Aventino: Giardino degli Aranci e o mágico buraco da fechadura em Roma

Vira e mexe acontece de acompanhar amigos estrangeiros ou de outras regiões da Itália na aventurosa descoberta de Roma. Pessoas que geralmente passam um ou dois dias na cidade e que, justamente, gostariam de conferir o maior número de atrações possíveis. Roma vicia porque a fome de descobrir ruínas, anedotas, cúpulas, estátuas, escadarias, claustros, terraços e outras belezas é insaciável.

As pernas se tornam mais ágeis na capital. No final do dia você controla no celular a app com o contador de passos e quase duvida que caminhou por doze quilômetros sem sentir o cansaço. Nas poucas horas à disposição se “pula” de um século ao outro na esperança de absorver tudo aquilo que o olhar e os ouvidos forem capazes de captar. E assim voltar para casa com uma coleção de fotos e, principalmente, boas memórias.

Entre atrações consideradas um must-see e lugares escondidos, quem mora aqui tenta surpreender quem pede para ser acompanhado. Nesse caso, um lugar que nunca decepciona é o Aventino.

O Aventino é uma das sete colinas de Roma e um sonho de consumo imobiliário. Quando pensam no lugar ideal para viver muitos romanos imaginam uma “viletta” (casa independente) no bairro. Não é uma escolha para qualquer um. A tranquilidade que se respira no Aventino pode atrair mas também assustar os seus visitantes. O bairro é composto por ladeiras silenciosas e moradores “etéreos”. Você raramente vê alguém entrar ou sair das casas. Não há comércio vistoso ou crianças barulhentas.

As protagonistas do bairro são suas quatro igrejas principais (Basilica di Santa Sabina, Basilica di Santa Prisca, Basilica dei Santi Bonifacio e Alessio e Chiesa di Sant’Anselmo), o gracioso Giardino degli Aranci e o chamado “buco della serratura” ou buraco da fechadura.

O buraco é aquele da sede Priorato di Malta. O Sovrano Ordine di Malta é uma organização internacional católica fundada no século XI. O seu objetivo inicial era proteger os peregrinos que dirigiam-se à Terra Santa durante as Cruzadas, mas com o tempo tornou-se uma entidade internacional neutra e apolítica com finalidades assistenciais. Hoje a Ordem mantém relações diplomáticas com mais de cem países.

A sede da Ordem só abre para o público em raras ocasiões especiais. No entanto, observar a imagem que se materializa do outro lado do portão da Ordem de Malta é um ritual que nenhum turista dispensa. Com o olhar grudado na fechadura você avista a cúpula da Basílica de São Pedro emoldurada por um longo corredor composto por uma bela vegetação. O efeito é cinematográfico. Talvez não seja à toa que um prêmio Oscar como Giuseppe Tornatore tenha escolhido morar no bairro.

O curioso é que a paisagem que você deslumbra pela fechadura abrange os territórios da Itália, do estado Vaticano e de uma ordem cuja soberania lhe autoriza a emitir passaportes e a conceder a cidadania maltesa aos seus membros.

Extasiado com essa imagem, siga até o Giardino degli Aranci e aceite o convite escancarado à preguiça diante de uma vista arrebatadora de Roma.

Na sombra de seus pés de laranjeira carregados de frutos, estenda um pano qualquer, abra um livro e observe a vida passar. Casais de namorados, idosos solitários com seus cães de companhia, esportivos no final de uma corrida, turistas com fome de Roma, um gato sem dono. Apesar do ar esnobe, há lugar para todos no silêncio do Aventino.