Roma além do óbvio; emocionar-se no antigo gueto judaico
Já contei aqui no blog que existem muitas Romas a serem exploradas e uma daquelas que mais me fascina é aquela judaica. Para os turistas que passeiam pelos arredores das ruínas do Portico d’Ottavia – considerada a porta de entrada para o antigo gueto – talvez seja complicado imaginar o horror que caracterizou o lugar séculos atrás.
Hoje, em meio a fontes monumentais, docerias, lojas de tecidos e restaurantes kosher que exalam perfume de alcachofra frita no ar, as lembranças da perseguição aos judeus parecem remotas. No entanto, basta um olhar mais aguçado para evocar as memórias do passado.
Para quem não sabe, a palavra italiana “ghetto” deriva do dialeto veneziano e indicava as fundições públicas nas quais eram fabricados morteiros e canhões para navios. Era naquela área que residiam os judeus de Veneza. Em Roma, a zona conhecida como “gueto” é aquela que estende-se das margens do rio Tibre, com a Sinagoga, passa pelo Teatro de Marcelo e chega até o Palazzo Cenci.
O gueto foi instituído em 1555 pelo Papa Paulo IV, que estabeleceu as fronteiras da área de segregação, e aberto definitvamente em 1848, graças ao Papa Pio IX.
Se fizermos as contas, foram quase três séculos de sofrimentos e humilhações e foi somente o Papa João Paulo II que finalmente declarou que a Igreja católica deveria ter intervindo com afinco na defesa dos judeus durante o Holocausto.
Quem circula em meio aos modernos barzinhos do bairro precisa imaginar que, antigamente, aquela era uma das áreas mais repugnantes da cidade. O gueto era alvo de frequentes inundações por parte das águas do Tibre, não possuia uma rede de esgoto e para distinguir-se do resto da população seus habitantes eram obrigados a vestir um bone amarelo, no caso dos homens, e um xale da mesma cor, no caso das mulheres.
Em menos de sete hectares de terra viviam mais de 4 mil pessoas.Os judeus eram autorizados a sair durante o dia, mas tinham que obedecer um toque de recolher e retornar ao gueto antes que os portões fossem trancados, à noite. Aos domingos, eram forçados a assistir sermões cristãos na igreja de Sant´Angelo in Pescheria e essa obrigação so foi abolida em 1848.
A perseguição também continuou com as leis anti-semitas de Mussolini e durante os onze meses de ocupação nazista, entre 1943 e 1944. Dos cerca de 13 mil moradores do gueto romano, dois mil foram enviados para campos de concentração.
Quando passear pelo gueto, não siga um roteiro preciso mas caminhe sem destino e deixe que a atmosfera do lugar guie os seus passos. Se a mente correr solta, você nem vai escutar as buzinas que atormentam os motoristas que circulam pelo lungotevere e vai achar que está em qualquer outra cidade, mas não em Roma.
Não deixe de fotografar a famosa Fontana delle Tartarughe, a fonte de Piazza delle Cinque Scole, (desenhada por Giacomo della Porta), as ruínas do Portico d’Ottavia, erguida pelo imperador Augusto em homenagem à irmã – e a igreja de Sant’Angelo in Pescheria, que deve o seu nome a sua antiga proximidade com o mercado de peixes.
Se tiver tempo, tente visitar o Templo Maior, a Sinagoga construída entre 1897 e 1904 e hoje ponto de encontro dos 16 mil judeus que vivem na capital. Para os gulosos, a sugestão é uma parada na Boccione (via del Portico d’Ottavia, 1), o paraíso dos doces kosher, ou um almoço no Sora Margherita (Piazza delle Cinque Scole, 30). Apesar do espaço limitado e sem frescuras, o local é frequentado por famosos que não perdem a chance de degustar pratos típicos da cozinha romana.
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Excelente postagem !
Eliane
No guetto de Roma tem uma rua chamada Catalana. O nome faz referência aos muitos judeus de Barcelona que fugiram daqui e foram para o guetto de Roma. Barcelona também tem um bairro judeu e aqui eles também tinha que levar uma identificação quando saiam do bairro. 🙂 Adorei o post!
Cris, vou procurá-la. Muito obrigada pela info. Beijossss
Por favor citar a fonte do texto.
Pingback: Roma: lugares para se apaixonar III – viagensdamafe
Nossa! Só hoje, 29 de Junho de 2017, tive acesso a este site. Meus parabéns, está excelente. Muito bem escrito, informações importantíssimas… grata por tudo!
Grazie querida! Obrigada pelos elogios! Fico muito feliz! se puder, indique o site para amigos e parentes!
parabéns pelo seu trabalho. fui hoje seguindo os seus passos. incrível!
Grazie mille! Fico muito feliz, Francisco.