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Berlim. Todas as dicas para aproveitar a cidade em continua evolução

Visitar Berlim no momento histórico no qual uma parte de mundo ensaia para um novo equilíbrio geopolítico e outra olha saudosa para um passado imperialista é um contínuo exercício de reflexão.

Berlim

Não há como passear entre a parte leste e oeste da cidade sem pensar na sua história recente. Sem considerar as cicatrizes ainda presentes. Sem pesar como seus moradores metabolizaram a queda do muro de Berlim e o desaparecimento da República Democrática Alemã, “cria” da União Soviética no coração da Europa.

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Berlim é uma cidade em continua evolução. Por isso, para desvendar essa capital, o seu tumultuado passado e o seu olhar – projetado no futuro – sugiro que dedique a ela pelo menos quatro dias.

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É um lugar de fermento cultural, com jovens que demonstram apreciar a própria individualidade, mas sem a ostentação de outras metrópoles do velho continente. Um polo de criatividade e extravagancia, de albergues de design, de laboratórios alternativos, de bairros descolados como Kreuzberg e uma grande incubadora de start ups.

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Vale a pena saber que se você estiver em Roma e depois quiser seguir viagem até Berlim isso é mais do que factível. Diversas companhias aéreas, inclusive aquelas low cost, chegam na capital alemã em cerca de 2h30 de voo.

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Outra dica importante. Para economizar e facilitar os seus dias por lá, uma boa pedida é a chamada Berlin Welcome Card, o passe oficial do escritório de turismo da cidade.

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Ele garante o direito ao uso do transporte público e descontos que chegam a 50% em diversas atrações da cidade, incluindo museus, lojas e restaurantes. Os preços variam de acordo com o seu tempo de duração (de 48 horas até seis dias) e as zonas que pretende visitar (explico melhor em seguida). Para todos os detalhes, confira aqui.

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Transportes em Berlim

Acredite. Aprender a utilizar de maneira eficaz o sistema de transporte público em Berlim pode facilitar muito a sua permanência na cidade, além de permitir que economize um bocado.

First things first. Então, é necessário fazer algumas premissas. A rede de transportes em Berlim é muito extensa, integrada e o serviço é confiável e frequente.

Moro em Roma, que por ser uma cidade de mais de dois mil anos e repleta de inúmeros vestígios arqueológicos possui somente três linhas de metrô. Por isso, ao olhar pela primeira vez o mapa dos transportes em Berlim fiquei desorientada.

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O primeiro detalhe que você precisa saber é que o sistema de transporte é divido em três zonas. Chamadas de “A“, “B” e “C”, elas e vão influenciar o preço do bilhete, que pode cobrir as zonas A-B, B-C ou A-B-C, integrando inclusive, nesse último caso, o aeroporto de Berlin Brandenburg e cidades limítrofes como Postdam.

O sistema de transporte é composto por ônibus, bondinho (com mais de 20 linhas), U-Bahn (metrô, com dez linhas) e S-Bahn (Stadtschnellbah, com 15 linhas), que indica o “trem expresso urbano”.

A comodidade é que a tarifa é unificada, ou seja, ao comprar um bilhete, você poderá utilizá-lo em todos os transportes da zona que escolheu.

Também sugiro que faça o download do aplicativo da empresa BVG (Berliner Verkehrsbetriebe) para fazer simulações de seus percursos pela cidade.  

Quando ir

A cidade vale a pena o ano inteiro. Eu estive lá na primavera e com as temperaturas agradáveis a primeira coisa que notamos é como os berlinenses adoram tomar sol, mesmo nos parques, jardins e curtir a vida ao ar livre em um beach bar na beira do Spree. Durante o inverno, o frio é intenso, mas compensado pelo espetáculo das feirinhas de Natal.

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Onde ficar

Nos optamos pelo Novotel no bairro de Mitte, pela sua proximidade com a Ilha dos Museus, tutelada pela Unesco, e a Catedral de Berlim. No entanto, na cidade existem outras zonas interessantes como Friedrischain, mais alternativo, com opções como o Michelberger Hotel, ou Charlottenburg, ideal para quem pretende fazer compras.

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Do aeroporto ao centro

Chegamos em Berlim no final de uma manhã de sábado. Vale a pena saber que no subsolo do aeroporto internacional de Brandenburgo fica uma estação de metrô/trem “Flughafen BER – Terminal 1-2” onde circulam algumas linhas de trens regionais, de S-Bahn e o Airport Express (FEX), que interligam o aeroporto com  a Hauptbahnhof, a estação central de trens de Berlim.

Pegamos a linha de trem regional RE7 e em cerca de 25 minutos desembarcamos na estação Alexanderplatz. Chegando lá, foi impossível não pensar nos versos da famosa canção de Franco Battiato que conta o amor nos tempos de Berlim.

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Eu gosto de explorar uma cidade a pé e a sensação que tive em Berlim é que de todos os ângulos a Torre de TV ou Berliner Fernsehturm, inaugurada em 1969, dominasse o panorama.

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Subindo ao topo da torre você vai contemplar uma vista incrível da cidade inteira. São 385 metros de altura! Se você não é dos meus e não curte caminhar, uma dica é usar a linha de ônibus 100, que passa por algumas das principais atrações turísticas da cidade.

Primeiras explorações

Seguimos para o Novotel Berlin Mitte e começamos explorando os arredores do bairro, como o Berliner Dom, o maior edifício de culto da cidade, reconstruído depois dos bombardeios. De lá você pode chegar até a Museumsinsel ou Ilhas dos Museus, complexo formado por cinco museus e classificados como patrimônio da humanidade pela Unesco desde 1999. Se o tempo for escasso e tiver que optar por um deles, escolha o Pergamonmuseum, cujo acervo inclui obras monumentais como o Altar de Pérgamo, de época helenística, e coleções de antiguidades da Ásia Menor e de arte islâmica.

Continuamos percorrendo a avenida Unter den Linden, que significa literalmente “sob as Tílias”. Ela tem 1,5 km de extensão e se estende deste a ponte Schlossbrücke até o Portão de Brandemburgo.

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No passado, ela era uma trilha para cavalos que conduzia soberanos de seu palácio até a reserva de caça de Tiergarten.

Com 60m de largura e um arborizado canteiro central, a Unter den Linden reúne belas construções, edifícios históricos, sedes de embaixadas e monumentos, além de lojas, cafés famosos como o Einstein (n. 42) e restaurantes.

Dedique pelo menos alguns minutos para observar a Neue Wache (Nova Casa da Guarda) – ex casa de guardas reais que desde a década de 30 é um memorial em homenagem às vítimas do nazismo – ou a Bebelplatz, palco da primeira queima de livros organizado pelos nazistas.

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Obras como aquelas de Sigmund Freud e Karl Marx foram jogadas nas chamas e para lembrar esse episodio no chão do centro da praça fica uma instalação artística que reproduz uma biblioteca subterrânea com estantes vazias.

Continuando a caminhada passamos na frente da Embaixada Russa (n. 63765) e seguimos até o cartão-postal mais famoso de Berlim, o Portão de Brandenburgo. Nem todo mundo sabe que ali ao lado fica a chamada “La Raum der Stille” ou sala do silencio, um lugar que você pode visitar gratuitamente para refugiar-se do barulho de uma grande metrópole.

No final do dia, concluímos o passeio no Holocaust-Mahnmal ou Memorial do Holocausto. Construído em homenagem aos mais de 6 milhões de judeus vítimas do nazismo, o local é composto por 2700 blocos de concreto de alturas diferentes e espalhados em uma superfície de 19 metros quadrados e com piso em desnível.

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O resultado, voluntário, é que você fica desorientado. O convite sublimar é que os visitantes reflitam sobre essa sensação, mas como acontece com outros monumentos do mundo, nem todo mundo se dirige a eles com o devido respeito. Enquanto estava lá, várias garotas subiram nos bocós para fazer um selfie e guardas locais apitaram várias vezes para dissuadir esse tipo de comportamento.

Domingo em Berlim

No domingo tinha reservado a visita gratuita à cúpula de vidro do Palácio do Reichstag. É ali que funciona o parlamento alemão e a sua famosa cúpula ou dome foi inaugurada em 1999 e projetada pelo arquiteto Norman Foster.

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Você pode reservar a visita antecipadamente no site do Bundestag, escolhendo dia e horário. Siga as instruções que não tem erro!  A confirmação chega no seu e-mail e no dia programado você terá que passar por um detector de metais e controle de segurança antes de ingressar no palácio.

Domingo também é dia de um programa alternativo como o mercado de pulgas de Mauerpark, em Prenzlauer Berg, no passado reduto de artistas e dissidentes da RDA e hoje bairro radical chic e valorizado no mercado imobiliário. Em Mauerpark (Bernauer Strasse) a gente encontra de tudo e percebe claramente o lado nada ostentatório dos berlinenses, adeptos do second hand. Móveis, discos de vinil, louças e de tudo um pouco ganham nova vida no mercado ao aberto, dando vida ao ciclo virtuoso da economia circular.

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Ainda na Bernauer Strasse fomos até a o Gedenkstatte Berliner Mauer, onde além de vestígios do muro original também fica um memorial. Essa rua foi palco de fugas desesperadas e episódios trágicos, como pessoas que se jogaram das janelas quando as barreiras começaram a ser erguidas.

O Memorial do Muro de Berlim é na verdade um museu a céu aberto e ao longo de sua extensão há colunas com quadros informativos e fotos que contam como foi construído o muro. Em outro trecho há uma parede com fotos e nomes de todas as 138 vítimas do muro, em ordem cronológica.

Para completar o dia, usando o transporte publico fomos até a Müllenstrase, a rua onde fica o trecho mais longo do muro, a East Side Gallery, transformada em uma galeria de arte a céu aberto. São 1300 metros decorados por 118 artistas provenientes de diversas partes do mundo.

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O grafite mais famoso è “ O beijo”. A obra foi realizada pelo artista russo radicado na Alemanha, Dmitri Wrubel.  O nome original do grafite é Mein Gott, hilf mir, diese tödliche Liebe zu überleben (“Deus, ajude-me a sobreviver a este amor mortal”) e tem um grande valor simbolico.

Os dois homens que se beijam são à esquerda um dos últimos estadistas soviéticos, Leonid Brejnev, e à direita, Erich Honecker, último de apenas dois premiês alemães orientais.

A fotografia que inspirou o artista foi realizada por um jornalista francês em 1979 durante a comemoração do 30º aniversário da República Democrática Alemã.

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Brejnev e Honecker não eram homossexuais. Eles eram socialistas e como símbolo de camaradagem, os russos emprestaram o ósculo (beijo) santo da igreja ortodoxa, simbolo de irmandade entre os religiosos desta igreja.

Esse amor mortal, segundo Vrubel, teria se concretizado nas mortes ocorridas entre 1961 e 1989, quando quase 130 pessoas morreram tentando saltar o muro.

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Depois de fotografar a East Side Gallery, esticamos até Oberbaumbrücke uma das pontes neogóticas mais pitorescas de Berlim com vista para a torre de TV e o Homem Molécula no rio Spree.

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Ela foi construída em 1896 para unir Kreuzberg e Friedrichshain e o Homem Molécula é uma obra do artista americano Jonathan Borofsky que representa três corpos que se abraçam, em sinal de união dos três bairros de Kreuzberg, Treptow e Friedrichshain, antigamente divididos entre Alemanha Oriental e Ocidental.

Um mergulho em um passado dolorido

Começamos esse dia explorando Scheunenviertel, ou o “bairro celeiro” no coração de Mitte que antes da Segunda Guerra abrigava uma numerosa comunidade judaica. Nessa zona da cidade os vestígios do passado ainda são evidentes.

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Na tranquila praça Koppenplatz paro para fotografar e refletir sobre a instalação de bronze chamada Der Verlassene Raum (A sala abandonada). Uma escrivaninha e duas cadeiras jogadas no chão indica uma fuga precipitada, inesperada.

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De lá percorremos a Grosse Hamburgerstrasse, onde ficam construções como o belo hospital católico de Sankt Hedwig-Krakenhaus e a igreja barroca mais antiga de Berlim, a Sophienkirche, fachadas de casas onde ainda vemos rastros de balas e um edifício bombardeado transformado em monumento.

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O artista francês Christian Boltanski criou a Missing House, palcas que indicam lares que não existem mais. Nessa rua você também deve observar as calçadas porque nelas encontramos as chamadas pedras do tropeço, que levam o nome e a data na qual judeus foram deportados para os campos de concentração.

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Ainda na Grosse Hamburgerstrasse fica um monumento de bronze dedicado a 13 mulheres vítimas do nazifascismo e o Judischer Friedhof, o mais antigo cemitério judaico de Berlim, transformado em parque na década de 70.

Continuamos o passeio pela Oranienburguerstrasse, que abriga a Neue Synagoge, com sua cúpula dourada. Ela foi inaugurada em 1866 e podia reunir até 3200 pessoas.

Na Segunda Guerra Mundial, esse edificio de culto foi danificado, devido às bombas que o atingiram. Por trás da fachada mourisca fica uma sala de orações e o Centrum Judaicum.

Outro ponto turistico que nao poderiamos deixar de ver em Berlim era o Checkpoint Charlie, que durante a Guerra Fria era posto militar na fronteira entre Berlim Ocidental e Oriental.

Ele ficava na junção das ruas Friedrichstrasse com Zimmerstrasse e Mauerstrasse, ligando o setor americano com o setor soviético.

Com a construção do muro de Berlim, as autoridades da Alemanha Ocidental construíram o check point para registrar a passagem de membros das Forças Aliadas e diplomatas estrangeiros entre a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental.

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Com a reunificação da Alemanha, o posto foi removido em junho de 1990 e a cabine original foi transferida para o Museu dos Aliados. Em seu lugar foi colocada uma reprodução da cabine.

Para quem mora na Itália, como eu, esse lugar também é ligado a uma anedota que envolve o compositor Lucio Dalla. Durante uma turnê em Berlim, ele teria ido de táxi até o Checkpoint Charlie. Sentou-se para curtir o momento e logo depois teria descido de outro táxi ninguém menos que Phill Collins, que estava prestes a afzer show na cidade. Ambos fumaram juntos e depois desse episodio Lucio Dalla teria escrito a canção chamada Futura e os versos:

 “I russi, i russi, gli americani, No lacrime, non fermarti fino a domani
Sarà stato forse un tuono.  Non mi meraviglio. È una notte di fuoco”.

Para conhecer o lado mais moderno de Berlim, fomos até a Potsdamer Platz, famosa pelos seus prédios modernos e arrojados e pelo Sony Center, um complexo composto por lojas, escritórios, restaurantes e cinemas.

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Como fã da sétima arte, nao pude deixar de visitar o vanguardista Deutsche Kinemathek – Museum fuer Film und Fernsehen.

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O local narra perfeitamente o expressionismo alemao, exalta protagonsitas do cinema nacional como Marlene Dietrich e sua amizade com Heimingway e conta o periodo de exílio enfrentado por expoentes do cinema alemão.

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Comer em Berlim

Sem esnobismo, confesso que, para quem está acostumado com a comida italiana e sua tendência a privilegiar alimentos e verduras frescas, os sabores fortes de algumas especialidades alemães são mais difíceis de serem assimilados.

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Sempre provo pratos locais quando viajo e em Berlim não faltou o currywurst, salsicha em pedaços com molho curry por cima, o Eisbein, joelho de porco acompanhado de purê de ervilha e couve e o Schnitzel, escalope de frango que na verdade é comum em outros países também. 

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Até cerveja Berliner Weisse, vermelha e com xarope de framboesa provei, mas sinceramente prefiro aquela tradicional

Para mais informações, consulte o site oficial de turismo da cidade, o VisitBerlin.de

 

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