O que a gestão do tempo revela sobre os italianos

Diferentes contextos culturais e sociais influenciam os nossos hábitos?

Uma pesquisa comparativa realizada pela OECD (Organization for Economic Cooperation and Development) analisou como diversos povos administram o próprio tempo.

Os resultados dizem muito sobre os italianos e sobre a cultura desse país.

O dado mais evidente é o tempo diário dedicado pelos italianos ao trabalho retribuído: 149 minutos. Vale lembrar que nesse país existem diversas tipologias de contratos trabalhistas e que muitos deles são part-time (regime de tempo parcial), ocasionais ou “a chiamata”, sem vínculos, mas ligado somente ao período no qual o empregador precisa de mão de obra.

à esquerda, afresco na sala do triclinio em Pompeia. à direita, Bacco, de Caravaggio, na Gallerie degli Uffizi

Isso poderia nos fazer pensar que têm bastante tempo livre, mas é interessante notar que as aqui tarefas domésticas consomem, em média, 162 minutos do próprio tempo cotidiano e reflete uma realidade não só italiana, mas europeia:  aquela de não recorrer a colaboradores domésticos, seja por motivos culturais ou econômicos.

O mesmo estudo também comprova a tendência italiana de privilegiar a instrução e as relações sociais.  Italianos dedicam cerca de 70 minutos diários aos estudos e 65 aos amigos.

O que não me surpreende é o papel da alimentação na rotina dos italianos que, reservam diariamente 127 minutos para comer e beber.  

Mais do que satisfazer uma necessidade fisiológica, na Itália sentar-se em uma mesa e dedicar tempo à convivialidade é um prazer irrenunciável.

Essa história vem de longe. Provavelmente, os romanos herdaram dos refinados etruscos o costume de realizar refeições suntuosas salas de jantar com o “triclínio”. Se tratava de uma sala de jantar decorada com uma espécie de chaise longue. Cada uma acomodava três comensais que reclinavam para o lado esquerdo em almofadas enquanto escravos domésticos serviam múltiplos pratos e outros entretinham os convidados com música ou dança.  

O jantar era dividido em três momentos: o gustatio, composto por entradas e petiscos acompanhados de mulsum, um vinho a base de mel; a primae mensae composta por sete pratos e a secundae mensae que consistia em outros aperitivos muito picantes.

Se você visitar Pompéia, no sul da Itália, poderá contemplar diversos triclínios.

Villa Adriana em Tivoli

As casas dos patrícios geralmente tinham pelo menos dois triclínios e, imaginem, na famosa Villa Adriana, residência de um dos imperadores mais cultos de Roma e patrimônio Unesco, foi descoberto um triclínio aquático para servir o café da manhã a Adriano.