Domus Aurea, a villa do imperador Nero
A imagem do imperador Nero sempre foi associada aquela de uma personalidade excêntrica, capaz de cometer atos como incendiar Roma e assassinar a própria mãe, o meio-irmão e a esposa.
O imperador nunca teve uma boa reputação, mas alguns estudiosos afirmam que, na verdade, a história sempre ressaltou os aspectos negativos de Nero em detrimento de suas qualidades.
Vale a pena lembrar que ele tornou-se imperador aos 17 anos de idade e que durante os episódios de incêndio (frequentes na cidade pois as casas eram de madeira) ele não encontrava-se na capital.
O que provavelmente aconteceu, segundo o escritor Tácito, é que o imperador soube aproveitar a devastação para realizar um projeto megalomaníaco: a construção, a partir de 64 d.C, da chamada Domus Aurea ou Casa de Ouro, um palácio que chegou a ocupar uma área de quase 100 hectares. O mais incrível é que essa obra gigantesca foi concluída em cerca de quatro anos!
O complexo, que permaneceu fechado por um bom tempo, foi restaurado e foi reaberto ao público para visitas desde 1 de março, mas somente durante os finais de semana.
Eu comprei os ingressos antecipadamente, coloquei os capacetes de proteção e, guiada por uma arqueóloga, explorei as ruínas desse complexo situado a cerca de 40 metros de profundidade. Imaginem a dificuldade de recuperar a estrutura de um palácio que foi parcialmente reutilizado pelos imperadores Tito e Trajano para construir suas termas e que sucessivamente foi recoberto pelos jardins públicos de Colle Oppio, aquele parque que você encontra ali pertinho do Coliseu.
A Domus Aurea recebeu esse nome por causa de um jogo de reflexos e luzes em suas paredes de mármore e algumas folhas de ouro que recobriam alguns ambientes, mas esse não era o único luxo que Nero concedeu a si mesmo. O complexo também abrigava uma estátua que representava o imperador como o Deus do Sol e que superava os 36 metros de altura.
A estátua chamava-se Colosso de Nero e, mais tarde, inspirou o nome do anfiteatro mais famoso de Roma: o Coliseu. Considerando que o Coliseu possui pouco mais de 48 metros de altura, fica fácil imaginar a dimensão da estátua?
A Domus Aurea foi descoberta casualmente em 1488, quando algumas pessoas que passeavam pelo Colle Oppio encontraram buracos no terreno e decidiram explorá-los com o auxílio de cordas e velas. Os sinais deixados pelas chamas ainda são visíveis nos tetos do complexo. Inicialmente, o lugar foi confundido com o Palácio de Tito.
Quando, finalmente, descobriu-se que tratava-se da famosa Domus Aurea, o número de curiosos que passou a explorar o local cresceu rapidamente.
Os afrescos que decoravam o teto da casa atraíram curiosos anônimos e artistas famosos como Michelangelo, Raffaello e Pinturicchio, que deixou a sua assinatura em um de seus muros.
A suntuosa construção não era, simplesmente, uma casa, mas um espaço reservado ao otium romano (ócio). Além de locais fechados, também possuía jardins dedicados a passeios, com direito a um lago artificial e ambientes para discussões filosóficas. Vale lembrar que Nero era um amante das artes, tocava cítara e escrevia poesias.
Durante o passeio guiado, apesar dos efeitos do tempo os destaques são os tetos abobadados, os vestígios de afrescos e um incrível salão octogonal com um teto em cúpula construído décadas antes da conclusão do famoso Panteão.
Até hoje foram descobertos somente 150 das mais de 300 salas da Domus Aurea, mas somente 30 delas são acessíveis ao publico por motivos de segurança. Atualmente, os principais inimigos da estrutura são o peso dos jardins localizados sobre a Domus Aurea e a umidade que coloca em risco os seus afrescos.
Durante o percurso guiado, os visitantes cruzarão com uma sala com alguns dos afrescos que foram temporariamente removidos das paredes para serem devidamente tratados.
A visita ao local é uma ótima maneira de constatar, mais uma vez, a grandiosidade do império romano.