
Via delle Orecchiette: pasta e portas abertas em Bari
Visitar a pitoresca Via delle Orecchiette (que na verdade se chama Via Arco Basso), em Bari, é muito mais do que cumprir um ritual turístico.
É uma experiência humana, uma viagem sensorial e uma maneira de constatar que o sul do país representa orgulhosamente o que os italianos definem como l´arte di arrangiarsi. Em outras palavras, a capacidade criativa e de inovação em momentos de crise; um fenômeno que podemos comparar ao jeitinho brasileiro.

Fotos: A. Santucci
Contrariando as estatísticas que posicionam as regiões do sul como aqueles com maior incidência de desemprego feminino, as italianas de Bari proclamaram uma revanche pacífica cujo lema poderia ser o seguinte: se o trabalho não existe, nós mesmas o inventaremos. Tudo isso aproveitando uma tradição antiga e herdada de geração em geração: a arte de preparar a pasta tipo orecchiette.
Arregaçando as mangas e colocando, literalmente, a mão na massa, as mulheres de Bari Vecchia (a parte mais antiga da capital da Apúlia) tornaram-se o motor da economia local, transformando positivamente a vida de seus próprios núcleos familiares.
Se a rotina de uma dona de casa começa logo cedo, com os afazeres domésticos e, em seguida, a preparação do almoço, porque não desfrutar do apelo cultural que a culinária italiana exerce sobre turistas do mundo inteiro?
Foi seguindo esse raciocínio que as moradoras de Via Arco Basso decidiram escancarar as portas de suas casas para italianos e estrangeiros em busca daquela genuinidade que só a Itália tem.
No dia em que visitamos Bari, parei em uma cafeteria para pedir informações sobre como chegar até a Via delle Orecchiette, onde as moradoras preparam o típico macarrão pugliese na forma de orelhinha ali mesmo, na rua, em mesas de madeira montadas desde cedo.
Entre um papo e outro, a proprietária do local me pede para procurar pela senhora Nunzia, para afirmar que sou uma sua parente de Roma e para insisitir para que ela me faça pagar um preço razoável (5 euros) por um quilo de orecchiette.
Chegando na rua a atmosfera é incrível. Portas abertas, mulheres com aventais que viram e reviram os orecchiette para que possam se secar ao sol, aroma de molho que contagia o ar, entrando pelas narinas.
A rua é quase um prolongamento das casas e a sensação é aquela de entrar em um grande condomínio.
Os turistas são convidados a entrar nas casas das moradoras, disputando um espaço entre o fogão, a mesa e a televisão ligada. As mais idosas trabalham com maestria e velocidade a massa ou refogam o molho enquanto as mais jovens encarregam-se de pesar a quantia de massa pedida pelo freguês.
A maioria dos turistas compra os orecchiette como lembrança, mas para um verdadeiro mergulho cultural na vida dos moradores da Bari Vecchia é possível almoçar ali mesmo, com o macarrão e outros pratos preparados pelas moradoras. Na Via Arco Basso o tempo parece ter parado para apreciar alguns dos melhores prazeres da vida: a comida e socialização.
Quem tiver interesse em conhecer mais essa tradição não pode deixar de assistir esse belo curta-metragem de Ardalan Nabavinejad, com legendas em inglês porque a maioria das moradoras fala em dialeto, às vezes incompreensível até para os italianos.
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