Busca de antepassados italianos: dicas para uma pesquisa genealógica
Como quase todo brasileiro, sou o resultado de um mix de culturas. Avô espanhol, avó de origem polonesa, bisavós italianos. Confesso para vocês que durante toda a minha existência, um fio invisível me ligava a um personagem: minha bisavó materna.
Eu a conheci somente através de poucas fotos que a retratavam em idade avançada. Durante anos tentei imaginar o seu rosto jovem, o tom de voz, como suas rugas se dissipavam em um sorriso. Pensei que, se pudesse, sentaria ao seu lado e lhe pediria simplesmente para me contar quem é, sem filtros, sem que polisse os momentos felizes, abrandasse as amarguras ou apagasse os ressentimentos. Um resgate nu e cru.
As perguntas seriam tantas. Como era a Itália que você deixou? Que Brasil sonhava encontrar? Como concentrar em uma mala uma vida inteira? De onde veio a coragem para enfrentar uma viagem rumo ao desconhecido com dois filhos pequenos?
Juntando seus poucos objetos pessoais a fotografias em preto e branco, consegui reconstruir mentalmente uma mulher e guardei essa bisavó idealizada em uma de minhas gavetinhas imaginárias.
Por destino, coincidência, afinidade ou todos esses elementos juntos, me mudei para a Itália em 2001 e quase todos os anos passei férias em uma de minhas regiões favoritas no país; a Toscana.
Ano passado a vontade de voltar a descobrir minhas origens voltou a se manifestar e comecei a pensar em como obter novas informações sobre meus ancestrais italianos. Fazer uma pesquisa genealógica é como encaixar peças de um quebra-cabeça. Você precisa ser hábil para entender por onde começar e ter paciência para combinar aquilo que sabe com os dados que estão faltando.
Intuitivamente, o primeiro passo foi conversar com os parentes que conviveram com os antepassados italianos e tentar recuperar informações úteis como data de nascimento, dia de chegada no Brasil, data de morte, documentos de identidade, passaportes ou cartões de imigração.
No meu caso, um primo foi fundamental nesse processo de reconstrução, mas tínhamos realmente poucos dados em mãos. Além do nome completo, só sabíamos que meus bisavós haviam chegado ao Brasil com dois filhos pequenos, Tereza e Lorenzo, por volta de 1901.
Durante minhas férias no Brasil, fui até o cemitério onde minha bisavó havia sido enterrada e em seu registro descobri exatamente a data de seu nascimento e o nome de seus pais, meus tataravós.
A Internet é uma grande aliada na busca por informações e no final desse post vou sugerir vários sites úteis para quem pretende fazer uma busca de seus antepassados.
No meu caso, o ponto de partida foi o acervo digital do Museu da Imigração em São Paulo, mas infelizmente não encontrei nenhum dado do Registro de Matrícula dos italianos que passaram pela Hospedaria de imigrantes. Também consultei sem sucesso sites como Familysearch.org e Ancestry.com, rico de informações sobre imigrantes italianos que desembarcaram nos Estados Unidos da América.
Desanimada, decidi que o próximo passo seria consultar, uma a uma, a lista dos passageiros dos navios que atracaram no porto de Santos entre 1900 e 1901. A fonte mais confiável é a seção “Entrada de estrangeiros” do Arquivo Nacional e o SIAN – Sistema de Informações do Arquivo Nacional. É preciso registrar-se para ter acesso ao site.
Passei noites folheando virtualmente os arquivos e, para a minha surpresa, encontrei os nomes de meus bisavós na lista do navio Città di Genova, que partiu em 19 de abril de 1901. Ali estavam escritos à mão o estado civil, idade e procedência de cada um deles. Foi uma agradável descoberta ler que, além do marido e dos dois filhos, ela viajou na companhia da sogra, nascida em Monte San Savino.
Decifrando uma caligrafia minúscula, constatei que a terra de origem de meus bisavós era Marciano della Chiana, na Toscana, uma cidade bem próxima à região que visito todos os anos, a adorada Val d´Orcia.
Escrevi para a prefeitura das cidades de Monte San Savino e Marciano della Chiana, que me ajudaram na pesquisa. Fui até às duas cidades e visitei uma das paróquias de Marciano della Chiana. Principalmente em cidades pequenas, as igrejas italianas conservam um patrimônio de informações, como registro de nascimentos, batizados e casamentos. Graças a disponibilidade de um diácono, tive a chance de folhear os livros nos quais foram registrados o nascimento e o casamento de meus bisavós, em 1895. A emoção foi imensa. Já tinha a cidadania italiana e o motivo de minha pesquisa era puramente afetivo.
No arquivo da paróquia descobri que minha tataravó materna foi órfã. Por isso, seu sobrenome no registro era Innocenti, um nome atribuído a todas as crianças que passaram pelo Istituto degli Innocenti, um orfanato toscano que ainda hoje conserva objetos que pertenciam as crianças abandonadas.
Visitei as cidades de meus ancestrais e me senti perto de uma parte de vida passada que só posso imaginar mas que também me transformou na pessoa que sou hoje.
Para quem pretende fazer uma pesquisa genealógica e descobrir seus antepassados italianos, aqui estão alguns sites úteis:
Museu da Imigração do Estado de São Paulo
Museo degli Innocenti: antigo orfanato em Florença que ainda hoje conserva objetos que pertenceram às crianças ali abandonadas. Consulte o site aqui.
Portale degli Antenati: Site, em italiano, com os arquivos históricos digitalizados de muitas prefeituras italianas
Cognomix: Site que ajuda você a verificar em qual cidade da Itália um determinado sobrenome é mais comum.
No site das prefeituras: Procure pela seção URP (Ufficio Relazioni con il Pubblico) e escreva detalhando o tipo de informações que necessita.
Centro AltreItalie: site com registros de passageiros italianos que desembarcaram nos portos de New York, Buenos Aires e Victoria.
Liberty – Ellis Esland Foundation: Informações sobre imigrantes que desembarcaram em New Yorl entre 1892 e 1924.
EVITE FILAS COMPRANDO INGRESSOS ANTECIPADOS
Se você encontrou dicas e informações úteis nesse blog, uma maneira legal de retribuir o Post-Italy.com é comprar antecipadamente, online, os seus ingressos com o nosso parceiro, a Get your Guide. É rápido, em português e você recebe os vouchers diretamente por em-mail. Todo mundo sai ganhando e você evita filas em qualquer cidade da Europa! Você pode dar uma olhada na página da Get your Guide ou nos links aqui embaixo, com algumas da principais atrações italianas.
Esse blog só existe graças à colaboração de cada um dos leitores. Por isso, se você realizar a sua reserva através dos links do Booking.com aqui no Post-Italy.com, a plataforma repassa uma pequena comissão para nós e você paga menos pelo seu hotel. Você apoia o nosso site e já sai do Brasil com tudo programado.
SEGURO DE VIAGEM
Ninguém merece imprevistos durante uma viagem. Compare preços e reserve também o seu seguro de viagens, evitando qualquer perrengue durante a sua permanência no exterior.
Compartilhe
You May Also Like
Sou descendente de italiano. Meu avô chegou no Brasil (Porto de Santos) em 07 de Outubro de 1888. Embora eu já tenha realizado as pesquisas e conseguido há alguns meses as difíceis informações sobre os meus ancestrais, ao ler essa sua história e ver o agrupamento de informações, orientações e dicas, não pude deixar de parabenizar pelo trabalho e pela sua disposição em ajudar outras pessoas. É em nome de muitas pessoas que certamente irão fazer muito bom uso desse seu material que eu lhe agradeço. Grazie per tutto. Sivaldo Campanini. 22.02.2019.
Obrigada de coração Silvado! Fico muito feliz com o seu comentário!
Procuro saber informe família Rosati – meu pai Raffaelle Rosati- filiação Gabrielle Rosati e Viventa de Viva – Raffaelle Rosati nasceu em Baronissi 25 / 08/1899. Bom dia !! Meus agradecimentos.
Obs: Tenho 74 anos nunca soube nada da família Rosati porque quando nasci ele faleceu.
Ficaria muito grato de saber de meus parentes italianos.
Que lindo relato de pesquisa! Adoro pesquisar sobre minhas origens familiares também, e sei o prazer que é em descobrir um documento de um passado muito distante. Tenho comigo que a cada nova descoberta documental que faço, promovo a eternidade dos entes que se foram.
Assim como você, percorri um caminho similar em busca dos meus antepassados (exceto pela ótima dica de busca em prefeituras locais – farei isso em busca do meu trisavô na Civitella in Val di Chiana)
Obrigado pelo seu encantador relato!
Bom dia e obrigada você por compartilhar seus sentimentos! 🙂
Assim como você também gostaria de saber dos meus ancestrais, mas não tenho muitas informações, todas pessoas que poderiam contar as histórias dos meus ancestrais já são falecidos.
No acervo não consegui nada sobre meu bisavô, só sei que veio sozinho da Itália, e aqui constituiu uma família mas não se casou, e morreu muito novo com 36 anos de idade no ano 1905, fazendo pesquisa da escola para minha filha consegui registro de óbito de meu bisavô.
Aqui você fala sobre Estados Unidos da América, porque na pesquisa do Sisei encontrei nome parecido com do meu bisavó e também a idade coincide, é possível ter ido primeiro para EUA e depois vindo ao Brasil?
Oi Rosana. Tudo bem? Fazer pesquisa genealogica é como montar um quebra-cabeça. Exige muita pesquisa e paciencia, principalmente se falta fontes para recolher informaçoes. No registro de obito nao ha dados como local de nascimento?
Meus parabéns por este lindo relato. Estou cada dia mais amando a encontrar e saber mais sobre meus antepassados italianos, estou nesta busca a alguns meses já consegui algumas informações muito importantes, inclusive consegui l’estratto dell’atto di nascita de minha bisavó que também era de MONTE SAN SAVINO, mas infelizmente de eu bisavô agora vai ficar mais dificil, pois até onde eu pesquisei com familiares e me disseram que ele também era de Monte San Savino, mas ele era órfão e tinha sido deixado na roda em algum convento. Mas esta semana a prefeitura de monte san savino me enviou um e-mail que não encontrou nada no nome de meu bisavô, ai fiquei bem triste. Mas estou aguardando a Igreja agora de monte san savino me ajudar. Achei o nome dele na hospedaria em São Paulo, mas procurei o nome dele na lista de bordo do navio que estava descrito na hospedaria mas não encontrei nada.
Caso tiver alguma dica que possa me ajudar a encontrar dados de crianças órfãs na Itália, fico agradecido.
Obrigado por compartilhar um pouco da sua historia, pois ela faz com que não desanimamos de procurar nossos antepassados.
Grande abraço e Deus abençoe.
Olá Marcos! Que linda a história da sua família. Pesquisa genealógica exige mesmo muita paciência e dedicação. Entre o final de 1800 e começo de 1900 muitas crianças foram abandonadas e algumas delas foram hóspedes do Ospedale degli Innocenti, em Florença. Eles tem um arquivo e hoje o museu pode ser visitado. Se for do seu interesse, aqui no blog mesmo já publiquei artigo sobre esse lugar. Boa sorte para você!
Olá Anelise!
Sua história é muito parecida com a minha. Meu bisavô veio para o Brasil (Poços de Caldas) 1892.
Pedro Bianucci. Fui ate a Comunne que ele nasceu na Itália, Lucca (Montecarlo), região da Toscana também. Consegui encontrar a casa que ele viveu, e descobri lá em Lucca que havia esta casa como Casa dos Bianucci, e tinha uma via com o nome dele também. Antes, entrei no google maps e fui viajar pela Toscana até encontrar…. Na verdade fui duas vezes, mas não encontrei os parentes, aliás, uma senhora saiu na janela e me perguntou se estava interessada em herança. Fiquei meio sem graça e disse não, só queria saber um pouco da minha historia, dos meus antepassados, minha raiz. A senhora não foi muito simpatica, rs
Sinto em meu coração que preciso saber muito sobre meu bisavô e até coloquei o sobrenome dele na minha loja. Gostaria de saber dicas para poder encontrar meus parentes aqui no Brasil. devo isto ao meu pai que já se foi sem saber nem a metade do que sei.
Que legal Silvana, adorei ler seu relato e saber que temos algo em comum. Eu verificaria o site o museu da imigração, lista telefonica e sites como family search. Boa sorte e toda felicidade para vc!
Olá preciso de uma ajuda com as buscas, duvidas mesmo. Poderia me ajudar? procurei em todos os sites indicados e não achei… acho que estou fazendo algo de errado.