8 de março, se Roma fosse uma mulher
Não é de hoje que Roma é associada a personagens e figuras femininas. A loba, generosa e materna. Anna Magnani, símbolo da cidade para Federico Fellini e desafio para os maquiadores. “Não retoquem minhas rugas, demorei muito tempo para consegui-las”, costumava dizer a atriz. Sempre imaginei que Roma fosse como ela: mulher de cabeça erguida, sorriso aberto, ombros largos e que recusa etiquetas.
Roma maltratada, chamada de “ladrona” (ladra). Roma debochada, do palavrão fácil. Roma corpulenta, capaz de envolver. Roma das batinas, de estômagos fortes e pulso fraco. Roma volúvel, do toma cá, dá lá. Levei muito tempo para compreendê-la, para entender que ela levanta a voz e esbraveja mas não morde, para aceitar que Roma é o tipo de cidade que não se adapta a você, mas exige que você se curve a ela. Uma alma feminina que desdenha os estereótipos que lhe foram atribuídos porque pode ser tudo e o contrário de tudo.
Roma é a cidade de mulheres na política, de universitárias de outras regiões do país que a escolheram para viver, da possibilidade de ir e vir. Ao lado dessa Roma, no entanto, existe outra cidade – invisível aos olhos dos turistas – mas composta por mulheres de carne e osso. Idosas que no final do dia procuram abrigo debaixo das colunas de Bernini. Nômades que nunca se sentaram em um banco de escola.
Jovens estrangeiras que disputam poucos metros de calçada em uma estrada de periferia. Corpos seminus que se confundem com a noite. Rostos sem identidade. Mulheres confinadas dentro de quatro paredes que não ousam denunciar. Se 8 de março é o Dia Internacional da Mulher, gosto de pensar que, pelo menos hoje, os sinos de Roma tocam por elas, pedaço de humanidade ferida que assim como Anna Magnani dispensa a maquiagem e prefere a vida autêntica. Se Roma fosse Anna provavelmente diria: “Alle donne non portate i fiori, portate rispetto”.