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A retórica da maternidade na Itália

Confesso que a recente notícia sobre uma mãe que deixou o filho recém-nascido em uma incubadora diante de um hospital de Milão mexeu muto comigo. A versão moderna da roda dos expostos possui sensores eletrônicos. Em apenas 40 segundos, um alarme tocou e os médicos socorreram o pequeno Enea. Uma carta acompanhava o bebê. Em poucas linhas, a mãe sublinha que espera que ele tenha uma vida melhor do que aquela que ela mesma poderia oferecer ao filho.

Nas redes sociais, o eco do comentário de um apresentador italiano sobre o caso foi imenso. Ele fez um apelo pedindo para que a mãe voltasse atrás, repensando a sua decisão. A ferida foi cutucada mais uma vez.

Poucos sabem que na Itália existe uma lei que consente o uso da chamada pílula do dia seguinte, mas, na prática, é muito complicado enfrentar em tempo útil todo o iter burocrático para receber o medicamento. Parte significativa dos médicos não apoiam a interrupção voluntária de uma gravidez e apelam para o conceito de objeção de consciência. Em outras palavras, se negam a participar de determinados tratamentos.

Não vou discutir aqui sobre diferentes posições sobre esse tema. Respeito todas as opiniões.

O que mais me deixa perplexa, no entanto, é saber que em um país que representa uma das potências econômicas mundiais, um núcleo familiar – mesmo que composto somente por uma mãe e um filho – não tenha acesso a benefícios de welfare que a tutelem e garantam a ela a possibilidade de criar o próprio recém-nascido.

Mesmo em nações avançadas, a fronteira entre liberdade individual e escolha obrigatória é muito sutil.

O que salta aos olhos lendo os comentários sobre essa notícia é o apressado julgamento moral. As cobranças sobre tudo aquilo que envolve a esfera da maternidade antes mesmo que uma mulher se sinta e se declare mãe.

Quem de nós está pronto a criar uma lista da mamma perfeita? Quantos pontos ela deve acumular para conquistar esse título?

Tudo é muito subjetivo e a escala de valores muda drasticamente de acordo com as lentes com as quais enxergamos o mundo.

Não aprender a amarar os sapatos e deixar que seu filhe caminhe descalço pode ser fisiológico para uma tribo de uma floresta qualquer. Pode representar uma negligência imperdoável se seu filho vive em uma metrópole.

Educar nossos filhos a nossa imagem e semelhança é um mérito ou um defeito? Esquecer de colocar a merenda na lancheira é mais ou menos grave do que chegar tarde na porta da escola? Se você descongela algo para o jantar não se sente à altura da mão ideal do comercial de TV?

Voltando as minhas origens, já tinha contado que na busca de documentos dos meus antepassados descobri que minha tataravó era órfã e deixada na porta de um hospital na Toscana.

Esse tema sempre me tocou profundamente e visitei mais de uma vez, em Florença, o Museo degli Innocenti, primeiro orfanato da Europa.

Ali, ainda hoje é possível emocionar-se diante de gavetas que contêm objetos que as mães deixam com os recém-nascidos, provavelmente pensando que se um dia voltassem serviram para identificar os próprios filhos.

Nem sempre o nascimento de um filho coincide com o despertar simultâneo de uma mãe.

A retórica da maternidade perfeita também tem suas falhas e é capaz de provocar dor.

This article has 2 comments

  1. ARLENE PATRICE GLIOSCE MOREIRA ENSINAS

    Boa noite,

    Voce escreveu, em 2018 (!) sobre a galeria no Palazzo Doria Phampili e eu gostaria de saber se pode informar qual o sitio eletronico oficial para comprar imgressos.
    estamos indo a Roma em setembro deste ano.
    desde já agradeço.

  2. anelise sanchez

    Bom dia Arlene, tudo bem?
    Meu site é parceiro da Get your Guide, que vende ingressos para as principais atrações da cidade, inclusive o Palazzo Doria Phampilj.
    Você pode reservar suas entradas diretamente aqui, nesse link! Grazie
    https://www.getyourguide.com.br/palazzo-doria-pamphilj-l3281/ingresso-para-palazzo-doria-pamphilj-c-recepcao-t224619/

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