San Clemente: basílica com subterrâneos, palavrão e o santo da auréola quadrada
Como assim? Outra igreja? Ok, concordo que, à primeira vista, sugerir uma visita a um lugar de culto quando em Roma cruzamos com igrejas em qualquer esquina pode parecer pouco original.
Não deixe que as aparências te enganem. San Clemente não é uma igreja qualquer. Prefiro defini-la como uma máquina do tempo.
Assim que você entra na basílica do século XII fica admirado com a sua geométrica pavimentação de mosaicos cosmatescos, com seu teto ricamente decorado e com os afrescos da Capela de Santa Catarina. Até aí, elementos comuns a muitas igrejas cristãs.
A surpresa chega depois que você pagar 10 euros para visitar os subterrâneos de San Clemente. Assim que você atravessa a pequena porta à direita da bilheteria fará uma viagem no tempo, percorrendo cinco séculos de história.
Em 1857, logo abaixo da igreja mais moderna, o prior de San Clemente descobriu uma basílica muito mais antiga, mais precisamente do século IV. Ambas são dedicadas a San Clemente, o quarto Papa da igreja católica que foi perseguido, condenado ao exílio e atirado ao mar.
No ambiente do século IV ainda é possível encontrar colunas, inscrições e afrescos que, apesar de descoloridos, narram episódios importantes.
Além da pintura de papa Leone IV (847-855), representado com uma auréola quadrada porque vivo na época de sua realização, um dos afrescos mais curiosos é aquele dedicado a Sisinnio, rico cidadão de Roma.
Essa pintura é uma precursora das histórias em quadrinhos porque os diálogos foram escritos em proximidade dos personagens. O afresco conta o episódio no qual Sisinnio, para esclarecer suas próprias dúvidas, seguiu a esposa, Tedodora, convertida ao catolicismo.
Ele desaprovava a religião de Teodora, e ao notar que ela entrava em uma catacumba para frequentar uma missa celebrada por São Clemente ficou furioso. Segundo a lenda, sua ira foi punida com a cegueira e Sisinnio só reconquistou a visão graças a San Clemente. Só que em vez de agradecer o milagre do pontífice Sisinnio ordenou aos seus soldados que o prendessem. Com a visão ofuscada, os soldados tinham certeza de ter executado corretamente a ordem de Sisinnio, mas na verdade tinham prendido uma coluna que não conseguiram arrastar. Foi naquele momento que Sissinnio pronunciou um palavrão: “Fili de le pute, trahite!” (Puxem, filhos da puta!).
As surpresas da Basílica di San Clemente não acabam aqui. Enquanto você percorre os seus subterrâneos semi- iluminados escutando o barulho de água vai descendo até encontrar construções romanas e, no nível mais inferior, um antigo templo dedicado ao culto de Mitra.
Mitra era uma divindade originária da Pérsia e o seu culto era reservado exclusivamente aos homens. Provavelmente, foram os legionários que serviam o império nas suas fronteiras orientais aqueles que introduziram o culto de Mitra em Roma.
Nas profundezas de San Clemente ainda existe um altar com o relevo de Mitra que mata um touro e a sala com bancos de pedra na qual eram realizados os banquetes rituais em homenagem à divinidade.
Nesse percurso urderground por San Clemente Clemente você também encontrará uma pequena catacumba, do século IV ou V, e com capacidade para armazenar dezesseis pessoas. Aposto que depois desse passeio você terá certeza que San Clemente não é só uma igreja, mas um passeio imperdível em Roma.
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