Ostiense, bairro de badalação, vida boêmia e produção cultural underground
Se está programando uma primeira viagem à Roma, provavelmente o seu roteiro incluirá os monumentos mais famosos da cidade. No entanto, se já conhece os principais pontos turísticos da capital e procura um passeio inusitado e anticonformista, sugiro que você aceite o desafio de “perder-se” em um dos bairros símbolos da cultura undergound romana.
A zona conhecida como “Ostiense” com certeza não ocupa as páginas principais de um guia turístico tradicional. Digamos que não se trata da chamada “Roma per bene”, “signorile”, aquela dos cartões postais ou habitada pela alta burguesia.
Isso não significa, porém, que essa área seja perigosa. Ostiense, na verdade, é um antigo bairro industrial ao redor do qual concentram-se uma linha ferroviária, armazéns, mercados, um depósito de gás de 92 metros de altura e outras estruturas abandonadas.
Aparentemente, um lugar degradado e sem “appeal”, mas trata-se do bairro amado por Pasolini e protagonista de alguns filmes do cineasta de origem turca Ferzan Ozpetek.
Graças a um grande fermento cultural e contínuas transformações, Ostiense é considerada a nova “rive gauche” romana; um territorio frequentado por artistas, intelectuais e bohémiens.
O bairro é palco de diversos murales de “street art” assinados por artistas contemporâneos, na maior parte, anônimos, que escolhem como “telas” as fachadas de alguns prédios semi abandonados.
Engane-se quem pensa que a street art seja uma forma de expressão artística residual e secundária. Aqui na Itália, em um canal de TV via satélite, existe até um programa dedicado exclusivamente às exposições ao ar livre inspiradas na arte de Keith Haring e alguns expoentes da street art realizam com sucesso iniciativas de crowdfunding para realizar suas obras.
Nesse bairro você encontrará exemplos de street art por todos os lados. Desde uma refinado mural inspirado no trabalho de Giorgio de Chirico, até uma obra coletiva na passadeira de Via Ostiense assinada por sete artistas e com retratos de Antonio Gramsci. Outra obra que não passa despercebida é a intrigante fachada de um ex quartel totalmente decorada pelos desenhos de Blu.
Para quem não sabe, ele é o italiano que o jornal The Guardian classificou como um dos dez melhores street artists do mundo e esse prédio, localizado na Via di Porto Fluviale, foi ocupado por pessoas sem teto; as mesmas que encomendaram a obra a Blu. Você entenderá que Ostiense é um bairro que está sofrendo diversas transformações e se tiver um tiquinho de espírito de aventura se divertirá ao explorá-lo.
Como não sorrir ao notar, ironicamente, uma discoteca chamada Bunga-Bunga, em uma clara alusão às festas na casa do ex-presidente do Conselho de Ministros italiano?
A zona também é repleta de bares, locais e restaurantes interessantes. Para quem preferir um lugar descontraído que funciona como trattoria e pizzeria, sugiro o Porto Fluviale, um ex depósito industrial de 900 metros quadrados transformado em um restaurante muito original.