Palio di Siena, orgulho e tradição toscana
Existem tradições que, aos olhos de um estrangeiro, nem sempre podem ser justificadas.
Na Espanha, um exemplo é a corrida de touros na festa de São Firmino, em Pamplona. O evento é motivo de orgulho para os moradores da cidade, mas suscita perplexidade em muitos turistas e representantes de associações de defesa de animais.
Na Itália, outra manifestação importante e às vezes envolvida em polêmicas é o famoso Palio di Siena, a tradicional corrida de cavalos que acontece nos dias 2 de julho e 16 de agosto. O primeiro Palio de Siena aconteceu em 1633.
A primeira é realizada em homenagem da Madonna di Provenzano e a segunda, em agosto, em louvor de Nossa Senhora da Assunção (Palio dell’Assunta). Desde o século XVII, dez entre as 17 “contrade” ou bairros de Siena participam ativamente do evento ao redor da cenográfica Piazza del Campo.
Os concorrentes são escolhidos depois de um sorteio e o jóquei ou cavaleiro – aqui chamado de fantino – é idolatrado por sua contrada. Eles vestem-se com trajes tradicionais conhecidos como “monturas” (palavra derivada do francês “monter”) e levam consigo bandeiras que representam a próprio bairro. Todos os anos o Palio di Siena reúne milhares de espectadores e o evento é transmitido ao vivo pela rede de TV italiana.
Cada contrada é identificada com suas próprias cores e hino, e o vencedor da competição é cavalo que completar primeiro três voltas completas ao redor da praça, mesmo sem o seu jóquei, em caso de caída.
A forma da praça requer cavaleiros hábeis e capazes de conduzir os cavalos na pista com rapidez e perícia. Alguns dos cavaleiros mais conhecidos e premiados, como aquele cujo apelido é Aceto (Vinagre), são originários da ilha da Sardenha.
A atmosfera na praça é mesmo contagiante e o prêmio disputado é um estandarte (pálio) criado exclusivamente para cada edição do Palio e realizado por um artista local ou originário de outra região. O Palio leva a imagem da Madonna de Provenzano ou da Assunção.
Nas arquibancadas ao redor da praça o clima é de euforia. Torcedores organizados entoam os hinos das contradas nomeadas Aquila, Bruco, Civetta, Chiocciola, Drago, Giraffa, Istrice, Leocorno, Lupa, Nicchio, Oca, Onda, Pantera, Selva, Tartuca, Torre e Valdimontone. A primeira corrida ao redor da Piazza del Campo aconteceu em 1633 e até hoje o Palio é um grande motivo de orgulho para os moradores da cidade.
Há quem critique o evento, sublinhando o fato que os cavalos são submetidos a esforços desnecessários e que, talvez, a corrida seja motivo para apostas informais. No entanto, desde a década de 90 veterinários da prefeitura da cidade passaram a monitorar constantemente o bem-estar dos animais.
Em geral, os senesi (moradores de Siena) são bairristas e seria redutivo considerar o Palio um simples evento esportivo. É também uma importante expressão artística e religiosa de uma cidade altiva e orgulhosa de seu passado.
Siena é uma das cidades mais antigas do mundo. Já foi um centro etrusco, em seguida gaulês e, enfim, romano.
Na Idade Média era constituída por vilarejos que expandiram-se até reunirem-se ao redor do principal ponto de encontro da cidade toscana, Piazza del Campo e seus 333 metros. Caracterizada pela forma que lembra uma concha, ela abriga o maestoso Palazzo Pubblico, erguido a partir de 1288, a Fonte Gaia e a Torre del Mangia, com mais de 100 metros de altura.
Na base da torre fica a Cappella di Piazza, uma homenageme um agradecimento à Virgem Maria depois que os habitantes da cidade conseguiram enfrentaram a peste negra de 1348.
A vista do alto da torre é inesquecível e de lá a forma levemente em declive da praça e a sua divisão em nove “fatias” – uma homenagem ao Governo dos Nove que administrou Siena entre 1287 e 1355 – são ainda mais evidentes.
Nos dias da corrida do Palio a Piazza del Campo é o palco de cavalos e cavalheiros, mas no resto do ano o lugar volta a ser ocupado por turistas que adoram tomar sol da praça.
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