Sexto Sentido

Crônica de uma Roma deserta onde Papa Francisco reza por fim da pandemia

As cenas do Papa Francisco que caminha em uma Roma deserta e irreplicável, até entrar em duas igrejas e invocar o fim da pandemia de coronavírus, foram divulgadas por TVs do mundo inteiro. Nem mesmo com o êxodo de verão, em agosto, a cidade – que se torna patrimônio dos turistas – é tão vazia.

Papa Francisco em Roma

Por um instante,  é a vida que imita ou, melhor, supera a arte. Nem um criativo do peso de Paolo Sorrentino imaginou tanto nas sequências de sua aclamada série, The Young Pope.

Em dias de isolamento e de pausa forçada, cada um adota uma estratégia para superar o medo. Quem canta seus males espanta! E assim, não só cantores como Giuliano Sangiorgi, Jovanotti e Nek improvisam shows em streaming, da própria casa. Pessoas comuns, das sacadas de seus apartamentos, ecoam versos de canções famosas, em um coro coletivo.

Papa Francisco em Roma

Com as missas suspensas, inclusive as celebrações previstas durante a Semana Santa, há quem opte pela meditação. Quem invoca o papel catastrofista e punitivo do Covid-19. Quem sugere algo mais pacato e inofensivo, como a reflexão. E quem, sublinhado que até a própria palavra “pandemia” contém em si algo universal, nos lembra que devemos nos conectar a nossa essência, à natureza.

Se é sempre bom ver il bicchiere mezzo pieno (o copo meio cheio), paradoxalmente, na Milão imóvel a prefeitura detectou algo raro até então: a qualidade do ar melhorou significativamente nos últimos dias.

Os únicos que não se pronunciaram foram os adeptos do movimento no vax, contrários à vacinação. 

Papa Francisco em Roma

Agora temos tempo de sobra para observar aquilo que passava despercebido. Inclusive a igreja de São Marcelo, dificilmente notada por romanos e turistas que associam a Via del Corso às compras e continuam o passeio pelos arredores, com a Fontana di Trevi e Piazza di Spagna.

Papa Francisco em Roma

Nos dias de Piazza San Pietro vazia e telões desligados o Papa Francisco saiu do Vaticano e dirigiu-se até a Basílica de Santa Maria Maior, uma das quatro basílicas papais de Roma e propriedade extraterritorial da Santa sé.

O pontífice rezou diante do ícone da protetora do povo romano e, em seguida, percorrendo a pé a famosa Via del Corso, foi até a Igreja de São Marcelo, que abriga o Crucifixo milagroso. Em 1522, a relíquia foi levada em procissão pelos bairros da capital para acabar com a Peste.

Papa Francisco em Roma

O Papa Francisco invocou o fim da pandemia, implorou a cura para as vítimas e proteção para médicos e enfermeiros.

O crucifixo de madeira, que fica na quarta capela à direita, é considerado milagroso porque durante um incêndio acontecido nas noites entre os dias 22 e 23 de maio de 1519, ficou intacto.

Papa Francisco em Roma

A mesma relíquia foi usada em 1522 durante uma procissão que durou 16 dias pelas ruas de Roma, até chegar à Basílica de São Pedro, pedindo o fim da peste. Relatos da época confirmaram que nos Rioni ou bairros por onde a procissão passava, a peste cessava. Nessas raras imagens do Istituto Luce, a procissão pela capital.

Onde fica a igreja de São Marcelo: Piazza di San Marcello al Corso, 5, Roma

 

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