
Risiera di Saba em Trieste: para não esquecer as vítimas do Holocausto
Era uma noite como outra qualquer. Hora do jantar. Família reunida ao redor da mesa. TV sintonizada no jornal das 20h. Foi a primeira vez que minha filha – na época com 11 anos – escutou a expressão Dia da Memória das Vítimas do Holocausto, em italiano, Giornata della Memoria.
O dia 27 de janeiro coincide com a libertação dos prisioneiros de Auschwitz, data escolhida pela ONU, em 2005, para lembrar as vítimas.
Diante das cenas da TV, as perguntas surgiram espontaneamente e as respostas não poderiam não conter palavras amargas.
Ofereci a ela uma cópia de O diário de Anna Frank, quase na certeza que talvez a leitura do volume fosse prematura. Depois pensei bem e cheguei a conclusão que “não”, que a melhor maneira de evitar que tamanha crueldade se repetisse era sentir o peso, a densidade de cada página.
Imaginei que se Anna ainda fosse viva provavelmente ficaria feliz ao ver tantas outras crianças interessadas em conhecer a sua história, mas confesso que achava que depois de algumas páginas o destino do livro fosse novamente a estante.
Errei. Ela terminou o livro e hoje, toda vez que passamos diante da Sinagoga de Roma ou circulamos pelo gueto judaico ela sabe bem o que esses lugares significam.
Assim como outras cidades europeias, diversos lugares de Roma e de outras cidades da Itália estão ligados à violência nazista. Um dos mais emblemáticos é a Risiera di San Saba, em Trieste.
Foi nessa cidade do norte da Itália que em 1938 Mussolini anunciou as leis raciais (leggi razziali). Com a conivência de intelectuais, os judeus foram excluídos da vida pública e a exaltação do ódio racial atingiu o seu ápice.
Nos escritórios e nas escolas, as escrivaninhas e bancos ocupados por judeus ficaram vazios, enquanto homossexuais, ciganos e pessoas com deficiência física também eram perseguidas. No coração de uma Europa que se declarava civilizada o antissemitismo não só era legítimo, mas imposto.
Originariamente, a Risiera di San Saba era um complexo utilizado desde 1898 para a transformação do arroz, mas durante o período de ocupação nazista foi uma prisão para militares italianos e, em seguida, um Polizeihaftlager.
Ali eram separados os judeus deportados para a Alemanha e para a Polônia, armazenados os bens confiscados às vítimas e eliminados todos os opositores do Fuhrer, judeus e prisioneiros políticos.
A Risiera de San Saba fica na periferia de Trieste e, obviamente, é um lugar que não te deixa indiferente. Em silêncio e sob um céu cinza, percorremos ambientes como o laboratório de costura e a sapataria.
Passamos pelos quartos reservados aos oficiais nazistas e pelas micro celas nas quais permaneciam até seis pessoas. Cruzamos com uma sala reservada a torturas e com a “cella della morte”, ambiente nos quais os prisioneiros eram detidos e, depois de poucas horas, cremados. Um percurso subterrâneo unia o forno a uma chaminé e ambos os ambientes foram destruídos pelos próprios nazistas, em 1945, para eliminar as provas de suas atrocidades. Calcula-se que entre 3 e 5 mil pessoas foram assassinadas na Risiera.
Com o fim da guerra, a Risiera acolheu refugiados e em em 1965 foi declarada patrimônio nacional pois é a memória do único lager nazista na Itália. Uma visita até a Risiera seria obrigatória para criar anticorpos contra a indiferença, contra todos aqueles que fazem apologia ao nazismo, em praças ou nos estádios, ou contra todas as figuras públicas que declaram, como aconteceu recentemente na Itália, que a “raça branca” corre risco de extinção.
No pátio da Risiera encontramos outros jovens, herdeiros dessa missão árdua de transmitir a memória. O céu cinza cede espaço ao sol que se abre, como um sinal de bem-vindo às gerações futuras.
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