Buon Natale! O presente que não pode ser embrulhado nem comprado

Véspera de Natal. Contagem regressiva para um dos momentos mais aguardados ou temidos do ano. Aquele em comum a muitas nações ocidentais. A frenesia irrefreável do consumismo. A busca pelo presente de última hora. A geladeira repleta de alimentos que muitas vezes desperdiçamos. A socialização forçada com os colegas de trabalho. O ritual das piadas e trocadilhos desagradáveis entre parentes que reivindicam uma intimidade rarefeita no resto do ano.

Como soldados bem adestrados, preparamos listas de tarefas a serem cumpridas. Colocar a casa em ordem. Embrulhar as lembrancinhas. Escrever os cartões. Bisbilhotar nas redes sociais para tentar adivinhar os gostos do nosso amigo secreto. Preparar aquela mensagem que será enviada no grupo Whataspp da academia. Convencer a manicure ou o barbeiro que o último horário livre deve ser seu porque Natal não é Natal sem caridade. Antecipar o relatório exigido pelo chefe para finalmente sair de férias e aproveitar o tempo livre.

Tempo. Aquele substantivo cada vez mais escasso que evocamos toda vez que nos sentimos prisioneiros do tráfego. Aquele que negamos ao amigo querido que  insiste em um café, alegando que a nossa agenda está realmente cheia. Aquele que, no nosso delírio de onipotência, pensamos enganar adiantando os ponteiros do relógio. Aquele incompatível com a modalidade off-line. Aquele que  nunca coincide com o secundário, o desnecessário. Aquele tirano que nos faz pronunciar frases como “brinca sozinho, já venho” ou “não vê que agora estou ocupada? Peça para a sua avó”.

Nesse Natal, o presente que espero que você receba não pode ser embrulhado e nem comprado por nenhum cartão de crédito: tempo de qualidade.

E se em vez de um Natal e Ano Novo que somam tarefas invertêssemos a rota. Se tentássemos subtrair a abundância e a opulência de compromissos, de metas auto impostas e da eficiência total, custe o que custar, com a possibilidade de perder tempo com o que, na verdade, não é supérfluo? Tempo para dizer bom dia para o vizinho. Para distribuir gentilezas. Para brincar. Para compartilhar risadas. Para cantar com a música a todo volume. Para devorar sorvetes e um cálice de vinho sem culpa. Para caminhar descalço. Para tomar banho de chuva. Para não temer o desconhecido. Para viajar. Para viver. Buon Natale! Feliz Natal! Esperamos vocês na Itália!