Palazzo Braschi e uma das vistas mais cenográficas da Piazza Navona

Código secreto? Palazzo Braschi. Não está entendendo nada? Me explico melhor. Existe uma estranha alquimia entre os romanos. Aquela que, como um imã, aproxima seres semelhantes e repele aqueles diversos ou irreconhecíveis.

Quando a gente viaja, por exemplo, é comum encontrar outros moradores da cidade eterna. Às vezes o papo surge depois de ouvir aquela cadência perceptível mesmo a quilômetros de distância. A primeira pergunta é espontânea: “Mas romano de Roma?”.

Na interrogação é subentendida a dúvida: quero confirmar que somos da mesma espécie.  Tem certeza que não mora na província ou nos arredores?

Nessas circunstâncias, para confirmar a própria “romanidade” seria necessário apelar para um método infalível e inequívoco. Quem sabe pronunciar, sem hesitação, os nomes dos sete reis de Roma ou dos jogadores do time da “A Maggica”, como é afetuosamente chamado o time de futebol da capital.

Mas espera aí.  Isso poderia não ser suficiente. E se um sabichão de qualquer outra parte da Itália também conhecesse essas informações. Para ocasiões assim seria necessária quase um código secreto, uma informação que só romanos DOC podem conhecer, algo pouco divulgado entre os turistas e moradores de outras cidades.

Eu teria uma sugestão. Perguntaria: de onde você pode admirar uma das vistas mais lindas da Piazza Navona? E se a resposta na ponta da língua for: do Palazzo Braschi, óbvio, a história se encerra ali, sem margens para outras dúvidas sobre a autenticidade do romano em questão.

No post Pelos arredores da Embaixada do Brasil em Roma já dei algumas sugestões de passeios por lá, como a pitoresca Via del Governo Vecchio, mas o Palazzo Braschi é outra etapa imperdível para quem estiver circulando entre a Praça Navona e Corso Vittorio Emanuele II. O ingresso principal do palácio fica bem próximo ao Consulado Geral do Brasil em Roma.

Provavelmente você deve estar se perguntando por que deveria dedicar tempo a esse museu quando Roma esbanja arte em tantos outros lugares.

Antes de mais nada, esse edifício foi o último construído na capital para a família de um pontífice. Na verdade, o Papa Pio VI encomendou a obra para presentear o próprio sobrinho, Luigi Braschi Onesti, e por isso representa um clássico exemplo de nepotismo antes que Roma fosse assediada pelos franceses, em 1798.

O Palazzo Braschi foi concluído em 1812. Em 1881 os herdeiros da família vendem o imóvel para o estado italiano que, na década de 50, o transforma na sede do Museo di Roma.

Assim que você entrar no edifício perceberá roda a sua grandiosidade. Logo no ingresso fica uma carroça do século XVIII ricamente decorada e uma rampa de escadarias monumentais. Me lembra, em menor escala, aquela da Reggia di Caserta. São duas rampas decoradas lateralmente com colunas de granito provavelmente provenientes de um pórtico construído por ordem de Calígula nas margens do rio Tibre.

As escadas também conservam estátuas antigas e sobre elas, no teto, ficam auto relevos inspirados no mito de Aquiles e na obra grega Ilíada. Um cenário para impressionar os hóspedes  que a família recebia, como bispos, embaixadores e soberanos estrangeiros.

Em suas várias salas você poderá aprender como era a vida na capital italiana desde a época medieval até o século XIX. Em diversas telas de artistas renomados você encontrará imagens do cotidiano da capital em tempos longínquos. Um exemplo? Piazza Navona atravessada por carroças e sede de um mercado ao aberto.

Para os curiosos, sugiro que não percam o vídeo que mostra a demolição das casas ao redor da Piazza San Pietro para a construção da Via della Conciliazione, a rua que hoje é quase uma moldura da imagem da basílica vaticana. Você pode saber mais sobre esse tema no post Via della Conciliazione. A Moldura da Piazza San Pietro.

Nas últimas salas do museu Palazzo Braschi, reserve vários minutos à contemplação de um dos cenários mais bonitos da capital. Das janelas do edifício você verá a Piazza Navona em todo o seu esplendor. Do alto, observando os turistas que circulam lá embaixo e que de longe parecem pixels de uma grande imagem, você também se sentirá pequeno. E entenderá por que os moradores da cidade tem tanto orgulho ao sublinhar que são, veramente, romanos de Roma!

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