Anagni. A cidade dos Papas
Quem tem boca vai a Roma e também ao Vaticano.
Quem visita a capital não deixa de conhecer o menor estado independente do mundo e centro do cristianismo.
Ter a chance de ver o Papa de perto é o sonho de muitos brasileiros.
No entanto, mas se a história da igreja católica, de seu poder, mistérios e intrigas sempre te fascinaram, vale a pena saber que na região do Lácio existem cidades muito menos conhecidas pelos turistas que marcaram alguns dos momentos mais importantes do Papado.
Situada a menos de uma hora de carro de Roma, na região da Ciociaria, Anagni (a pronúncia é a-na-nhi) é um concentrado de história e arquitetura medieval. Mais conhecida como “a cidade dos Papas”, Anagni foi palco de diversos episódios citados na Divina Comédia, de Dante Alighieri.
A cidade é muito graciosa e possui um passado glorioso porque nos séculos XII e XII Anagni foi submetida à administração pontifícia, conquistando o status de cidade de estada dos Papas.
Ali nasceram quatro pontífices: Inocêncio II, Alexandre IV, Gregorio IX e Bonifacio VIII. Com esses “filhos ilustres”, é inevitável que a influência sacra tenha se refletido nos principais monumentos da cidade.
Um dos mais famosos é a catedral de Santa Maria. Pessoas provenientes do mundo inteiro visitam Anagni para conhecê-la por um motivo muito especial.
Construída entre 1072 e 1104 por ordem do bispo de Anagni, Pietro da Salerno, além de ter sido o lugar de canonização de alguns santos, a igreja possui uma rica pavimentação de mosaicos cosmatescos, ou seja, realizados em 1231 pela família Cosma, famosa por suas construções em mármore.
A maior atração da igreja, contudo, é a sua cripta, considerada “a capela sistina medieval”.
A Cripta di San Magno é um verdadeiro espetáculo.
Imaginem um ambiente com 21 arcos românicos, teto e paredes inteiramente decorados por afrescos de cores vibrantes.
Cada um deles conta, em detalhes, episódios contados no antigo e no novo testamento, sobre a origem dos quatro elementos vitais e sobre a vida de San Magno, padroeiro da cidade.
Geralmente a cripta não pode ser fotografada, mas nós conseguimos uma permissão especial para registrar, em imagens, toda a sua beleza e mostrá-la para vocês.
Outro belíssimo edifício é o Palazzo Comunale, sede da prefeitura.
Ele foi construído a partir de 1159 e além da ampla Sala della Ragione, antiga sede da justiça local, possui uma loggia com brasões das famílias Orsini e Caetani (aquela do Papa Bonifacio VIII).
O famoso crítico de arte italiano Philiphe Daverio sustenta que “durante um século o lugar foi o centro do mundo, uma espécie de Pentágono da Europa”. Ali aconteceram decisões e alianças importantes.
A figura do de Bonifacio VIII é onipresente na cidade pois foi lá que o pontífice foi sequestrado pelos cavaleiros enviados pelo rei da França, Felipe IV.
Segundo históricos, o pontífice teria recebido um tapa – mais moral do que físico – pelos emissários franceses.
Em Anagni fica o palácio onde teria acontecido o schiaffo, mas como se trata de um lugar muito especial, vou dedicar um outro post exclusivamente a esse edifício.
Em uma das principais ruas de Anagni, Corso Vittorio Emanuele, aquela que leva até a Porta Cerere, é possível admirar diversos edifícios pitorescos decorados com pórticos, casas medievais com escadas externas e janelas bíforas.
Uma das mais singulares é a Casa dei Gigli o Casa Barnekow, que só pode ser visitada externamente.
O lugar era uma propriedade de um extravagante barão de origem sueca.
Ele se chamava Albert Barnekow e a sua fachada é completamente recoberta por afrescos esotéricos e misteriosos, epígrafes em uma língua mista e fórmulas para transformar o chumbo em ouro. Lá você também encontra uma placa afirmando que a casa teria hospedado Dante Alighieri.
Programas não faltam em Anagni.
A cidade também possui subterrâneos que estão sendo explorados por espeleologistas e arqueólogos e o ateliê de um famoso escultor, Tommaso Gismondi.
Gismondi foi o autor de obras monumentais de ferro e bronze, como a porta do arquivo secreto vaticano, além de moedas para a cidade do Vaticano. Também é de sua autoria a porta de bronze de uma das igrejas mais antigas de Paris, a Saint Pierre, em Montmartre.
Gismondi não está mais entre nós mas o seu ateliê é aberto gratuitamente ao público graças a sua neta, Valentina. Se você passar por lá ela te contará anedotas sobre o avô, como o seu modo de relacionar-se com grandes personagens do Vaticano.