Roma e a memória das vítimas do Holocausto
Talvez poucos turistas saibam que, em 2000, o Parlamento italiano instituiu a chamada Giornata della Memoria e, a partir de então, no dia 27 de janeiro, o país relembra as vítimas do programa de extermínio nazista. Sete décadas se passaram desde a liberação dos prisioneiros de Auschwitz e de outros campos de concentração, mas a ferida provocada pela perseguição dos judeus e pelo horror que ninguém conseguiu evitar continua aberta.
Se me permitem uma consideração pessoal, em 2017 tragédias que transformam homens em números ainda são recorrentes. Sob o olhar míope de instituições e no território de países ricos, muros e cercas são levantados. Imigrantes são abandonados – sem comida ou roupas adequadas – nas florestas de temperaturas rígidas de nações como Hungria e Sérvia.
Atualmente, na Itália, residem cerca de 35 mil judeus. Aquela de Roma é uma das mais antigas do velho continente pois acredita-se que os judeus começaram a popular a cidade por volta do II século a.C.A Fontana del Pianto, na Piazza delle Cinque Scole, no passado era um importante recurso hídrico para os habitantes do gueto de Roma. Uma particularidade é que os judeus romanos não são nem sefardita, ou seja, descendentes da peninsula ibérica, nem mesmo Asquenazes, descendentes da Europa Central e Oriental.
Os judeus italianos são diretamente originários da Terra Santa e partir de 1942, quando o anti-semitismo começou a intensificar-se em diversos países europeus, a população judaica de Roma dobrou. O período mais trágico para a comunidade foi aquele que coincidiu com a ascensão do fascismo e a instituição de uma série leis anti-semitas.
A situação dos judeus romanos piorou no dia 16 de outubro de 1943, data na qual os soldados nazistas invadiram o gueto hebraico e prenderam 1022 pessoas. Os prisionieros foram temporariamente deslocados até o Collegio Militare di Palazzo Salviati, na Via della Lungara, em Trastevere.
Em seguida, no dia 22 de outubro, foram colocados em trens que da estação de Roma Tiburtina partiram para Auschwitz. De todos os 1022 prisionieros, somente 17 sobreviveram e, entre eles, uma mulher. Para lembrar as vítimas do Holocausto, um artista alemão chamado Gunter Demnig idealizou placas de bronze, semelhantes a paralelepípedos, colocadas na frente de casas de judeus deportados para os campos de concentração. Cada uma delas contém o nome da vítima, a data de seu nascimento, o nome do campo onde foi prisioneiro e, se conhecida, a data de sua morte.
Essas placas chamam-se Pietre d’inciampo (pedras do tropeço), em italiano, ou Stolpersteine, em alemão. O tropeço é, metaforicamente, mental. Um convite para refletir sobre o Holocausto.Visitando esse site aqui, quem tiver curiosidade poderá consultar um mapa de Roma com todas as placas instaladas pelos diversos bairros da cidade.
Outra maneira de conhecer de perto a história dos judeus romanos é visitar a pitoresca zona do gueto judaico da capital ler o meu editorial sobre Roma Cidade Aberta, ou conhecer o comovente e gratutio chamado Museo della Liberazione, tema do post Memória escrita com as unhas. Aposto que você sairá de lá emocionado.
Aqueles que preferem organizar passeios por conta própria podem visitar a Sinagoga de Roma, construída entre 1901 e 1904. O ingresso custa 11 euros por pessoa e inclui a visita ao museu hebraico.
Na foto de abertura: trecho do livro Se questo è un uomo, de Primo Levi.
Anelise, que post bonito! Me emocionei ao ler algumas das histórias das pietre d’inciampo. Que pena que o Turimo em Roma ainda não existia quando estive aí em 2011, mas já anotei várias dicas para a próxima vez que for a Roma.
Um esclarecimento: a Itália não tem a maior comunidade judaica da Europa. Só na França residem 500.000 judeus. Porém, a comunidade italiana é a mais antiga.
Abraços
Anotado, querida.