O burro que voa perto do Tibre
Em Roma cada esquina revela uma surpresa, muitas vezes inesperada. Estamos acostumados a associar a arquitetura da capital italiana com um passado glorioso, mas o tema do post de hoje é uma página mais recente da história da cidade eterna.
Nem todo mundo sabe que as margens do rio Tibre eram argilosas e que para evitar as frequentes enchentes, em 1870 foram construídos muros de contenção. Essa decisão, no entanto, comportou o fato que casas fossem expropriadas e que muitos edifícios fossem demolidos.
Via di Tor di Nona e suas construções foi uma delas. Localizada paralelamente às margens do rio, bem pertinho da charmosa Via Giulia e nos arredores da Piazza Navona, essa rua era a sede de prédios importantes como o antigo Teatro Tor di Nona, sucessivamente chamado de Teatro Apollo. O local era tão influente que ali foram realizados os espetáculos de abertura de óperas de Giuseppe Verdi.
O teatro foi demolido, cedendo lugar aos muraglioni del Tevere, os muros de contenção do rio. Assim, a região que no final do século XIX era considerada nobre, no final das obras acabou enfrentando um rápido e sensível declínio. Para lutar contra a degradação e abandono da Via di Tor di Nona, no final da década de 70 seus moradores reuniram-se e organizaram protestos.
Na época, o movimento foi apoiado pelos estudantes da faculdade de arquitetura de Roma e também pela influente atriz Isabella Rossellini. Os moradores da rua arregaçaram as mangas e representaram nos muros de Via di Tor di Nona a própria ideia de um mundo ideal. Tratava-se de uma espécie de projeto de street art.
Coloridíssimos, os muros pintados representavam uma utopia: um mundo no qual conviviam personagens fantásticos e diferentes entre si – como sereias e um burro voador – circundados por sentimentos como solidariedade e atos de conscientização sobre o nosso papel da sociedade. Vale lembrar que, na Itália, a década de 70 foi um período de grande fervor intelectual e movimentos caracterizados por uma grande densidade ideológica.
Com o passar dos anos, os murales foram apagados e o único desenho que resistiu ao tempo foi aquele do burro voador. Em dezembro de 2013, os mesmos moradores que, na década de 70, haviam decorado os muros de Via di Tor di Nona pediram uma autorização à prefeitura de Roma. O objetivo era resgatar, pelo menos em parte, as imagens e os ideais utópicos do passado. Na companhia dos filhos, desenharam novamente personagens similares aqueles dos murales originais.
Suas cores vibrantes e seus personagens são um convite à reflexão entre um passeio e outro por Roma. Pelo menos nos faz pensar que um mundo melhor é um desejo que acomuna gerações e resiste ao tempo.
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