Filhos de ninguém, filhos de todos: Museo degli Innocenti em Florença
Quando os dias para explorar uma cidade são poucos, é difícil fugir da maratona que prevê passagens rápidas de um monumento ao outro. No final do dia você volta para o seu hotel feliz por ter cumprido a sua check list, mas ressentido por não ter passado mais tempo na sua atração preferida.
Florença é uma das metas italianas preferidas dos brasileiros que, nessa cidade, consideram imperdíveis lugares como a Galleria degli Uffizi, Ponte Vecchio e a Piazza del Duomo. Concordo, mas é sempre bom saber que a capital da Toscana oferece inúmeras outras opções culturais, muitas delas com pouca ou nenhuma fila.
Uma maneira menos evidente de conhecer profundamente o patrimônio artístico florentino é conhecer o Museo degli Innocenti, localizado na Piazza SS. Annunziata. Há mais de seiscentos anos, esse lugar dedica-se à tutela dos direitos da infância, mas ao mesmo tempo é um edifício de enorme valor artístico e arquitetônico. Projetado por Filippo Brunelleschi – o mesmo autor da famosa cúpula da catedral de Florença– o local abriga obras de artistas como Ghirlandaio, Botticelli e Andrea della Robbia.
O complexo conhecido como Istituto degli Innocenti, do qual faz parte o museu homônimo, foi reformado por mais de três anos, mas é importante voltar no tempo para entender a importância desse lugar para Florença.
Desde 1419, quando começou a ser construído, a instituição prestou assistência a mais de 500 mil crianças, entre órfãos, filhos ilegítimos ou de famílias necessitadas. Por esse motivo, um sobrenome muito comum na cidade é Innocenti.
O passado de muitas vidas está profundamente unido a esse complexo. No período do Renascimento italiano, muitos recém nascidos foram abandonados, diante das portarias de conventos ou mosteiros de clausura sobre cavidades chamadas de rodas. Inicialmente, essa espécie de porta giratória servia como meio de comunicação com o mundo exterior ao convento ou para receber ofertas de alimentos, mas com o tempo passou a ser utilizada para salvar recém-nascidos.
Percorrer os principais ambientes do instituto é uma experiência inesquecível. Depois de conhecer o seu antigo refeitório e admirar antigas fotografias que documentam o dia-a-dia dos pequenos no interior do edifício, o visitante chega em um ambiente diante do qual é difícil não emocionar-se. Não por acaso, o museu possui um espaço no qual os visitantes deixam mensagens com as suas reflexões sobre a visita.
Um móvel com 140 gavetas guardam os objetos de um valor inestimável para as mães que abandonaram os próprios filhos diante do instituto. Moedas, medalhas, retalhos de tecido que foram deixados junto ao recém-nascido para permitir, quem sabe, a sua identificação no futuro. A cavidade que recebia os recém-nascidos foi fechada em 1875.
Um dos mais belos ambientes do complexo é o Cortile degli Uomini, pátio considerado um dos primeiros exemplos da arquitetura renascentista, uma igreja e a estrutura que hospedava os menores. Dali o percurso segue até ao centro artístico do museu e o seu concentrado de obras-primas e ao terraço que, no passado, era utilizado como lavanderia e atualmente é uma cafeteria com uma linda vista da cidade toscana. Para quem estiver com viagem marcada para Florença, esse é um passeio para acrescentar no roteiro.
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