Roma secreta

Monte dei Cocci em Testaccio. Em um antigo aterro romano nasce a primeira gruta urbana para afinamento de queijos

Você já ouviu falar do Monte dei Cocci, no bairro de Testaccio? Roma é uma cidade que caminha de mãos dadas com a história e que, de uma certa maneira, antecipou diversos temas que hoje estão no centro de debates internacionais.

Alguns exemplos? Já na antiguidade a disponibilidade hídrica, com a construção de aquedutos, ou a integração de estrangeiros eram prioridades para o império.

Atualmente, um dos fenômenos em pauta entre os vértices políticos é a transição ecológica, os impactos das mudanças climáticas e do aquecimento global.

Monte dei Cocci em Roma

Medidas como a coleta seletiva, o tratamento adequado do lixo, evitar o desperdício de recursos naturais e o consumo consciente se tornaram mais urgentes que nunca, mas são implementadas em ritmos diferentes nos diversos países.

Em Viena, por exemplo, a prefeitura incentiva com um reembolso de 50% o conserto de eletrodomésticos ou objetos, maximizando a sua vida útil, mas o que essa premissa tem a ver com o Monte dei Cocci em Roma?

O Monte dei Cocci é uma colina artificial de 54 metros de altura e 1 quilometro de extensão formada por centenas de “cocci” ou pedaços de objetos de terracota, como ânforas quebradas.

Monte dei Cocci em Roma

Ela está situada no bairro de Testaccio, cujo nome deriva do latim “testae”, que significa “cocci” ou fragmento.

Essa parte da cidade fica próxima ao rio Tibre e a uma antiga zona portuária (Porto Fluviale) que unia a capital com outros portos como aquele de Ostia e diversas províncias do império.

Entre o I e III século d.C, o rio era a principal via de transporte de mercadorias como vinhos e azeites transportados em ânforas, cada uma delas identificadas com os chamados tituli picti, notas escritas com pincel que continham o nome do exportador (muito azeite era proveniente da atual Andaluzia), indicações sobre o seu conteúdo e os controles aos quais as ânforas foram submetidas durante a viagem.

Em outras palavras, uma espécie de “etiqueta” com detalhes sobre o produto.

Monte dei Cocci em Roma

Muitas das ânforas que podiam pesar até cem quilos se rompiam ou não podiam ser reutilizadas pelo deterioramento provocado pelos resíduos de azeite. Sendo assim, seus fragmentos eram depositados um sobre os outros, tentando economizar o máximo de espaço, e intercalados com cal para evitar deslizamentos e o cheiro de azeite rançoso. Criou-se assim um dos primeiros aterros da história e o local era supervisionado por profissionais chamados “curatores”.

A função do Monte dei Cocci começou a mudar a partir do período medieval, quando a colina era utilizada como palco de competições e jogos.

Hoje, unindo história e inovação, surge na capital a primeira gruta urbana de afinamento de queijos e embutidos escavada dentro do Monte dei Cocci.

Monte dei Cocci em Roma

Foto: Andrea di Lorenzo

O local se chama Taste’Accio, em alusão ao nome do bairro e a ideia é de Vincenzo Mancini, já proprietário de um empório localizado na periferia romana (Di Origine Laziale) que conquistou os paladares de entendedores gastronômicos.

Tratando-se de um hipogeu, o local sob o Monte dei Cocci é uma gruta natural, com temperatura constante entre 10 e 15 graus e umidade controlada. Um ambiente que Mancino transformou em um caveau que une arte e tesouros gastronômicos. O resultado são queijos e embutidos macios e de sabor intenso, impossíveis de serem reproduzidos em ambiente industrial.

Monte dei Cocci em Roma

Fotos: Andrea di Lorenzo

Taste’Accio funciona com a venda direta de produtos de pequenos produtores do Lácio e também como espaço gastronômico para a degustação de queijos e embutidos harmonizados com vinhos, em um ambiente circundado por mostras temporâneas e instalações artísticas.

Taste’Accio 

Via di Monte Testaccio, 93

Aberto de segunda a sábado das 10h20 às 20h.

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