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Ferragosto na Itália. Os diversos significados do feriado símbolo das férias italianas

Ferragosto na Itália. Se alguma vez você já planejou uma viagem para o Belpaese, já deve ter ouvido falar do feriado símbolo das férias italianas. O que nem todo mundo sabe é que o Ferragosto possui diversos significados e que se trata de um conceito que, com o tempo e evolução ou involução do mercado de trabalho. Explico melhor.

Ferragosto na Italia

Tudo começa com a república romana, que durou entre 509 a.C e 27 a.C. Originariamente, agosto era chamado de “sextilis”, ou o sexto porque o calendário da época não coincidia com aquele atual e começava praticamente 60 dias mais tarde.

Ferragosto na Italia

Júlio César dedicou a si mesmo o “quintilis”, quinto do ano, transformando-o em ‘Iulius’, termo do qual deriva ‘luglio’ (julho), que era o sobrenome de sua dinastia ‘Iulia’. Isso até a transição da República a Império, quando o calendário foi reformado e em 31 a.C seu filho adotivo, Ottaviano Augusto, foi nomeado primeiro imperador de Roma.

Ferragosto na Italia

Em 18 a.C atribuiu um mês a si mesmo, que passou a se chamar agosto e como se não bastasse, escolheu um dia para que todos os romanos se lembrassem dele, inclusive os escravos. Foi assim que nascia o feriado de feriae augusti’, ou seja, férias de Augusto.

Antes mesmo dos romanos foi Péricles, líder da democracia ateniense, que em 420 a.C, o primeiro a defender a necessidade de repouso para renovar o espírito.

Ferragosto na Italia

Na Itália, o 15 de agosto também é uma festa religiosa, dedicada a Assunção de Nossa Senhora ao céu, festejada desde o VII século, mas essa conotação é sempre menos lembrada, cedendo espaço ao Ferragosto como sinônimo de pausa do trabalho durante o ápice do verão.

Em tempos modernos, os franceses foram os primeiros a garantir, com uma lei de 1936, férias retribuídas de quinze dias a todos os trabalhadores. No ano seguinte, mais de um milhão de cidadãos partiram para seus primeiros dias de descanso. A Itália replicou a iniciativa francesa em 1947, no artigo 36 de sua Constituição.

Ferragosto na Italia

Foi durante o Fascismo, com a instituição dos trens populares e ofertas de passagens a preços especiais para distâncias até 100 e 200 km, que os italianos começaram a se deslocar nos dias 13, 14 e 15 de agosto.

Por décadas, o Ferragosto representou uma pausa coletiva, quase comparável ao nosso “depois do Carnaval” ou, como definiu Roland Barthes, “o Ano Novo da sociedade do tempo livre”.

Durante os dias que antecedem o feriado, trânsito pesado nas rodovias, praias lotadas, parques invadidos por famílias que organizam piqueniques, lagos repletos de visitantes, museus com ingressos sold out e cidades de montanha repletas de turistas são cenas comuns nos jornais italianos.

Ferragosto na Italia

Grande parte do comércio fecha suas portas, mas a verdade é que essa realidade também mudou nos últimos anos. No país do trabalho precário e ocasional, dos trabalhadores autônomos e remotos, daqueles que no máximo possuem um contrato part-time, nem sempre o Ferragosto coincide com uma pausa ou a possibilidade econômica de conceder-se férias ou pagar preços altos para alugar uma espreguiçadeira e um guarda-sol.

Ferragosto na Italia

É por isso que as prefeituras de muitas cidades tentam propor alternativas de lazer populares para quem permanece nas metrópoles. Nápoles, por exemplo, propõe o uso de praias urbanas a preços acessíveis. Roma, cinema ao aberto no Lungotevere. Porque, pelo menos na teoria, o ócio não deve ser privilégio de poucos.

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