Sexto Sentido

Se o Coliseu se transforma em palco para turistas gladiadores

Sobre incongruências envolvendo o patrimônio cultural, artístico e arqueológico italiano.

Até que ponto o poder econômico de um colosso da indústria do turismo pode condicionar políticas públicas em matéria de tutela e ou valorização de monumentos de grande interesse?

Nos últimos dias, uma polêmica tem dividido a opinião pública italiana e, em especial, aquela romana.

Simultaneamente ao lançamento do filme “Gladiador 2”, de Ridley Scott, a plataforma de aluguéis de temporada Airbnb e a Paramount assinaram um acordo comercial com o Parco Archeologico del Colosseo.

As empresas americanas ofereceram uma doação de 1,5 bilhões de euros em troca de uma ação promocional.

A iniciativa prevê a encenação de um espetáculo de gladiadores para dezesseis turistas no interior do Coliseu, anfiteatro com mais de dois mil anos de história.

O espetáculo seria realizado em 7 e 8 de maio de 2025 e os poucos participantes teriam direito a vestir uma armadura e a desfrutar de um banquete seguindo os antigos rituais romanos.

O secretário municipal de Cultura, Massimiliano Smeriglio, reagiu à proposta comentando que Roma não deve se transformar em uma espécie de parque temático.

Não é a primeira vez que a cidade eterna é confundida com uma espécie de Disneyland e que a necessidade de tutelar patrimônios italianos classificados patrimônios da humanidade pela Unesco “esbarra” em propostas econômicas tentadoras.

Em diversas circunstâncias, obter uma autorização especial para fotografar um quadro ou o interior de um monumento, principalmente se de prioridade eclesiástica, pode comportar imensa burocracia.  

Um flash pode danificar uma tela e multidões podem comprometer sítios milenários ou naturalmente frágeis, mas então porque não adotar o mesmo rigor para proibir a festa de aniversário de uma pop star em Pompeia, um casamento milionário em Portofino ou então navios gigantescos de cruzeiros em Veneza?

O caso “turistas gladiadores no Coliseu” é só mais um episódio que evidencia as contradições de um sistema que precisa deixar claro que tipo de turismo quer atrair em seu território.

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