Crise na Europa: tem a ver com o Brasil?
Os últimos atos de terrorismo e a crise econômica restringiram as fronteiras geopolíticas imaginárias traçadas por muitos turistas prontos a explorarem o mundo.
Se há alguns anos o temor de ataques parecia restrito à áreas remotas do globo terrestre – longínquas do velho continente – atualmente o número de países considerados pouco seguros aumentou exponencialmente. Basta conectar-se, por exemplo, à página do Ministério das Relações Exteriores italiano para notar que são numerosas as nações nas quais o ministério desaconselha uma viagem.
O medo mora ao lado. Na França que rechaça refugiados com direito a asilo político. Na Tunísia dos africanos que não admitimos em nosso território, mas que durante as férias de verão nos servem coquetéis a bordo de uma piscina.
Na Grécia surpreendentemente pobre que ameaça a zona euro com um efeito dominó. No sul da Itália, cenário de constantes desembarques de centenas de imigrantes.
Como sustenta o sociólogo Zygmut Bauman, o novo dualismo não é aquele entre ricos e pobres, mas aquele baseado na mobilidade humana, na divisão entre aqueles que podem conceder-se o luxo de deslocar-se de um lado ao outro do planeta para conhecer, explorar, e aqueles que migram a procura de pão e água potável.
Não adianta erguer muros sempre mais altos na fronteira com a Sérvia – como propôs o governo da Hungria – ou emanar leis que consideram a imigração clandestina um crime. Não serve comprar um SUV esperando que a sua dimensão imponente intimide o vendedor de lenços no farol. Não há ronda de vigilantes que assuste estômagos famintos. Não há acordo político que bloqueie a vontade de atingir o mesmo patamar de bem estar da maioria dos outros mortais.
Os italianos estão começando a entender que um mundo com poucos privilegiados é insustentável. Que os escândalos quase diários envolvendo casos de corrupção e suborno causam muito mais danos à economia do que os braços dos estrangeiros dispostos a recolher tomates em troca de poucos euros.
O que tudo isso tem a ver com o nosso Brasil? Segundo os dados do relatório Global Wealth Databook realizado pelo banco Credit Suisse, das 128 mil pessoas consideradas milionárias pelo mundo, 1900 vivem no Brasil. Passeamos em carros blindados e com vidros escuros para que a realidade lá fora nos pareça mais opaca.
Enquanto isso, centenas de famílias estão cheias de dívidas para comprar um tênis de marca ou um celular de última geração em diversas prestações.
A nossa violência não se manifesta em atos de terrorismo, mas não é menos daninha. A nossa violência é cotidiana e também produz diversas vítimas. Desigualdes geram injustiças, mas temos mesmo certeza que o nosso desejo mais sincero é aquele de construir um país sem mordomias, com uma pequena diferença de salário entre as diversas categorias profissionais?
Aqui na Itália os escândalos políticos e as desigualdades ainda existem, mas a recessão econômica provocou um grande achatamento dos salários e obrigou muita gente a rever as próprias prioridades, a refletir. Talvez esse seja o lado positivo dessa crise. Talvez esse seja o momento de uma reviravolta no modelo brasileiro de sociedade.
Sem dúvida a recessão está assolando a itália. Em minha última visita pelas conversas notei que piorou muito. Vários italianos dizendo que tinham dispensado empregadas domésticas por não poder pagar. E no mercado de trabalho vários serviços que italianos não faziam passaram a aceitar devido a escassez de ofertas de trabalho. Notei que muitos italianos estão depressivos, não vi mais aquela alegria esfuziante e energia pelas ruas. E para piorar aquela horda de imigrantes que invadiram até il stazione centrale di milano, achei assustador. O Euro está na berlinda, e cabe a Alemanha od Germania defende-lo com unhas e dentes. Eu fico imaginando as pessoas que tiveram a chance de conhecer Roma, por exemplo há 50 anos atrás o choque que seria vê-la hoje totalmente degradada. Enfim, este sistema capitalista está na UTI há muito tempo. Brasil também não foge regra segue definhando. O mundo está em recessão. Abcs.
Sim, Ricardo, a autuação não é fácil. Para não falar dos milhares de jovens desempregados e da dificuldade de pensar em um futuro tranquilo. Aposentadoria, por aqui, é quase utopia.
Notei isso tb a maioria dos jovens italianos vivem em londres,Usa,austrália e canadá. Vejo sempre no programa community da RAI perguntarem como fica o INSS se podem pagar no estereo ou ficam sem direito. A maioria dos jovens desempregados não contribuem com isso vai estreitando o caixa dos pensionista. Isso no futuro será trágico. Abcs.