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Qual sua profissão ou você é filho de quem?

Qualidade de vida na Itália. Como acontece todos os anos, acaba de ser publicado o ranking nacional com as cidades italianas que oferecem as melhores condições de bem-estar aos seus moradores.  

O estudo, promovido por Italia Oggi – Ital Communications, em parceira com a Sapienza Università de Roma, avalia critérios como negócios e trabalho, ambiente, segurança, instrução e formação, welfare, população, saúde, turismo, renda e riqueza.

Em sua vigésima sexta edição, a lista confirma o chamado “divario nord sud”, ou o histórico gap entre o norte e o sul do país.

Milão, capital da Lombardia, ocupa o vértice do ranking, seguida por Bolzano e pela província de Monza Brianza.

Ouros dados recentes que confirmam o protagonismo de Milão como capital econômica do país são os preços dos aluguéis na famosa Via Montenapoleone (a rua das boutiques de luxo), que superaram aqueles da Fifth Avenue, em New York, e o vertiginoso crescimento do mercado imobiliário local, cujos preços por metro quadrado cresceram cerca de 40% desde 2013.

As últimas classificadas são Caltanissetta (107°), Reggio Calabria (106°) e Agrigento (105°).

Há décadas a divisão entre norte e sul é tema de debates na Itália. O assunto ganhou o centro das discussões políticas com a recente lei da “autonomia diferenciada”.

A norma prevê as modalidades por meio das quais as regiões (equivalentes aos estados) deverão administrar setores estratégicos até então de competência do governo nacional, como saúde e educação.

A medida tem sido alvo de críticas porque há quem sustente que a autonomia diferenciada acentuará a divisão norte-sul da Itália, favorecendo as regiões mais ricas do país.

Gostaria de abrir uma discussão sobre o que realmente significa qualidade de vida na Itália. Será que esse conceito só deve ser ancorado a critérios objetivos? E será mesmo que é verdadeira a eterna divisão maniqueísta entre norte rico e, portanto, mais feliz e sul com aparentemente menos vantagens econômicas igual a infelicidade?

Dias atrás comentei a notícia sobre o êxodo crescente de jovens italianos que, após concluírem a universidade, buscam oportunidades de trabalho no exterior.

Em contrapartida, principalmente depois da pandemia, no sul da Itália um fenômeno irreversível é o chamado southworking, empresas ou autônomos que se deslocaram no sul do país para exercer o próprio trabalho remoto.

Isso sem falar do conceito de “restanza”, termo idealizado pelo antropólogo Vito Teti que exprime aquele desejo irrefreável de permanecer na própria terra de origem.

Partire e restare sono i due poli della storia dell’umanità. Al diritto a migrare corrisponde il diritto a restare, edificando un altro senso dei luoghi e di se stessi. Restanza significa sentirsi ancorati e insieme spaesati in un luogo da proteggere e nel contempo da rigenerare radicalmente.

Partir e ficar são os dois pólos da história da humanidade. O direito de migrar corresponde ao direito de permanecer, construindo outro sentido dos lugares e de si mesmo. Permanecer significa sentir-se ancorado e ao mesmo tempo desorientado num lugar a ser protegido e ao mesmo tempo radicalmente regenerado”, sustenta Teti.

Essa ideia me fez lembrar de uma comparação que já ouvi mais de uma vez aqui na Itália.

Há quem diga que em ao conhecer alguém em uma cidade do Norte, a primeira pergunta que provavelmente te farão será: “qual sua profissão?”, sublinhado nas entrelinhas o fato que é importante saber se te conhecer é útil ou não.

Já nas províncias ou sul, é bem possível que te perguntem: “você é filho de quem”, te conectando a uma comunidade.

Não gosto de etiquetas para catalogar pessoas e lugares. No caso da Itália, basta pensar que milhares de cidadãos do sul, nas décadas passadas, emigraram e contruíram cidades do norte, trabalhando em fábricas que se tornaram símbolos do made in Italy.

Se assim é, humanidade e gentileza não são exclusividades de uma parte geográfica específica.

Qualidade de vida também pode ser um conceito único e muito pessoal.

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