Luzes, câmera, ação! Passeio em Cinecittà.

Semana passada, finalmente consegui fazer um passeio incrível: uma visita aos lendários estúdios cinematográficos de Cinecittà.

Antes de mais nada, algumas indicações: não esperem encontrar no lugar a atmosfera “pirotécnica” de Hollywood ou o glamour do parque “Walt Disney Studios” em Paris, mas não considero esse aspecto como algo negativo.

Ali ainda respira-se a atmosfera “artesanal”, a paixão visceral que une os diretores de arte, cenógrafos e marceneiros italianos ao cinema.

Cinecittà não representa somente um set cinematográfico, mas a própria história italiana.

Para quem não sabe, Cinecittà é um um complexo de teatros e estúdios, localizados na periferia romana, construídos na década de 30 como braço direito da propaganda fascista.  Nas palavras do ditador, a sétima arte era “a arma mais forte do Estado”.

Imaginem que no período de inauguração de Cinecittà, a Itália era um país prevalentemente rural, que ainda desconhecia as rodovias e a urbanização e cuja população comunicava-se em diferentes e inúmeros dialetos.

Naquela contexto, o cinema era uma espécie de “janela para o mundo” que alimentava a imaginação coletiva. Com o fim da segunda guerra mundial e a liberação italiana, Cinecittà transformou-se em uma espécie de abrigo para esfolados, abandonando temporariamente a sua vocação para o cinema.

Foi por esse motivo que, no mesmo período, Roberto Rossellini gravou nas ruas da capital as principais cenas de “Roma città aperta”, em meio a um cenário de devastação bélica, roubando a eletricidade da redação do jornal americano Stars and Stripes e realizando malabarismos para obter um financiamento para a sua obra prima.

Foi somente a partir da década de 50 que Cinecittà conquistou a fama de “Hollywood sobre o Tibre”, servindo de cenário para filmes épicos como Ben Hur e o colossal Quo Vadis.

Mais tarde, Cinecittà começou a consolidar-se como o palco privilegiado para o filão do “Spaghetti Western”.

Muitos deles eram gravados em desertos de países como a Tunísia ou Marrocos, mas as cenas de interior eram rodadas nos estúdios romanos.  Os italianos assistiam aquele gênero de filme e sonhavam, em muitos casos, sem saber que o “western” era uma produção nacional.

O nome de Cinecittà também é inseparável daquele de Federico Fellini, que amava gravar as cenas de seus filmes no chamado “studio 5”.  Se visitar os estúdios, poderá contemplar uma mostra dedicada ao cineasta, com direito a entrevistas com o “maestro” os vestidos usados em seus principais filmes.

O percurso do passeio também prevê uma visita ao set desenhado pelo cenógrafo Dante Ferretti (prêmio Oscar) para o filme Gangs of New York, de Martin Scorsese e reutilizado para a gravação de outros filmes como Shutter Island e The Aviator e também para diversas séries televisivas italianas.

Incrível apreciar o realismo de um cenário realizado principalmente a base de isopor.  Outro set interessante è aquela chamado “Roma”, um set que reproduz a arquitetura de Roma nos tempos de Júlio César e que deu origem à homônima série anglo-americana.

Ali você encontrará os principais edifícios civis e religiosos da Roma antiga, quase todos realziados com estruturas de madeira recobertas por painéis de resina.

Enquanto passeia, cruzará com marceneiros e artesãos. Dessa vez eles estavam trabalhando na manutenção de um cenário que reproduz a cidade de Assis. O percurso também inclui visitas didáticas a salas dedicadas a temas como roteiro, som, trajes e direção no cinema.

Quem quiser também pode fazer uma pausa na cafeteria de Cinecittà, com decoração inspirada na sétima arte, ou voltar para casa com algum souvenir sobre o cinema italiano.