Pitigliano, a pequena Jerusalém da Toscana
Pitigliano é uma cidade toscana com pouco mais de 3 mil habitantes que planejava visitar há muito tempo.
Sei que a Itália esbanja vilarejos de rara beleza e que é complicado estabelecer prioridades quando o seu itinerário de viagem foi traçado com precisão matemática. No entanto, existem lugares inesperados ou fuori programma – como dizem os italianos – que às vezes podem transformar-se em uma ótima recordação.
As razões para incluir Pitigliano em um roteiro pela região são muitas. Vou tentar descrevê-las nesse post, mas as fotos são mais eloquentes do que qualquer adjetivo que eu usar aqui.
Antes mesmo de entrar na cidade você descobrirá que Pitigliano é uma aldeia muito fotogênica. Localizada acima de penhascos cravejados por cavernas, o vilarejo parece debruçado sobre uma janela com vista para vales verdejantes.
A principal característica de Pitigliano são suas construções de tufo, rochas porosas, de baixa densidade, e fáceis de serem escavadas. Não por acaso, nos subterrâneos da cidade existe um incrível labirinto de túneis e sepulturas de origem etrusca.
Uma das principais atrações da cidade é o antigo Aqueduto Mediceo. A obra foi completada em 1639, graças a ordens da poderosa família Orsini para melhorar o abastecimento de água de sua própria residência. É impossível não notar os seus dois grandes arcos e a sua imponente estrutura sustentada por outros arcos menores.
Para entrar em seu centro histórico, atravesse a Piazza Petruccioli e não deixe de admirar os bastiões de uma antiga fortaleza, hoje transformados em casas particulares. O centro histórico do vilarejo é formado por três ruas principais (Via Vignoli, Via Roma e Via Zuccarelli) e percorrendo-as sensação é aquela de voltar no tempo.
A cidade é graciosa e também é conhecida como a pequena Jerusalém. Isso porque possui um antigo bairro judeu. No século XVI Pitigliano era um território governado pelos condes da família Orsini. Em 1556, Niccolò IV Orsini – que era favorável à presença de judeus na cidade – doou ao seu próprio médico, de origem hebraica, um terreno para a construção de um cemitério para a comunidade. Mais tarde foi realizada uma sinagoga e criado um gueto hebraico.
No final da década de 30, com as leis raciais emanadas por Benito Mussolini, o número de judeus reduziu-se drasticamente em Pitigliano. Durante a segunda guerra mundial, muitos membros da comunidade só sobreviveram graças à famílias católicas que os escondiam.
Um programa imperdível é visitar a Sinagoga e o antigo gueto com muitos locais escavados nas rochas de tufo. É possível conhecer os lugares nos quais a comunidade produzia o vinho Kasher e o pão ázimo, visitar o museu da cultura hebraica ou descobrir como era a sala utilizada para o banho ritual (Tevilà) realizado em circunstâncias como, por exemplo, aquele da conversão ao hebraísmo, antes do casamento ou depois do parto.
Além do bairro judeu, se ainda tiver tempo para explorar a cidade, não deixe de visitar a Chiesa di Santa Maria, a mais antiga de Pitigliano (XII século) e o Palazzo Orsini, sede de um museu com vinte salas decoradas com tetos e paredes ricamente decorados por brasões e afrescos de figuras como signos do zodíaco.
Para os mais ousados, nos arredores de Pitigliano existem as chamadas vie cave, túneis bem sinalizados, de até 20 metros de profundidade, escavados no solo e hoje recobertos de vegetação.