25 de abril na Itália: a resistência nos murais e nas histórias do Quadraro
No meu bairro existe um muro, quase sempre frequentado por jovens, onde um pichador anônimo deixou a frase Viva la Resistenza! Resistenza, no caso, refere-se ao movimento armado que se opôs ao fascismo e à ocupação da Itália pela Alemanha nazista. Um inverno se foi. Outro chegará. Continuo passando lá e quando parece que aquela escrita está prestes a se apagar alguém reforça com a tinta o contorno daquelas letras.
Ultimamente, junto à frase louvando heróis nacionais surgiu uma suástica que alguém – na tentativa de dissimular o seu triste significado simbólico – tentou disfarçar com margens que a transformam em uma espécie de quadrado. Uma guerra fria de sprays entre writers de quarteirão.
É a memória que insiste em insinuar-se entre as novas gerações, nem sempre atentas ao passado. No feriado de 25 de abril a Itália relembra a libertaçao do domínio nazifascista graças à ação de soldados americanos e britânicos e aos esforços dos partigiani, guerrilheiros antifascistas que defenderam os seus ideais com a própria vida. O que aconteceu no meu bairro também repetiu-se em outra parte da cidade, com a pichação de um monumento dedicado aos soldados do Quadraro.
Quem vem para Roma pela primeira vez dificilmente aventura-se no microcosmo dos bairros mais afastados do centro e Quadraro é um nome que poucos estrangeiros já devem ter ouvido falar. É uma área da parte sul da cidade, um quartiere de gente comum. De barbeiros com a porta sempre aberta. De oficinas mecânicas. De tapeceiros. De moradores que em plena Segunda Guerra Mundial – quando um pão recheado com linguiça era um luxo, castanhas esfomearam meio país e a goma de mascar americana era um sonho de consumo – muitos jovens do passado projetavam o futuro.
O Quadraro faz parte de uma das páginas mais importantes da história de Roma e do país. Em um contexto de miséria, no bairro refugiavam-se muitos partigiani durante o trágico período de ocupação nazista. Ali organizavam atos de sabotagem, escondiam munições e armas. Até hoje e principalmente no feriado do dia 25 de abril o Quadraro é associado a uma comunidade lutadora e de alma política, em seu sentido mais amplo. Isso porque o bairro foi palco de um dos mais trágicos episódios de deportação durante o domínio nazista.
Para punir violentamente os partigiani que reuniam-se no Quadraro, no dia 17 de abril de 1944 mais de mil moradores do bairro foram aprisionados e assassinados pelos alemães. Só alguns deles conseguiram fugir. Para quem conhece a língua italiana, sugiro a leitura do livro Storie di uno scemo di guerra, de Ascanio Celestini, repleto de anedotas reais e imaginárias sobre o bairro.
Menos de um mês antes, em 24 de março do mesmo ano, SS nazistas fuzilaram 335 italianos nas chamadas Fossas Ardeatinas, em um ato de represália contra um ataque com bomba que atingiu 32 soldados alemães na Via Rasella, no centro de Roma. Os nazistas declararam que para cada alemão morto seriam assassinados dez italianos escolhidos entre prisioneiros políticos e comuns do Cárcere regina Coeli e da sede de torturas da Via Tasso, hoje sede do Museo della Liberazione.
Para lembrar a resistência no Quadraro, o bairro foi decorado por diversos murales de street art em homenagem a quem pagou com a própria vida a defesa de seus ideais. Na Via dei Pisoni, por exemplo, a figura de um Hulk criança parece dizer: Estou pronto para qualquer batalha!
O meu preferido, no entanto, é o mural chamado Nido di Vespe (Ninho de Vespas) realizado pelo artista romano Lucamaleonte na Via Monte del Grano, pertinho da parada Porta Furba da linha A do metrô em Roma.
As vespas lembram a operação Unternehmen Walfish ou Operação Baleia, quando a Gestapo e a polícia fascista deportaram os habitantes do bairro para os campos de concentração. Nenhum deles traiu os companheiros cedendo informações à Gestapo e o mural homenageia o orgulho com o qual os moradores aceitaram o apelido dado ao Quadraro em sinal de desprezo: ninho de vespas.
O mural pode não ter o mesmo status de um museu renomado, mas é a abstração de uma história real, feita de gente de carne e osso. De pessoas simples que não procuravam o título de heróis. Como os habitantes do Quadraro, um dos melhores símbolos do dia 25 de abril.
Para saber mais sobre a data de 25 de abril na Itália, não deixe de ouvir o nosso podcast:
Ascolta “25 de abril na Itália” su Spreaker.
Leia também outros textos sobre esse importante feriado na Itália:
Memória escrita com as unhas
25 de abril na Itália: da libertação à constituição
25 de abril: Roma ainda é uma “cidade aberta”
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Oi Anelise, tudo bem? Dos bairros que você sugere para conhecer, só não fomos ao Quadraro. Poderia indicar um ônibus que vá até lá? Pode ser a partir da Termine. Preferimos ônibus ao metrô. Assim a gente vai conhecendo o trajeto.
Beijo