixado ao acaso por Michelangelo. Muito pelo contrário. Cada detalhe do túmulo foi minuciosamente projetado para ser perfeitamente exposto à luz.
A iluminação era considerada um elemento indispensável para o artista. Originariamente, o monumento deveria ser colocado na Basílica de São Pedro, mas quando essa hipótese foi descartada a igreja substituta seria Santa Maria del Popolo. Michelangelo foi pessoalmente até o lugar de culto para conferir a sua arquitetura, mas mudou de ideia porque ali não encontrou a iluminação que precisava.
Logo em seguida decidiu que o cenário para o túmulo de Júlio II seria a igreja de San Pietro in Vincoli, situada a poucos metros do Coliseu. Ali, exigiu que no teto fosse aberto um grande arco na direção do coro dos frades. Essa estratégia permitiria que os raios de sol atingissem a parte posterior da estátua de Moisés, criando um efeito que hoje seria considerado “tridimensional”.
O Moisés foi esculpido com o olhar na direção da janela à sua esquerda e a sua testa era iluminada por raios de sol que simbolizariam a salvação. Infelizmente, o genial projeto do artista italiano foi alterado com o tempo. A janela à direita foi fechada e aquela do lado oposto ampliada, incidindo totalmente no projeto de iluminação inicial.
Um grande maestro merece que o seu talento continue sendo reconhecido e inspirando gerações futuras. Foi por esse motivo que o complexo de esculturas do túmulo de Júlio II foi o destinatário de um vanguardista projeto de iluminação. Graças ao trabalho do arquiteto e restaurador Antonio Forcellino e de Mario Nanni – mais conhecido como o poeta da luz – romanos e turistas do mundo inteiro poderão conferir a “cenografia de mármore” imaginada por Michelangelo.
O projeto estudou a intensidade e as tonalidades da luz que invade a Basílica em diversos momentos do dia. Com várias lâmpadas a LED e programas computadorizados, os profissionais simularam perfeitamente a iluminação que entraria da janela caso ainda estivesse aberta. Reproduziram o jogo de luzes imaginado originariamente por Michelangelo criando um efeito que não deixe ninguém indiferente.
O monumento também foi restaurado e durante os trabalhos foi confirmada a tese que a estátua de Papa Júlio II e as esculturas intituladas Vita Attiva (à direita de Moisés) e Vita Contemplativa (à esquerda de Moisés) também são de autoria de Michelangelo. A nova iluminação deixa todos boquiabertos e o meu momento preferido é quando a luz alaranjada – típica de Roma nas tardes de primavera – invade o rosto de Moisés. Poesia pura e dura como o mármore.
Adoro a Italia , amante da arte : pinturas , esculturas,cultura , culinária, arquiteturas milenares .
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