L’Aquila depois do terremoto. A capital do Abruzzo entre passado e futuro.
Um conjunto linear de ações. Se a gente parar para pensar, com as devidas diferenças, cada dia de nossa rotina é uma sequência programada de gestos. Dormir. Acordar. Tomar café da manhã. Acompanhar os filhos à escola. Trabalhar. Voltar para casa.
Casa. Aquele lugar que é o universo particular de cada um de nós. Feito de cheiros. De recordações. De fotografias de rostos familiares. Do lençol que acaba de ser lavado. Do pão dividido. De brinquedos espalhados. De livros que aguardam para ser lidos. De certezas impregnadas em paredes.
Para a maioria de nós tudo isso é implícito e no final do dia é para casa que a gente não vê a hora de voltar. Para muitos moradores da L’Aquila, a realidade não é bem assim.
Vocês devem lembrar que em abril de 2009, a capital da região dos Abruzos, no centro da Itália, foi atingida por um forte terremoto que matou pelo menos 100 pessoas e deixou 50 mil desabrigados. O tremor ocorreu de madrugada. Segundos de pânico que provocaram a pior devastação provocada por um sismo na Itália em mais de três décadas.
A terra engoliu tudo. Pratos não lavados. Promessas não cumpridas. Olhares não trocados. Mãos não apertadas. Corpos entrelaçados. Perguntas que pairavam no ar e que ficaram sem respostas.
O terremoto da L’Aquila atingiu mais de 10 mil imóveis – incluindo atrações turísticas – e durante semanas ocupou as primeiras páginas da mídia internacional. O governo prometeu assistência imediata às vítimas e a União Europeia uma importante contribuição econômica para a reconstrução da cidade.
Dez anos após o sismo que destruiu a capital dos Abruzzo, no momento em que a cidade não está sob os holofotes da imprensa, o que restou da L’Aquila?
Difícil colocar por escrito o misto de sensações ao visitar a cidade recentemente. Um aperto avassalador que não cabe nas palavras. A primeira impressão é que a cidade é como um imenso canteiro de obras. O céu da L’Aquila é dominado por guindastes que desafiam a gravidade e parecem tocar a cruz no alto do Duomo, na praça homônima.
Muitas áreas ainda estão interditadas com o cartaz “Zona Rossa” e tratores trabalham incessantemente. Palácios foram circundados por andaimes. Janelas permanecem sem vidros. Prédios ainda exibem evidentes rachaduras e buracos que não estão só no concreto, mas na alma dos moradores que reveem suas casas violentadas. Em zonas mais periféricas, o cenário de destruição me fez pensar na guerra dos Balcãs.
No centro histórico a situação é híbrida. Alguns edifícios foram reconstruídos e estão prontos para abrigar novos moradores. Outros ainda possuem as fachadas cobertas por andaimes e reforços. Cheiro de concreto e tinta invadem o ar. Em diversas janelas cartazes com a frase “vende-se”. O som de martelos e tratores mistura-se à música de um wine bar que reúne jovens à procura de spensieratezza, de normalidade.
Diversas lojas permanecem fechadas, mas no Corso Vittorio Emanuele II L’Aquila mantém a sua vivacidade. Famílias frequentam as suas cafeterias, compram o que precisam em uma das cerca de 60 lojas ativas na cidade. Em 2009, o comércio da L’Aquila contava com mais de mil delas. Passeando por lá precisava de uma farmácia e perguntei a um casal de idosos onde poderia encontrar uma. Eles trocaram olhares e me responderam que no centro histórico ainda não havia sido reaberta nenhuma.
Apesar de tudo, L’Aquila ainda é uma cidade orgulhosa de seu passado e a sua beleza – nem sempre captada por olhares apressados – ainda é evidente. Se você visitar a cidade, não deixe de conhecer atrações como a igreja de San Bernardino e a Fontana delle Novantanove Cannelle, uma fonte medieval erguida em homenagem às 99 vilas que, em 1240, Federico II teria reunido para fundar L’Aquila.
Outro ponto turístico de rra beleza na cidade é a igreja de Santa Maria di Collemaggio, do século XIII. O edifício foi construído por ordem do futuro Papa Celestino V e ela se distingue com sua fachada em tons de rosa e branco. O Duomo, na praça de mesmo nome, também merece uma visita, e de noite, é em seus arredores que concentra-se a movida da cidade.
Outro lugar símbolo da L’Aquila é a sua fortaleza, construída no ponto mais alto da cidade. Conhecida como Forte Spagnolo, a obra foi realizada durante o período de domínio espanhol na Itália meridional. Muitas famílias com crianças passeiam nos arredores do castelo, tentando recriar os hábitos de sempre.
Passaram-se 11 anos do pior dia na vida dos moradores da cidade e de lá para cá pouca coisa mudou na velocidade do projeto de reconstrução da cidade. Conversando com alguns deles, as opiniões dividem-se. Há quem acredite que serão necessárias pelo menos três décadas para rever a capital dos Abruzos em todo o seu esplendor. Outros sustentam que já foi feito tanto, mas que a grande dimensão dos danos provocados na cidade ainda exigirá esforços.
Em San Demetrio ne’ Vestini, província de L´Aquila, conheci Leonardo e Jaynie, e eles me contaram a tragédia daquele dia 6 de abril no post Entre horta e cozinha o renascimento depois do terremoto nos Abruzzo.
Nas cidades limítrofes, na província da L´Aquila, vimos vários imóveis de recente construção. Lotes de edificações idênticas e anônimas. Abrigo, sim. Casa talvez não. Casa é onde se constrói memórias e aquela de muitos dos moradoras da cidade da L’Aquila não existem mais.
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