Terraço do Vittoriano: no topo da Roma dos cartões postais
Nos dias de hoje, a fase de planejamento de uma viagem já é uma viagem em si. Além de consultar guias e blogs, há quem use os olhos eletrônicos de aplicações como Google Maps para controlar cada metro quadrado das ruas e monumentos de seu próximo destino. O que a tecnologia ainda não é capaz de oferecer é aquele mix de sensações que nos invade ao conhecer pessoalmente uma atração tão sonhada.
Imaginem, por exemplo, o Vittoriano ou Altare della Patria, o monumento odiado por muitos romanos e adorado pelos turistas que recebeu apelidos como “bolo de noiva”, por sua tonalidade cândida, ou “máquina de escrever”, devido a sua semelhança com uma vintage Olivetti. Localizado na centralíssima Piazza Venezia em Roma, se trata do Monumento Nazionale a Vittorio Emanuelle II di Savoia, o primeiro rei da Itália unificada, e construído entre 1885 e 1888.
Muitos moradores da cidade eterna acreditam que o Vittoriano quase destoa do panorama ao seu redor. Suas dimensões são colossais (135 metros de largura, 130 de profundidade e 81 de altura) e seu interior abriga mostras periódicas, o Museo Centrale del Risorgimento, dedicado ao período histórico da unificação da Itália e o Museo Nazionale dell´Emigrazione Italiana. No local também fica a chama permanente em homenagem ao “soldado desconhecido”, enterrado ali em 1921.
No entanto, o que atrai romanos e a maioria dos turistas até o Altare della Patria não é o espírito patriótico ou o interesse por objetos como a bota de Garibaldi, o revolucionário cuja liderança permitiu a unificação do território que hoje conhecemos como a Itália. Mesmo que não confessem publicamente, os romanos adoram a vista da chamada Terrazza delle Quadrighe, ou seja, o terraço dos carros com a glória alada no alto do monumento.
Nenhum recurso tecnológico substitui a magia de chegar até lá e conferir Roma do topo. As pernas bambas para percorrer diversos degraus, a respiração ofegante, a subida interrompida por um casal de turistas que, inevitavelmente, pede que você bata uma foto. O vento nos cabelos, as gaivotas que insinuam-se entre um selfie e outro, uma “mamma” que se apressa a fechar o zíper do casaco do próprio filho prevendo temperaturas polares, o bater dos sinos de uma das igrejas nos arredores.
Depois dos degraus você chega até à bilheteria e ao moderníssimo elevador panorâmico transparente que transporta oito visitantes de cada vez até a Terrazza delle Quadrighe. Não é necessário “apertar os cintos”, mas a funcionária faz questão de perguntar se alguém sofre de vertigens. Vale a pena lembrar que depois da cúpula da Basílica de São Pedro, esse é o segundo lugar mais alto da capital e que uma lei impede que na cidade sejam construídos edifícios mais altos que a cúpula vaticana.
As portas do elevador se abrem e o seu olhar é totalmente capturado por um panorama único. Diante da grandiosidade de Roma, é fácil sentir-se como uma criança que acaba de receber vários presentes de aniversário e não sabe qual abrir primeiro. Respire fundo e transforme a paisagem em um passatempo. À sua frente encontra-se uma coleção de cartões postais. A diversão é tentar identificar o maior número possível de monumentos.
Do terraço é possível avistar o Coliseu, o Fórum Romano, a igreja barroca Dei Santi Luca e Martina, a Piazza del Campidoglio projetada por Michelangelo e seu Palazzo Senatorio, hoje sede da prefeitura romana, o Arco di Tito, o Teatro di Marcello – considerado uma espécie de Coliseu em miniatura – e a Sinagoga ou Tempio Hebraico. Sem muitos esforços você reconhecerá a cúpula vaticana, o Castel Sant´Angelo, as torres da igreja de Sant´Agnese in Agone, na Piazza Navona, e aquela que é chamada “oculus”, a abertura no teto do Panteão.
Na direção do monte Palatino o protagonista é o bairro de Ostiense e o perfil cilíndrico do Gazometro, a ex-área industrial símbolo de filmes de Pasolini. Do lado norte, é possível avistar, entre outras atrações, Via del Corso, o Quirinale e Villa Borghese. Aqueles com o olhar e a imaginação mais aguçada conseguem até deslumbrar-se com a vista da zona dos Castelli Romani, esquecendo o caos lá embaixo. Para curtir essa atmosfera, um breve vídeo do Vittoriano e imagens de Roma.