Crônica de um dia qualquer. Rotina e desconfiança na Itália que enfrenta o coronavírus
Dia de céu límpido e de ar frio em Roma. Cerca de 8 graus. A primavera está quase chegando e com ela a esperança que as temperaturas mais agradáveis freiem a epidemia de coronavírus na Itália, assim como acontece, todos os anos, com os resfriados e as gripes.
Na capital a atmosfera ainda é tranquila. Os romanos seguem a própria rotina. Deixam os filhos na escola. Seguem para o trabalho enfrentando o trânsito caótico. Frequentam as cafeterias. Vão aos supermercados. E acompanham os noticiários e atualizações sobre a evolução dos casos de contágio.
Em pouco tempo, aumentam os boletins com a lista de países que bloqueiam totalmente ou exigem preventivamente a quarentena para passageiros provenientes da Itália. Italianos que deveriam desembarcar em Tel-Aviv foram obrigados a pegar um voo e voltar para casa. A notícia que o navio de cruzeiro MSC Meraviglia com turistas italianos a bordo tenha sido proibida de atracar em dois portos da América Central, depois de um caso de gripe a bordo, causa nervosismo e irritação.
Penso nos conceitos de “turista” pós-moderno e “vagabundo” idealizados pelo sociólogo Zygmut Bauman. Na globalização que impulsiona a mobilidade ilimitada de uns e gera a reclusão e a exclusão de outros.
Para algumas autoridades internacionais, as medidas para evitar o contato com italianos são legítimas. Em solo italiano, há quem torça o nariz pensando em uma discriminação irracional e não justificável. Como não lembrar dos rigorosos controles e inspeção sanitária aos quais eram submetidos os imigrantes italianos que desembarcavam em Ellis Island, nos Estados Unidos da América?
Do lado de cá do globo terrestre, mais precisamente na Sicília, um braço de ferro entre o presidente da região, Nello Musumeci, que reivindicava a quarentena a bordo para os 194 imigrantes no interior do navio humanitário da ONG Sea Watch 3 e o vértice do governo, que autorizou o desembarque em Messina.
O governo repete com frequência que esse é o momento da unidade nacional, da coerência, e não uma ocasião para instrumentalizar um período dramático em busca de consenso eleitoral.
Ainda não vi estatísticas relativas ao grau de consenso popular às medidas adotadas pela Itália no combate ao coronavírus, mas a sensação é que, apesar de suscetível a algumas críticas, a transparência, o rigor científico e a iminente tomada de decisões sejam apreciadas pelos italianos.
Vale lembrar que os médicos e cientistas do hospital Spallanzani, de Roma, especializado em doenças contagiosas, conseguiram isolar o Coronavírus ou Covid-19. Na mesma estrutura hospitalar foram totalmente curados três pacientes internados por conta do coronavírus. Entre eles, o casal de turistas chineses classificados como os primeiros casos na capital.
Ao contrário de países onde um cartão de crédito é uma condição sine qua non para o acesso à saúde, o sistema público italiano, apesar de imperfeito, sempre garantiu assistência gratuita a todos, inclusive a estrangeiros de passagem pelo país.
Os números relativos ao Covid-19 são eloquentes. Até agora são 5061 casos confirmados no dia 7 de março, às 18h, hora italiana. 233 mortes. 589 pacientes curados. Dados que causaram um alarme internacional.
A Itália, mesmo consciente do peso das estatísticas no mundo da especulação financeira, incialmente realizou os testes para detectar o coronavírus não só em pessoas com sintomas, mas em toda a fileira de possíveis contágios. A mesma estratégia não foi adotada por outras nações. Certo ou errado?
Um fil rouge une quem está do lado de cá ou de lá da fronteira simbólica imposta à chamada zona rossa, ou seja, nos comuni temporariamente isolados da região Lombardia, onde concentra-se o maior número de casos de contágio. Pelas cenas da TV assistimos uma moradora protegida por uma máscara que leva uma garrafa térmica com café aos policiais que estão controlando a zona, off-limits para entrada e saída.
O outro lado da história é a ânsia, aquela histeria coletiva provocada por um possível contágio. Nesses dias de tensão política e de desconfiança recíproca, mais do que nunca as mídias sociais propagaram o eco de um sentimento contrastante. Antes que as regiões do sul do país registrassem casos de contágio, com tom de ironia, na rede era fácil encontrar fotografias de cartazes com a escrita “non si affittano case ai settentrionali” (não alugam-se casas a pessoas do norte), invertendo um clássico estereótipo de racismo contra os meridionali, ou moradores do sul da Itália. Fake news ou realidade?
A verdade é que qualquer epidemia ativa medos ancestrais. A simples menção de palavras como peste, cólera e ebola provocam tremores. A “força assustadora” do covi-19 está no fato de não ter um único rosto, uma única cor. Em tempos de reconhecimento facial, de câmeras, de controle absoluto, o coronavírus choca porque não tem uma identidade unívoca.
Antes que ele se espalhasse pelo mundo o seu nome era associado a um território, a pessoas com olhos puxados. Hoje basta que um vizinho de casa ou um parente tussam para que você afaste-se com um olhar de reprovação, como se o inimigo morasse logo ali, ao lado. O perigo não chega mais por via marítima. Nos barcos infláveis. Não está isolado no longínquo Oriente. E não há distância de segurança que possa garantir total imunidade contra ele.
O imprevisível, o incontrolável, aumenta uma intolerância sutil e discreta que nenhuma lavagem enérgica das mãos poderá anular.
Em italiano
Cronaca di un giorno qualunque. Consuetudine e diffidenza nell´Italia che affronta il coronavirus
Giornata di cielo limpido e di aria fredda a Roma. Attorno agli 8 gradi. La primavera sta per arrivare e con essa la speranza che le temperature più miti fermino l’epidemia di coronavirus in Italia, come succede, ogni anno, con il raffreddore e l’influenza.
Nella capitale l’atmosfera è ancora tranquilla. I romani seguono la propria routine. Lasciano i figli a scuola. Proseguono per il lavoro affrontando il traffico caotico. Frequentano i caffè. Vanno al supermercato. E seguono i notiziari e gli aggiornamenti sull’evoluzione dei casi di contagio.
In breve tempo aumentano i bollettini con l’elenco dei paesi che bloccano o richiedono preventivamente la quarantena per i passeggeri provenienti dall’Italia. Gli italiani che avrebbero dovuto sbarcare a Tel Aviv, per esempio, sono stati costretti a prendere un volo e a rientrare a casa.
La notizia che la nave da crociera MSC Meraviglia con i turisti italiani a bordo è stata bandita dall’attracco in due porti dell’America centrale, dopo un caso di influenza a bordo, provoca nervosismo e irritazione.
Penso ai concetti di “turista” post-moderno e “vagabondo” elaborati dal sociologo Zygmut Bauman. Nella globalizzazione che spinge la mobilità illimitata degli uni e genera la reclusione o la esclusione degli altri.
Per alcune autorità internazionali, le misure per evitare il contatto con gli italiani sono legittime. Sul suolo italiano, ci sono quelli che storcono il naso ritenendo che si tratti di una discriminazione irrazionale e ingiustificata. Come non ricordare i controlli rigorosi e le ispezioni sanitarie alle quali furono sottoposti gli emigranti italiani che sbarcavano a Ellis Island, negli Stati Uniti d’America?
Da questa parte del globo, più precisamente in Sicilia, un braccio di ferro tra il Presidente della regione, Nello Musumeci, che pretendeva per i 194 migranti la quarantena a bordo della nave umanitaria della ONG Sea Watch 3 e i vertici del Governo che hanno autorizzato lo sbarco a Messina.
Il governo ripete con regolarità che questo è il momento dell’unità nazionale, della coerenza e non un’occasione per usare un periodo drammatico in cerca di consenso elettorale.
Non ho ancora visto statistiche sul grado di consenso popolare sulle misure adottate dall’Italia per combattere il coronavirus, ma la sensazione è che, nonostante siano suscettibili di critiche, la trasparenza, il rigore scientifico e il rapido processo decisionale sono apprezzati dagli italiani. Vale la pena ricordare che medici e scienziati dell’ospedale Spallanzani di Roma, specializzati in malattie infettive, sono stati in grado di isolare il Coronavirus o Covid-19.
Nella stessa struttura ospedaliera sono stati curati i tre pazienti ricoverati a causa del coronavirus, compresa la coppia di turisti cinesi considerati i primi casi nella capitale.
Al contrario dei paesi dove la carta di credito è una condizione sine qua non per l’accesso alla salute, il sistema pubblico italiano, anche se imperfetto, ha sempre garantito assistenza gratuita a tutti, anche agli stranieri di passaggio.
I numeri relativi al Covid-19 sono eloquenti. Fino adesso, sono 650 casi confermati in data 27 febbraio, alle 18, ora italiana. 19 decessi. 45 pazienti curati. Dati che hanno provocato un allarme internazionale.
L´Italia, anche se consapevole del peso delle statistiche nel mondo della speculazione finanziaria, inizialmente ha realizzato i tamponi per identificare il coronavirus non solo nei pazienti sintomatici, ma a tutta la filiera di possibili contagi. Giusto o sbagliato?
Un fil rouge unisce chiunque si trovi da questa parte o là del confine simbolico imposto alla cosiddetta zona rossa, cioè nelle comunità temporaneamente isolate della regione Lombardia, dove si concentra il maggior numero di casi di contagio. Nelle scene televisive, abbiamo visto una residente protetta da una maschera che porta un thermos di caffè ai poliziotti che controllano l’area, vietato l’ingresso e l’uscita.
L’altro aspetto della storia è l’ansia, quell’isteria collettiva causata da un possibile contagio. In questi giorni di tensione politica e sfiducia reciproca, i social media hanno diffuso più che mai l’eco di sentimenti ostili. Prima che le regioni meridionali del Paese registrassero casi di contagio, con tono ironico, sulla rete era facile trovare fotografie di affissioni con la scritta “non si affittano case ai settentrionali” (case non affittate a persone del nord), invertendo uno stereotipo classico della discriminazione contro i meridionali, o residenti nell’Italia del Sud. Fake news o realtà?
La verità è che qualsiasi epidemia scatena paure ancestrali. Il semplice accenno a parole come peste, colera ed ebola provoca tremori. La “forza spaventosa” del covid-19 sta nel fatto che non ha un solo volto, un solo colore. In tempi di riconoscimento facciale, telecamere e controllo assoluto, il coronavirus confonde perché non ha un’identità univoca.
Prima di diffondersi in tutto il mondo, il suo nome era associato a un territorio, a persone con gli occhi a mandorla. Oggi è sufficiente che un vicino o un parente tossisca perché tu te ne vada con uno sguardo di disapprovazione, come se il nemico vivesse lì, proprio accanto. Il pericolo non arriva attraverso il mare. Sui barconi. Non è isolato in Estremo Oriente. E non esiste una distanza di sicurezza che possa garantire una completa immunità contro di lui.
L’imprevisto, l’incontrollabile, aumenta un’intolleranza sottile e discreta che nessun lavaggio vigoroso delle mani può annullare.