Sexto Sentido

Quem faz a nossa cabeça? Nossas escolhas em matéria de viagens são mesmo nossas?

Somos todos presas da ditadura do consumo, daquele desejo impelente de comprar não tanto para possuir, mas para afirmar a própria identidade, não correr o risco de ser excluído de uma sociedade que só legitima quem alimenta o círculo do consumo sem fim.

Temos a ilusão de uma pseudoliberdade de escolha, como afirmava o sociólogo Zygmut Bauman, mas transportando essa discussão para o setor do turismo, já parou para pensar se as suas preferências em matéria de viagem são mesmo suas?

O desejo de comprar determinado pacote turístico, passagem para uma capital específica, reserva no hotel “x” ou no restaurante “y”, ingresso para tal monumento são realmente frutos uma motivação interior ou reflexo de um condicionamento externo?

Ontem, apressada para um compromisso, passei bem cedo na frente de uma cafeteria em Roma que ainda estava fechada, mas notei que mesmo naquela faixa horária já existia uma fila de turistas que aguardava diante de sua porta.

Esse episódio me fez lembrar de outros lugares da capital que, mesmo não oferecendo o melhor serviço, a receita mais saborosa, a vista mais incrível, continuam sendo “presi d’assalto” ou lotados por turistas.

A popularidade conquistada com as redes sociais, de um lado facilitou aquela fase que não deveria ser residual em uma viagem porque já é, em si, uma viagem: o planejamento, a pesquisa. Basta copiar e colar as dicas de quem cataloga as ideias e promove determinada meta, determinado lugar.

Por outro, nos arrasta para uma espécie de voragem formada por um recrutamento ideológico e lexical: “coisa imperdíveis”, “gemas escondidas”, “cinco lugares icônicos”, “10 experiências únicas”, e por aí vai. Quem tem coragem de se subtrair a essa lógica e voltar para casa tendo vivido somente nove delas?

Absorvermos esse fluxo de informações com tamanha facilidade que, escolhas não nossas quase parecem fisiológicas. Abraçamos um novo modus vivendi ou “modus viajante” sem nos darmos conta disso.

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