Lucignano d’Asso: o burgo toscano de apenas duas ruas
Quem programa uma viagem pela Vale do rio Orcia, na Toscana, provavelmente não deixa de incluir no roteiro cidades famosas como Pienza e Montalcino. Adoro ambas, mas um dos objetivos desse blog é trazer à tona lugares menos conhecidos, revelar a Itália autêntica; aquela livre de clichês e lugares comuns.
Uma das melhores maneiras de descobrir cantinhos exclusivos, peculiaridades ou tradições locais é conversar com seus moradores.
Depois de “quebrar o gelo” você perceberá que os italianos gostam de exaltar as riquezas naturais ou artísticas de seu próprio território e não economizarão palpites em seu itinerário de viagem.
Descobri Lucignano d’Asso assim, quase sem querer, graças a uma “chiacchierata” (bato-papo). O burgo é uma fração de San Giovanni d’Asso (na província de Siena) e apesar de situar-se nos arredores de metas turísticas muito famosas soube conservar e valorizar o seu isolamento.
O que para muitos poderia ser considerado um defeito – o fato de viver quase uma dimensão paralela – para mim é uma qualidade e tanto.
O vilarejo possui apenas duas ruas, duas pequeninas igrejas, um punhado de casas ainda habitadas, uma fonte, uma antiga mercearia, uma residência nobre e um requintado hotel/relais de charme formado por cinco casas e chamado Borgo Lucignanello. A estrutura hoteleira possui uma piscina panorâmica com vista para as colinas da região.
Não espere chegar a Lucignano d’Asso e encontrar restaurantes ou lojas de suvenires. Em vez de moradores, é mais provável que cruze com ciclistas em busca de um lugar silencioso e quase esquecido.
Com arquitetura prevalentemente medieval, desde 1485 o burgo é uma propriedade dos Piccolomini, uma família de grande peso político que entre seus descendentes também teve dois Papas.
Cada detalhe do vilarejo denota o seu passado. Observe, por exemplo, objetos como as velhas caixas de cartas “Regie Poste”, que lembram o serviço de correio da Itália unida, inaugurado em 1862, a placa com a inscrição “dopolavoro”, indicando um ponto de encontro entre trabalhadores do burgo ou a casa cuja parede possui a frase “La scienza, la volontà, la fede, possono attenuare gli effetti delle forze non benefiche della natura”, provavelmente escrita durante os anos do fascismo.
A principal distração em Lucignano d’Asso é a natureza. Ali você é quase obrigado a notar a beleza e a força das paisagens agrícolas que circundam o burgo.
A única mercearia do vilarejo é aquela da senhora Rita, que também possui uma surpresa. No interior do local fica uma verdadeira cantina etrusca.
Com a lentidão típica de quem sabe que a vida é curta demais para desperdiçar momentos mágicos, ela prepara na hora sanduíches com pão toscano rigorosamente sciapo (sem sal) e os melhores frios da região.
Em seguida, enche um cálice de vinho e convida os poucos aventureiros que passam por lá a sentar-se em uma das mesas que ficam do lado de fora da mercearia, estrategicamente posicionadas para admirar o Monte Amiata e as colinas toscanas. Pelo menos nesse momento, qualquer outra coisa seria desnecessária.
Parabéns pela matéria! “…soube conservar e valorizar o seu isolamento. O que para muitos poderia ser considerado um defeito – o fato de viver quase uma dimensão paralela – para mim é uma qualidade e tanto.” – compartilho das mesmas idéias e me identifico muito com isso. Em Outubro farei minha primeira viagem pela Toscana, pena que o tempo não permita visitar Lucignano d’Asso, mas vale a dica para a próxima
Grazie mille! Muito feliz com o comentário! Espero que tenha uma viagem maravilhosa e, se possível, que indique o post-italy.com para a,igos e parentes! Abraços, Anelise