Castelos Romanos: o lago de Nemi e os navios dos bacanais de Calígula
Seria reducionista associar as colinas dos Castelli Romani ao lugar no qual os moradores da capital vão “a piglià er fresco” (em dialeto romanesco, buscar o frescor) durante as tórridas noites do verão na capital.
O território ocupado por 17 cidadezinhas históricas formado principalmente por erupções vulcânicas possui um passado glorioso, paisagens espetaculares e uma invejável produção de vinhos. Cada uma delas pode representar um ótimo bate e volta saindo da capital e a chance de colecionar tantas lembranças.
Do ponto de vista geográfico, os Castelos Romanos correspondem aos relevos dos Colli Albani, situados a breve distância da capital. Nemi é um gracioso burgo medieval a cerca de 30 quilômetros a sul de Roma e poderia ser o cenário perfeito para um livro de aventuras com direito a navios, templos e heróis.
Acredita-se que o seu território já era habitado desde o Neolítico, mas com o passar do tempo seu núcleo habitacional concentrou-se nos arredores de um castelo do século IX e do Lago de Nemi, também conhecido como “espelho de Diana”.
Em homenagem à Diana Nemorense – assimilada à deusa grega Artemide – foi construído um templo frequentado até o período imperial e abandonado com a difusão do Cristianismo. Hoje restam os vestígios arqueológicos do complexo, mas além da fama de cidade de veraneio de imperadores e de grande produtor de morangos, Nemi é visitada porque abriga o Museo delle Navi Romane.
No fundo do lago foram descobertos dois gigantescos navios de mais de setenta metros de comprimento realizados por ordem do imperador Calígula. As embarcações eram tão grandes que mais pareciam palácios flutuantes decorados com materiais como mármores, estátuas de bronze e marfim.
Calígula tinha péssima reputação e pelo que muitos históricos contam, provavelmente os navios serviam de palco para festas e bacanais que podiam durar vários dias. Não se sabe ao certo o motivo pelos quais as embarcações afundaram, mas a hipótese mais provável é que depois da morte de Calígula em 41 d.C, para apagar a sua memória (damnazio memorie) o Senado romano tenha ordenado a sua destruição.
Com o passar dos séculos foram realizadas várias tentativas para resgatar os navios e essa operação só foi possível graças à genialidade romana. Embaixo do lago existe uma grande obra de engenharia hidráulica do século V a.C.
Se trata de um emissário submarino, um sistema que transporta efluentes do local onde são recolhidos para outro local de descarte. Em outras palavras, um eficiente sistema de despejo de esgoto que também servia para evitar que de um lado, o lago transbordasse e do outro a água defluísse para irrigar os campos e chegasse até o mar.
Utilizando o emissário romano, o Lago di Nemi foi drenado e finalmente, entre 1928 e 1931, dois navios foram recuperados causando muita euforia na Itália e ao anúncio de uma das mais importantes descobertas arqueológicas do século XX. Para protegê-los, um museu foi construído ao redor deles, mas infelizmente, durante o período do nazi fascismo, o museu foi incendiado e os navios completamente destruídos. Hoje, no Museo delle Navi Romane, totalmente reconstruído, existem réplicas das embarcações e as poucas peças em bronze que decoraram os navios originais estão expostas no Museo di Palazzo Massimo, em Roma.
Passear pela tranquila cidadezinha de Nemi é descobrir belezas como o Palazzo Ruspoli e a sua Torre Saracena, hesitar diante das vitrines de docerias e suas especialidades a base de morangos, percorrer trilhas que circundam vestígios arqueológicos, contemplar lojas de artesanato e flores de lavanda, atiçar o olfato em um “salumificio” cenográfico repleto de especialidades como linguiças de javali e premiar o paladar com os pratos e vinhos locais. Para não errar, prove o prato de fettuccine com molho a base de gricia e carciofo (bochecha de porco e alcachofra).