A outra capital. O Coliseu quadrado no bairro EUR em Roma

O nome EUR (acrônimo de Exposição Universal de Roma), bairro da parte sul de Roma, soa estranho para a maioria de nós. A capital italiana evoca ruínas, o antigo, o passado. Parece incompatível com o mundo das finanças, com arranha-céus e até mesmo com o futuro. Ou você saberia identificar na cidade eterna o homólogo de Wall Street, da City londrina ou até de Piazza Affari, em Milão?

Poucos estrangeiros imaginam que Roma também tem o seu centro de negócios, seus edifícios envidraçados, seus executivos e banqueiros engravatados que do alto de uma sede anônima observam os mortais que lá embaixo, na Via Cristoforo Colombo, parecem caminhar de um lado para o outro como formigas. É o EUR.

Você poderia pensar que esse tipo de bairro não é território para turistas, mas não é bem assim. Não se você quiser voltar para casa conhecendo uma página importante, e contraditória, da história italiana.

À primeira vista, o EUR destoa com o resto da capital. Suas avenidas largas, sua pouca familiaridade com pedestres, a ausência de praças que funcionam como pontos de agregação, seus edifícios imponentes mas de estilo essencial e austero nos fazem pensar que estamos em uma outra cidade.

Originalmente, o EUR foi projetado para uma exposição universal prevista para 1942 e nunca realizada na cidade devido à Segunda Guerra Mundial.

A Itália vivia sob o comando de Benito Mussolini. No chamado “ventennio” (20 anos) de domínio fascista, Roma alargava o seu domínio além das fronteiras tricolores. O expansionismo na África também refletiu-se em Roma, exaltada pela retórica fascista como “a capital do novo império”.

Nesse período nascem novas zonas residências na capital, inclusive para receber as famílias que tiveram suas casas desapropriadas para a construção da Via dei Fori Imperiali. É também nessa época que a Roma exibe o melhor da chamada arquitetura racionalista.

Mussolini utilizou a arquitetura como meio de propaganda e uma das construções mais emblemáticas dessa lógica é o Palazzo della Civiltà e del Lavoro, mais conhecido como “o Coliseu quadrado” dos arquitetos Guerrini-Lampadula e Romano.

O edifício de mais de 60 metros de altura foi inaugurado em 1940.  É caracterizado por quatro fachadas e cada uma delas têm em seis filas de nove arcos, exatamente como as letras dos nomes (Benito, 6) e Mussolini (9). No alto, é muito evidente a escrita “Un popolo di poeti, di artisti, di eroi, di santi, di pensatori, di scienziati, di navigatori, di trasmigratori”.

Inspirado nas arcadas do Coliseu, o prédio tem quatro faces. Fica no alto de escadarias e se observado de longe esse feito de sujeição, exalta a sua imponência. O Coliseu quadrado é circundado por 28 estátuas monumentais de quatro metros de altura que representam as artes e as profissões da civilização italiana.

Desde 2015 os 8400 metros do edifício são a sede dos escritórios da Maison Fendi em Roma, que alugou o monumento por cerca de 2 milhões e 800 mil euros por ano. No primeiro andar do edifício a grife também reservou um espaço para mostras e instalações periodicamente abertas ao público.

Na vizinhança do Palazzo della Civiltà e del Lavoro também ficam outras atrações interessantes como as cerejeiras floridas (na época da primavera) de um parque arborizado e o Museo della Cività Romana, conhecido pelas reproduções dos relevos da Coluna de Trajano, e o Palazzo dello Sport, hoje utilizado para shows.

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Êxtase de primavera. As cerejeiras em flor do bairro EUR em Roma

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