Monterosso al Mare e a natureza que inspira homens e poesias
Monterosso al Mare foi o primeiro vilarejo de Cinque Terre que visitamos e o impacto foi mais do que gratificante.
Uma viagem de verão inesperada, uma brisa leve, o mar calmo, aroma de peixe frito no ar e o sol que se escondia no horizonte.
A cidade fica na beira noroeste de Cinque Terre e é um dos vilarejos com melhor acesso pela estrada. Se trata do último burgo que encontramos partindo de La Spezia e a distância entre as suas cidades é de aproximadamente 30 km.
O vilarejo é circundado por colinas e terraços com vista para o mar onde crescem árvores como oliveiras, parreiras e limoeiros. Observando a paisagem, o nosso respeito pelos agricultores locais só aumenta. Como não admirar quem, em vez de domar a natureza, reconciliou-se com ela, transformando pequenos lotes de terrenos íngremes em uma razão de viver? Do cio de terras aparentemente hostis nascem o azeite, o vinho.
Em Monterosso al Mare fica uma baía de areia que transforma as praias do burgo naquelas mais espaçosas de Cinque Terre. É para lá que você deve ir se quiser tomar sol e curtir uma praia, mas saiba que nem todos os espaços na areia são livres e se quiser comodidade precisará alugar guarda- sol e espreguiçadeiras.
Na praia de Fegina, em proximidade do pequeno porto de Monterosso, fica um monumento curioso. Se trata da estátua de Netuno chamada de “gigante” porque possui 14 metros de altura, apesar de ter sido danificada por bombardeios durante as guerras e pela corrosão provocada pelas marés.
De Monterosso também parte o Sentiero Azzurro, o percurso de trekking e com trechos panorâmicos entre Monterosso e Vernazza. É uma espécie de sacada com uma vista privilegiada do mar, suas enseadas e falésias que pode ser percorrida em cerca de duas horas.
Apesar do passar do tempo, Monterosso manteve os traços de burgo medieval. Você pode obsevar essa característica na da parte mais antiga do vilarejo. Até o século XVI o vilarejo possuia, por exemplo, cerca de treze torres.
Percorrer e perder-se em seus becos é a melhor maneira de explorar o vilarejo e em nossas andanças encontramos um grupo de brasileiros apaixonados pela Itália. Pessoalmente, me deixo guiar por aromas. Paro quando encontro um perfume culinário que me atrai. Além da tradicional focaccia, Monterosso é famosa pelas anchovas.
Na da Ligúria elas costumam ser chamadas de “pan do mâ” (pão de mar), porque são um dos alimentos mais consumidos por predadores marinhos e porque são onipresentes na gastronomia da região.
Poderia usar uma fila de adjetivos para descrever o vilarejo, mas não vou pecar por presunção.
Prefiro enaltecer a alma de Monterosso citando Eugenio Montale. O poeta italiano, prêmio Nobel em 1975, passava as suas férias de verão lá, durante toda a sua infância. Ninguém descreve com a sua delicadeza como ele as paisagens da Ligúria e para quem tiver interesse sugiro a obra poética Ossos de Sépia, também traduzida para o português e vendida no Brasil.
“Oh allora sballottati, come l’osso di seppia dalle ondate. Svanire a poco a poco; diventare
un albero rugoso o una pietra lievigata dal mare; nei colori
fondersi dei tramonti; sparir carne
per spicciare sorgente ebbra di sole,
dal sole divorata…”
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Anelise adoro seus textos e a visão poética que você consegue passar, levando o leitor a uma sensação do local. Bj querida!
Obrigada! Fico muito feliz! 🙂