Piatto Romano: comer como um local, em Testaccio
Confesso que não gosto muito de deturpar o prazer de uma refeição com a necessidade de capturar, a todo custo, a beleza e a delícia de um prato. Para mim comer significa criar um momento de socialização, reforçar vínculos.
Principalmente quando estou na companhia de amigos, prefiro me desconectar de nossas vidas digitais para aproveitar intensamente o momento. Atualizar constantemente o blog, no entanto, nos impõe a dor e a delícia de nos sentirmos permanentemente autoras. Daí a dificuldade de criar limites entre vida social e digital. Acredito que todos aqueles que administram um blog com seriedade sabem disso.
Tentar registrar obsessivamente tudo aquilo que nos circunda acaba nos distraindo e evitando que cada um de nós envolva-se totalmente com cada situação. É melhor ceder à mania da foto imediata ou saborear um prato, lentamente, com quase todos os seus sentidos?
Semana passada alguns amigos que moram no norte da vieram nos visitar e passeamos bastante por vários bairros de Roma. É sempre um prazer ver, nos olhos que brilham, a expressão de quem fica maravilhado diante da beleza da cidade eterna, apesar de todas as suas contradições. É isso o que acho que estamos perdendo. Uma capacidade que o assédio da tecnologia acaba limitando.
A pedido dos amigos, tentando escolher um restaurante com comida tipicamente romana, me lembrei que meses atrás tinha almoçado muito bem em um local que descobrimos por acaso. Era uma trattoria no bairro de Testaccio.
Procurei o cartão de visitas que havia guardado (costumo fazer isso quando tenho boas recordações culinárias do local) e descobri que o restaurante tinha sido incluído no guia do Gambero Rosso com os melhores endereços para comer na capital.
Trata-se do Piatto Romano, um restaurante sem frescuras mas com ótimos pratos romanos e excelente relação qualidade-preço.
Externamente, o local é bem discreto e poderia ser confundido com qualquer outra trattoria aceitável. A diferença está no atendimento e nos sabores autênticos dos pratos típicos da tradição romana.
Antes mesmo das entradas o proprietário no restaurante nos deliciou com uma focaccia bem fininha e crocante.
Em seguida, provamos uma clássica entrada romana: flores de abobrinhas fritas e recheadas com mozzarella e anchovas.
Entre as massas a escolha era difícil, mas optamos por porções de bucatini all´amatriciana e a clássica pasta cacio e pepe.
O prato me parecia enorme, mas o devorei sem remorsos. As crianças preferiram algo mais leve, como um prato de paccheri com molho de tomates frescos, manjericão e ricota.
Como as porções eram grandes e o calor demais, como segundo prato preferimos provar os bolinhos de carne de raça Chianina e bolinhos de ricota frita. Sensacional.
E a sobremesa? Claro que não renunciamos ao doce. Optamos por uma torta de ricota fresca e cerejas negras fresca.
Para finalizar, além do café o proprietário do restaurante nos sugeriu que provássemos um licor caseiro a base de genciana (digestivo, gente!)
Não fotografei todos os pratos pelos motivos que citei nesse post, mas para quem quiser provar a verdadeira cozinha romana, esse é um dos restaurantes que não decepcionam.
Gastamos, em média, 35/40 euros por pessoa por uma refeição completa, incluindo as bebidas.