Dicas de viagem para Marrakech. Seduzida pela cidade vermelha

Condensar em um artigo o misto de emoções que te envolve depois de uma viagem à Marrakech, no Marrocos, não é uma tarefa tão simples assim. Faça de conta que você está se preparando para um encontro especial, daqueles que aguardava há tempos. Você separa a sua melhor roupa. Capricha no penteado. Escolhe um perfume especial. Retoca o batom pela última vez. Aí, assim que sai de casa, um temporal e uma ventania inesperados comprometem totalmente o seu visual e os seus planos.

Marrakech é assim. Por mais que você se prepare, leia a teoria e tente decifrá-la nos livros, ao pisar em seu chão ela te dá um “bofetão” inesperado. O choque é inevitável e você se sentirá dentro de um turbilhão de energia.

Circulando pelas ruas estreitas da Medina, a cidade antiga protegida por quilômetros de muralhas, você terá a sensação que um cineasta acabou de pronunciar a frase “luzes, câmera e ação”. Uma mágica luz dourada cobre o céu de Marrakech, enquanto motos cortam o seu caminho em manobras inverossímeis. A voz do muezzin ecoa pelo minarete da mesquita. Um misto de pó e querosene paira no ar. O som das flautas dos encantadores de serpentes se mescla as cores das centenas de temperos e  à acrobacia de um chá com folha de menta servido do alto até ser despejado no copo. É catarse total.

Nesse primeiro post sobre a cidade você encontrará diversas dicas para organizar a sua viagem para Marrakech. Nos próximos  artigos, seguirão mais informações sobre suas atrações imperdíveis.

Marrakech em breve: Marrakech é uma das metrópoles mais fascinantes da África do Norte. Já foi cidade imperial e graças a sua localização foi influenciada por diversas culturas e esse mix também se reflete em sua arquitetura. Impossível não ficar fascinado com os detalhes de mesquitas, palácios, jardins, riads e medersas (escolas corânicas).

A maior influência é aquela islâmica, mas você também encontrará construções que lembram o estilo mourisco-hispano típica de outros lugares como a região da Andaluzia, na Espanha. A moeda local é o dirham marroquino e calcule que um 11 dirhams equivalem  aproximadamente a 1 euro. Cartões de crédito são aceitos na maioria dos hotéis e restaurantes, mas para pequenas despesas como táxis, é sempre útil ter dinheiro em mãos. As línguas faladas são o árabe, o berbero e, de maneira residual, o francês.

É uma cidade  perigosa? Essa é uma das dúvidas mais frequentes entre aqueles que planejam uma viagem para Marrakech. Antes de mais nada, saiba que ao desembarcar no aeroporto de Marrakech os controles de segurança são rigorosos. Isso torna o processo de controle dos passaportes bem lento. Na entrada e na saída você também precisará preencher um formulário com os seus dados pessoais e endereço do seu hotel.

Sobre a pergunta acima, a minha resposta é não. Você não vê em Marrakech a violência que, infelizmente, é cotidiana em diversas cidades brasileiras. Turistas circulam tranquilamente pela cidade com suas potentes máquinas fotográficas e mochilas a tiracolo, mas talvez você se sinta assediado. É muito comum se perder no labirinto de ruelas da Medina e diversas pessoas podem se oferecer para te guiar pela cidade em troca de uma caixinha. O dono do Riad onde nos hospedamos me disse categoricamente para recusar qualquer ajuda, mas aconteceu que acabei perguntando a um local se estava no caminho certo para o Marrakech Museum e a interrogação acabou se tornando um bate-papo com fim inesperado.

No final das contas, ele me sugeriu adiar a ida ao museu para não perder a chance de ver os pastores berberes que desciam das montanhas com os couros que seriam transformados nos curtumes. Pediu para que um amigo seu nos acompanhasse e  ele sublinhou que não aceitaria nada em troca. Confesso que fiquei receosa ao caminhar por uma arte da cidade onde não cruzei com muitos turistas, mas superada a desconfiança inicial nos surpreendemos.

Na dúvida, se precisar pedir informações, prefira as dicas de mulheres ou de policiais. Também não arrisque tirar fotos sem pedir permissão e, principalmente na praça Jemaa el-Fna, prepare alguns dirhams para recompensar as pessoas fotografadas. Em geral, os marroquinos são afáveis e gostam de conversar.

Mulheres podem sim circular sozinhas, mas evite usar roupas curtas e, para sentir-se mais segura, use o truque da aliança no dedo mesmo que não seja casada.  Saímos pela cidade inclusive de noite e não tivemos problemas, mas como faço antes de qualquer permanência no exterior, sempre reservo o meu seguro viagem para evitar qualquer inconveniente.

Transporte  e celular: Nós caminhamos bastante para explorar a cidade, mas isso não seria possível sem a ajuda do Google Maps porque é bem fácil se perder, principalmente entre os souks. Eu também tinha descarregado o aplicativo de mapas off-line maps.me, mas ele não funcionou corretamente. Uma dica para você consultar a internet e usar os mapas é comprar um chip para celular assim que desembarcar no aeroporto. Logo depois do controle dos passaportes você encontra um guichê da empresa Inwi, que oferece planos bem em conta para quem permanecer no país por pelo menos alguns dias.

Em quase toda a área da Medina é proibida a circulação de carros, mas principalmente nos dias de calor, onde caminhar pela cidade não é tão fácil, você pegar um táxi bege. A maioria dos táxis não são novos e como poucos usam o taxímetro, calcule que uma corrida dentro da cidade, durante o dia, custa em média 20 dh, ou 30 durante a noite.

Nos arredores da praça Jemaa el-Fna também ficam os Caléche, carroças puxadas por cavalos, mas eu não sou fã desse tipo de entretenimento para turistas. Do aeroporto para o seu hotel, aconselho que você já reserve um transfer antecipadamente.

Comida: A comida de Marrakech é famosa pelo seu sabor agridoce, pelo perfume de cominho, canela e outros temperos que em diversos pratos unem-se a uva passa, amêndoas, damascos e ameixas. Não deixe de provar especialidades como o couscous preparados nas panelas de terracota conhecidas como tajine, a pastilla, torta de massa folhada recheada com carne de frango ou pombo, os briouates, rolinhos de carne que também tem uma versão doce, e o chá com folhas de menta para se degustado a qualquer hora. 

Evite beber água da torneira e consumir produtos de street food expostos ao sol. Também vale a pena sublinhar que a venda de bebidas alcoólicas é proibida dentro da Medina e que os restaurantes já incluem na nota uma taxa de 19%. Marrakech também tem endereços de restaurantes descolados e entre eles estão o Le petit Cornichon,  Le Jardin, Dar Anika, La Maison Arabe e Nomad (endereços no final do post).

Lembre-se que o Marrocos é um país muçulmano e que o Ramadã, ou mês do jejum, é uma manifestação sagrada para os fiéis. O Ramadã coincide com o nono mês do calendário lunar muçulmano (geralmente entre os meses de março e junho) e prevê que todo adulto da religião, com exceção de doentes, crianças e grávidas, permaneçam em jejum (inclusive de líquidos) do nascer do sol até o anoitecer. Nesse período, é boa regra não fumar em público ou comer pelas ruas.

Uma experiência que você não pode perder é aquela de comer em um dos cafés ou restaurantes com terraço que oferecem uma vista da cidade como o Café des Épices ou no teto do Kasbah Café, pertinho das famosas Tumbas Saadies.

Compras e experiências locais: Passear entre as inúmeras lojas de artesanato no souk da Medina é um programa imperdível em Marrakech, mas antes de comprar qualquer coisa prepare-se para pechinchar. A maioria das mercadorias não tem preços. Discutir o seu valor faz parte da cultura local, mas também pode ser estressante e exigir tempo. Como regra, considere que o preço justo para uma mercadoria é, em média, um terço daquele pedido incialmente pelo vendedor.

Admire os tapetes, lâmpadas, as cores dos temperos, as variedades de chá, os artigos em couro e o artesanato de madeira. Também não deixe de levar para casa o típico óleo de argan e o Aker el Fassi, uma pigmentação natural a base de pó de papoula e casca de romã que funciona como batom vendido em uma espécie de pires de terracota. Basta umedecer os dedos e tocar o pires para obter a cor e aplicá-la pelos lábios. Para comprar esse tipo de artigo, vá até a Herbes Marocaine (30, Riad Zitoune Ladkin), cujo proprietário até arrisca algumas palavras em português.

Do lado norte da Medina, chegue até Mouassine se quiser fazer compras em uma zona trend, ou até Bab Laksour para encontrar concept stores.Depois das compras e para viver uma autêntica experiência marroquina, prove um hammam-spa privado como o Le Bain Bleu ou prove a emoção de fazer uma tatuagem de henna no Henna Art Café. Principalmente nos arredores da praça Jemaa el-Fna muitas mulheres convidam turistas a sentar e escolher uma tatuagem, mas muitas vezes os pigmentos usados são sintéticos e por isso mais escuros, quase pretos. A henna natural tem uma coloração avermelhada e no Henna Art Café você escolhe a sua tatuagem em uma pasta com vários desenhos e, indiretamente, apoia a emancipação feminina. A tatuagem leva um tempo até secar mas depois que a sua parte mais superficial (aquela escura) for eliminada depois de molhada, o desenho avermelhado dura em média duas semanas. 

Clima: Prefira visitar Marrakech durante a primavera, quando apesar do tempo seco as temperaturas são mais amenas e ainda será possível passear pelas ruas sem se cansar.Durante o verão as temperaturas são para os fortes e nesse período será complicado circular pelas ruas.No outono, o clima é agradável, mas você pode encontrar dias de chuva. Durante o inverno, as temperaturas entre o dia e noite oscilam bastante.

Hotel ou Riad? Pessoalmente, eu não pensaria duas vezes e escolheria um Riad, a fórmula de acomodação que, na minha opinião, mais combina com o Marrocos. Os Riads são casarões históricos que geralmente escondem-se atrás de uma porta aparentemente anônima. Como ficam dentro da Medina, não é possível chegar até lá de carro. Os motoristas costumam deixar os turistas em suas proximidades.

Possuem poucos quartos decorados com o típico artesanato marroquino e um cenográfico pátio interno com sofás, plantas e onde a protagonista é uma piscina ornamental. Nós ficamos noRiad Adika e fomos muito bem tratados, com direito a chá e biscoitos de boas-vindas e muitas dicas sobre a cidade.

Quase sempre são administrados por europeus e representam um refúgio depois de um dia movimentado circulando pela cidade, principalmente naqueles que oferecem tratamentos como massagens. A atmosfera de um Riad é quase familiar. Então, não espere encontrar nessas estruturas os serviços de grandes hotéis. Quase todos têm uma “dada” (cozinheira) que prepara pratos típicos locais, mas quase sempre é necessário avisar com um dia de antecedência que você pretende jantar no riad.

Endereços:

Le petit Cornichon:27 Rue Moulay Ali,

Le Jardin: Souk Sidi Abdelaziz

Dar Anika:112 Riad Zitoun Kedim

La Maison Arabe:Derb Assehbi,

Nomad:1 Derb Aarjane,

Kasbah Café: Rue de La Kasbah,

Café des Épices: 75 Derb Rahba Lakdima

Le Bain Bleu: 32 Derb Chorfa Lakbir

Henna Art Café:35 Derb Sqaya Riad Zitoun El Kdim

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