Santeramo in Colle. Puglia entre masserias, paisagens selvagens, o sacro e profano
Para contemplar a Puglia “roots”, provar a paz de uma masseria, aventurar-se em um itinerário peregrino
A gente percebe na hora, circulando pelas estradas ao redor de Santeramo in Colle, que essa é uma terra peculiar. Localizada na Puglia, mas distante menos de 25 quilômetros de Matera, na Basilicata, é a expressão de uma natureza selvagem e fascinante.
O seu território mescla diversos tipos de paisagens. Entre elas, aquela típica do platô da Murgia, com as chamadas “gravine”, que são como montanhas de ponta cabeça.
Na verdade, são incisões erosivas verticais que podem superar 100 metros de profundidade. São parecidas com cânions e cavadas por águas meteóricas na rocha calcária. Nao por acaso, a palavra Murge deriva do latim “murex”, que significa “rocha afiada”.
Encruzilhada de homens e animais, as terras ao redor de Santeramo in Colle também alternam campos recobertos por oliveiras centenárias com “jazzi”, recintos de pedra seca erguidos temporariamente para hospedar o pastor e suas ovelhas durante a transumância.
Se pensarmos bem, essa milenar tradição pugliese é um exemplo perfeito de economia circular. Os terrenos da Puglia esbanjam quantidades de pedras calcarias e para que eles sejam cultivados os agricultores não desperdiçam esse material, mas o reutilizam em diversos tipos de construções.
Além dos jazzi, os trulli e também os chamados muretti a secco, muros que são uma verdadeira obra de engenharia e classificados como patrimônio imaterial pela Unesco em 2018. Eles não servem só para delimitar as fronteiras entre um terreno e outro, mas também protege as terras mais ingremes e expostas a possíveis inundações e avalanches, já que a água pode escorrer naturalmente entre uma pedra e outra.
É nesse cenário roots que você pode conferir de perto um produtor local de laticínios, cereais e azeite como a Azienda Agricola Disanto, que está recuperando uma variedade antiga de grano duro, a Senatore Cappelli, produzindo farinha, macarrão, biscoitos como o tarallo pugliese.
É aqui que depois de uma formação universitária, o jovem Nicola Disanto inverteu a rota, apostando no southworking. Esse neologismo usado para identicar o fenômeno de quem renuncia a uma eventual carreira no norte do país para permenecer no sul, quase sempre associado a menores chances de mobilidade social.
São jovens como ele que trocam o terno e a gravata por galochas, levando adiante a atividade zootécnica de família e apesar da seca que caracterizou o último verão, produzindo o leite que se transforma em excelências da gastronomia italiana exportadas no mundo todo.
É no território de Santeramo in Colle que você pode visitar e hospedar-se em uma masseria, antiga fazenda que ainda conserva uma neviera, um hipogeu com cerca seis metros de profundidade, destinado a armazenar a neve.
Ela era pressionada energicamente e recoberta de palha para que não derretesse e pudesse ser usada durante os meses mais quentes, inclusive para conservar os alimentos; uma espécie de precursor da geladeira moderna.
No final da tarde, quando o céu se tinge de tons rosas e alaranjados e o silêncio envolve a paisagem é fácil entender porque o proprietário da Masseria Contursi trocou a vida frenética de Roma por Santeramo in Colle, que também é uma das metas no radar de birdwatchers.
A paz do local também atrai os pereginos e turistas que decidem percorrer uma das etapas dos Cammini Materani, itinerários a pé que levam até Matera.
Essa forte ligação com a terra, com as origens, também se reflete no passado ainda vivo pelas ruas do centro histórico de Santeramo in Colle. Partindo do sacro, além de conservar os restos de um antigo mosteiro beneditino e de igrejas de estilo românico e barroco, como aquela de Sant’Erasmo, uma de suas principais atrações é o Palazzo Marchesale Caracciolo Caraffa, erguido em 1576.
Para festejar o santo padroeiro da cidade, Sant’Erasmo, no dia 2 de junho é organizada uma procissão e um desfile com trajes de época.
Do lado profano, no mês de outubro se promove uma Festa Contadina (Festa Camponesa), com direito a desfile monumental de carroças antigas pelas ruas da cidade, exposição de objetos da tradição camponesa, shows musicais e preparação de pratos típicos.
Santeramo in Colle é conhecida pelo consumo de carne equina e pelos “gnumiredde”, rolos de carne de cordeiro. Para os carnívoros, aqui os próprios açougues funcionam como restaurantes, permitindo que os clientes escolham os cortes no balcão. Eu sou pelas verduras e elas não faltam na tradição pugliese.
Santeramo in Colle fica a cerca de 55 quilômetros da capital pugliese e você pode inclui-la em um roteiro pelas Terre di Bari, inclusive durante o outono, já que o clima ameno e a menor presença de turistas torna a viagem ainda mais agradável.
Para reservar passeios e obter mais informações sobre turismo na região, consulte a Proloco de Santeramo in Colle.